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Em Pauta

Com cabos eleitorais a R$ 100, começa o grande feirão da política brasileira

Mário Sérgio Lorenzetto | 23/09/2014 08:06
Com cabos eleitorais a R$ 100, começa o grande feirão da política brasileira

Chegou a hora do feirão da política

A pequena feira já foi feita quando os grandes partidos alugaram os pequenos partidos. No Brasil, sobram partidos e a imensa maioria dos 32 existentes não tem nenhum compromisso com um conjunto de ideias ou diretrizes. Eles, em verdade, só têm donos e só existem nos cartórios eleitorais. E assim, quase todos nanicos alugam tempo de TV e faturam algum dinheiro com o Fundo Partidário. E para completar a pequena feira, os maiores pagam todas as despesas de campanha dos médios e pequenos.

Mas essa feira é invisível aos olhos dos eleitores e dos agentes de fiscalização eleitoral. A população não vê os feirantes e enxerga apenas as subcelebridades que aparecem na TV, cujo exemplo clássico é o deputado federal Tiririca. Esta é a pequena feira, seus "produtos" já foram negociados e estão à mostra.

Agora é a hora do grande feirão. A contratação de cabos eleitorais que via de regra decidem os rumos das campanhas proporcionais - de deputados federais e estaduais e raras vezes dos majoritários (senadores, governadores e presidente). É uma feira de alta complexidade e organização e nela somente uma mercadoria tem preço: o voto.

O início do grande feirão se dá nos bancos. A difícil tarefa de ludibriar o saque de altas quantias conta com o apoio de gerentes ou de uma vasta quantidade de assessores de campanha, cada um encarregado de sacar menos de R$ 5 mil. De posse de grandes caixas, contendo notas de R$ 50 ou R$ 100, para facilitar o trabalho dos contratadores, os responsáveis por cada região, cidades ou bairros são reunidos. A distribuição do dinheiro tem caráter científico, é feita com dados populacionais do IBGE, eleitorais do TRE e mais os de pesquisas eleitorais. E, assim, a dispersão dos recursos pulverizados é menos vulnerável à fiscalização e pode resultar em maior produtividade.

Com cabos eleitorais a R$ 100, começa o grande feirão da política brasileira
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Confiança e quantidade de votos garantem os cabos eleitorais

Esses contratadores durante o período eleitoral, por 3 a 4 meses, organizam uma vasta rede de líderes de bairros, sindicais e associativos. Nesta hora, da grande feira, já estão montadas todas as "barracas" - os locais onde se darão a contratação de cabos eleitorais. Os organizadores das "barracas" recebem de acordo com dois quesitos: confiabilidade e quantidade. Não existem documentos nem qualquer tipo de papel, apenas confiança. São pessoas experientes e afamadas, conhecidas por todos os políticos e em seus locais de atuação - o segredo da transação é compartilhado por verdadeiras multidões que se dirigem às barracas com seus títulos eleitorais, que são cadastrados para conferência a ser feita com os dados divulgados pelos Tribunais Eleitorais visando aferir a produtividade de cada "barraca". Esta ganhará ainda mais credibilidade se obtiver 40% ou 50% de resultados ou terá sua imagem queimada para a próxima eleição caso o resultado seja inferior a 30% dos votos contratados.

A contratação é feita, na maioria das vezes, usando o critério do pagamento de 50% do que for negociado na reunião que ocorre nas "barracas" e a outra metade após o resultado eleitoral. O valor médio da contratação está em R$ 100, mesmo valor negociado na campanha eleitoral passada, dada as dificuldades financeiras encontradas em todos os comitês eleitorais. Este é um período de grandes dificuldades financeiras, apesar dos números dos Tribunais Eleitorais mostrarem o contrário. As campanhas no Mato Grosso do Sul estão mais legalistas do que nunca, devido à ação dos juízes eleitorais, que cassaram uma grande quantidade de prefeitos eleitos. E devido a esse recente passado, estabeleceu-se um clima de respeito quase perfeito às regras contábeis. Em suma, as finanças estão sendo contabilizadas em nosso estado com elevado percentual e os "caixas dois" estão enfraquecidos.

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Marina promoverá operação desmame na indústria

O economista Eduardo Gianetti é o principal conselheiro de Marina para as questões econômicas. Ele diz a opção para fazer o ajuste econômico brasileiro será pela via mais dura, os compromissos sociais assumidos no programa de Marina só sairão do papel quando tiver o equilíbrio fiscal e a indústria pode se preparar para uma "operação desmame".

Gianetti afirma que a indústria está acostumada a chorar e ser atendida. Também diz que a indústria terá de se acostumar a uma situação em que ela será vitoriosa se for bem na competição. E ela irá bem na competição de mercado se for eficiente e inovadora. Gianetti mostra o pensamento principal de um possível governo de Marina, ao garantir que as indústrias terão de sair da situação em que vale mais a pena ter uma boa rodada de negociação em Brasília, para uma situação em que vale a pena para ela concentrar sua atenção e seus esforços em fazer melhor o que ela faz ou em fazer algo que ninguém está fazendo.

O plano de Gianetti para o governo de Marina está correto. Nos livros e manuais universitários. A realidade é bem distinta. Não existe país no mundo em que a separação governo-indústria ocorra. E essas forças são bem mais poderosas que as aulas do insigne professor Gianetti. Não existe chance alguma do pensamento central de Marina ser concretizado. A indústria continuará entrelaçada com o governo brasileiro.

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Pré-sal: aprender com "doença holandesa" para não quebrar indústria nacional

No final dos anos 1950, foram descobertas as maiores jazidas de gás natural do mundo em Groningue, no norte da Holanda. As exportações de gás explodiram. Enormes quantidades de dinheiro, em várias moedas, entraram na Holanda levando o valor da moeda holandesa, o florim, às alturas. O resultado também foi rápido: os produtos do país aumentaram de preço nos mercados estrangeiros, enquanto diminuía o custo das importações. Essa mudança de valor das moedas levou a um atrofiamento do setor industrial holandês. Não se conseguia exportar nem um mísero parafuso por ser muito caro e importava o parafuso dos outros países que eram mais baratos.

Só há uma alternativa: inovação. O parafuso brasileiro deverá ser de melhor qualidade que o parafuso dos outros países. A outra alternativa está fadada ao fracasso e foi tentada à exaustão por muitos países - fechar as portas para os parafusos estrangeiros, conhecidas como medidas antidumping. É este o caminho que trilhamos sob o comando da obsoleta indústria paulista e de sua Fiesp. Em abril de 2010, a Argentina impôs tais medidas aos calçados, têxteis e aços chineses. Pequim respondeu interrompendo suas compras de petróleo argentino. Buenos Aires não teve outra escolha - bateu em retirada.

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Quando o único imóvel residencial pode ser penhorado

Imaginemos um casal que está sendo executado e, numa tentativa desesperada de salvar seu único imóvel, decide fazer uma doação deste bem de família para seu filho, menor de 16 anos. Some-se a isso o fato de que esta doação foi feita após ambos terem recebido a intimação para cumprimento espontâneo da sentença que os condenou à expropriação para pagamento de seus credores.

Pois bem, em situações normais de temperatura e pressão, este imóvel, único bem de família, não pode ser penhorado, nos termos da Lei 8.009/90. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça decidiu, na semana passada, que, em casos de doações como esta, para fraudar a execução, o único bem imóvel de família poderá ser penhorado.

A endurecida do STJ vai na linha adotada desde 2009 para tentar conter a má-fé dos devedores e as tentativas de fraudes. Além disso, considera o Tribunal que, se o devedor aliena o único imóvel, é porque este não o serve mais e, portanto, pode servir para satisfazer o crédito devido, aliás, direito fundamental do credor.

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O Efeito Lúcifer e a desumanização de alemães e israelenses

A BBC realizou recente pesquisa com 25 mil pessoas de 24 países para descobrir a nação mais popular do mundo e a mais malvista. O país mais popular que existe, visto por incríveis 60% dos entrevistados como "uma influência positiva" para o planeta, é a Alemanha. Já os países mais malvistos, considerados por mais da metade dos terráqueos como uma "influência negativa", são o Irã, Paquistão, Coreia do Norte e Israel. Os alemães, descendentes de Hitler, viraram os fofos do mundo. E Israel, fundado em 1948 em nome da liberdade, da justiça e da paz, com apoio de todas as forças de esquerda e humanistas, disputa hoje a lanterna da vilania global.

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Vivência realizada com universitários explica fenômeno

A tentativa de explicar o fenômeno é dada pelo "Experimento de Palo Alto", quando nove jovens, saudáveis e comuns se voluntariaram para ficar encarcerados por duas semanas numa prisão simulada, montada num porão da Universidade Stanford, em troca de US$ 15 por dia. Os guardas dessa prisão experimental seriam 15 jovens, tão saudáveis e comuns como os nove prisioneiros. Os prisioneiros seriam tratados por números e foram obrigados a referir-se aos guardas como "senhor oficial correcional". Nomes eram proibidos. Ao final do experimento, desapareceram qualquer sinal de humanidade. "Esqueci que os prisioneiros eram gente", contou um guarda. Esse fenômeno é conhecido como desumanização ou “efeito Lúcifer”.

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Rotular pessoas é primeiro passo para desumanização

Um ambiente onde há uma grande desigualdade de poder - como uma prisão – é que se precisa para que ocorra rotulagem e, portanto, desumanização. Os mais poderosos começam a colocar rótulos nos menos poderosos, perdem a compaixão. Os menos poderosos, por sua vez, tornam-se animais para os poderosos e acabam considerando a brutalidade e a violência normais. Lembrem-se: o primeiro passo é colocar rótulos: "reacionários", "comunistas", "petralhas", "tucanalhas", "macacos", "burgueses"... a lista é imensa. E a Alemanha e Israel? A Alemanha virou o país dos fofos por tornar-se uma sociedade igualitária, tolerante e quase totalmente desmilitarizada. Enquanto, no Oriente Médio, os palestinos viraram prisioneiros dos israelenses.

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