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Em Pauta

Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/02/2016 07:55
Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa

O Brasil está uma desgraça. Brincando no precipício. Há mais de ano deixou de ser um dos motores da economia mundial e passou a ser um freio. Ajuda o mundo a andar para trás. Em uma semana, a Bloomberg, a Economist e o Financial Times recordaram o triste Carnaval brasileiro de 2016.

É isso, o Carnaval não terá o mesmo samba de anos anteriores. Centenas, talvez milhares de cidades tiveram de cancelar estas celebrações e as dificuldades econômicas foram apontadas como a principal razão para a medida. Será uma festa murcha. O Carnaval da recessão e do desânimo.

Brasília vive seu "esquenta" nesta semana, mas "samba" mesmo, só depois do Carnaval. Dilma foi ao Congresso, participou da sessão solene de abertura dos trabalhos. Um gesto de aproximação com os políticos. No Palácio do Planalto os líderes da base de aliados de Dilma reuniram-se com os Ministros da Fazenda, da Casa Civil e da Secretaria de Governo. Uma tentativa de construir um pacto pelo desenvolvimento. O comando do Banco do Brasil reuniu-se com representantes da agência de classificação de risco Moody's. A única das principais agências internacionais de rating que ainda mantêm o Brasil com o selo de "bom pagador".

Samba mesmo só ocorre na avenida da concorrência mundial, onde algumas empresas brasileiras passaram a transitar com facilidade. Os bônus brasileiros estão pagando juros acima de 5% ao ano, percentual muito atraente em um cenário global de juro negativo.

Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa
Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa

Surge uma tênue esperança para os catadores de lixo.

Há muito os catadores de lixo aguardam uma solução para seus problemas. A Prefeitura só responde com conversas sem efeitos práticos. Mas, agora, surgiu uma tênue luz no fim do lixo. Em novembro, após três anos de negociações, vinte e dois conglomerados empresariais - encabeçados pela Ambev e redes de supermercados – assinaram um acordo com o governo federal para o tratamento de resíduos sólidos.

Pretendem reduzir 22% do volume desses resíduos que chegam aos aterros sanitários até 2018 (uma meta ousada: 3.800 toneladas diárias de lixo). Por outro lado, assinaram o acordo de que auxiliarão a dar corpo às cooperativas de catadores de lixo ou implantá-las onde não existirem. Bota ousadia nisso. Estima-se que existem 600.000 catadores no país, vivendo e trabalhando em condições precaríssimas. Apenas 10% deles estão vinculados a uma cooperativa e, ainda assim, isso quase nada significa.

A prefeitura daqui (e de outros tantos municípios) não oferece treinamento aos cooperados e os afugenta ao invés de tratá-los como cidadãos. As empresas que assinaram o tratado se comprometeram a auxiliar o processo de dar corpo a essas cooperativas. Uma tarefa que exige muito mais que dinheiro.

Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa
Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa

Ferrovia Rumo ALL: acabou o me engana que eu gosto.

Há um ano e meio, quando a empresa de logística Rumo comprou a operadora de ferrovias ALL encontrou problemas. Somente problemas. O mais importante deles foi o financeiro. Em julho de 2014, os analistas do banco BTG Pactual projetavam para a Rumo um lucro de R$ 585 milhões que aconteceria em 2015. O resultado foi um prejuízo de R$240 milhões.

Os novos donos entenderam que a ALL reportava algumas despesas como investimento, o que inflava os resultados e pagava bônus no estilo "me engana que eu gosto". A Rumo teve de mudar todas as práticas contábeis. De 2010 a 2013, considerado o período de maior deterioração da ALL, pagaram nada menos que R$ 60 milhões em bônus à diretoria.

A Rumo quase ficou sem rumo com tamanha desfaçatez. Não é só a Dilma que pedala; no setor privado brasileiro as pedaladas ocorrem com frequência para encher os bolsos dos executivos... e quebrar as empresas. Agora, a Rumo ALL necessita de R$ 8 bilhões para investir, mas além de não encontrar esse dinheiro ainda têm R$ 6 bilhões de dívidas vencendo ao longo dos próximos três anos. O sonho de que algo pudesse ser feito para melhorar a condição de sucateamento de nossa ferrovia se tornou ainda mais distante após a revelação dos números verdadeiros.

Carnaval do Brasil. Já murcharam tua festa mais famosa
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Quando nos tornamos ninguém.

Está em cartaz em outras capitais "Trumbo - Lista Negra". A ironia jamais foi abandonada por Dalton Trumbo (1905 - 1976), o personagem do filme. Alguns dos filmes que Trumbo escreveu falam mais por ele do que qualquer biografia: "A princesa e o plebeu", "Spartacus", "Papillon" e "Johnny vai à guerra" construíram seu nome (e seu pseudônimo).

Baseado na história verdadeira de Trumbo, o filme sintetiza seu calvário do fim dos anos 40 até o começo dos 60, quando foi derrubado do olimpo dos roteiristas de Hollywood para se tornar um dos "Unfriendly Ten" (dez não amigáveis). Acusados em 1947 pelo Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso dos EUA. Trumbo negou-se a responder ao comitê sobre suas ligações com os comunistas norte-americanos. Ele ganhou dois Oscars, um somente recebido pela família 18 anos depois da solenidade.

"Vendemos cada reserva, poupamos cada centavo e nos preparamos para nos tornarmos ninguém", recordou o verdadeiro Trumbo em uma entrevista no começo dos anos 70. O filme é uma eficiente introdução ao grande público de um personagem fascinante de um dos períodos mais histéricos do século XX. Todos os séculos carregam os seus histerismos.

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E somos todos fanáticos...

O fanatismo está crescendo em todos os lugares, em toda parte, não apenas com os mais famosos fanáticos que se tornaram os membros do Estado Islâmico. Está crescendo entre os israelenses, mas também cresce entre a direita radical europeia, entre religiosos fundamentalistas nos Estados Unidos e no Brasil.

O fanatismo algumas vezes começa a partir do contra fanatismo. E esse tipo de fanatismo é o mais difícil de ser detectado. Há outro equívoco em relação aos fanáticos, nem sempre eles alteram a voz. O fanático pode ser diagnosticado não pelo volume de sua voz, mas por sua atitude em relação às vozes dos outros. Há uma frase de um israelense para esse caso: "Onde estamos 100% certos, as flores não podem crescer". E isso é uma verdade não apenas no campo das políticas. Isso é sobre a vida em família, as relações humanas, casamento, filhos...

Nem sempre as bases para o fanatismo estão na falta de esperança ou no desespero. Há outras bases. Ocorre quando um dos cônjuges está muito determinado em mudar o outro. Há elementos de fanatismo nas atitudes de pais em relação a seus filhos. Entre irmãos. Isso é muito antigo. Existe desde antes do islamismo, do cristianismo, antes da política e dos impérios. Nos confrontamos com fanatismos todos os dias. A maioria das vezes nem o percebemos, como no futebol. Mas todos nós somos fanáticos em relação a algo em algum momento.

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