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Em Pauta

Do ópio à liberdade, a saga do povo de Hong Kong em relação a Pequim

Mário Sérgio Lorenzetto | 25/10/2014 13:32
Do ópio à liberdade, a saga do povo de Hong Kong em relação a Pequim

Hong Kong: das guerras do ópio às manifestações por maior autonomia

O povo volta às ruas de Hong Kong, novamente, pleiteando maior autonomia em relação ao governo central de Pequim. Esta é uma história muito antiga, construída pelo Império Inglês, quando dominava o mundo.

No início dos anos 1800, a Inglaterra voltou seus interesses econômicos para o Oriente, especialmente para a China e a Índia, devido às suas riquezas e enormes populações. A Índia era um país aberto às vendas dos produtos ingleses e mantinha uma balança comercial muito favorável aos europeus: vendiam muito mais do que compravam da Índia.

No entanto, a China era um país que exportava seda, chá e porcelana para a Inglaterra e não tinha interesse em produto algum da Europa. Apenas um produto parecia despertar o interesse dos chineses: o ópio, uma substância entorpecente, altamente viciante, introduzido ilegalmente na China por ingleses e norte-americanos. O ópio era produzido na Índia e em parte do Império Otomano e os comerciantes ingleses e norte-americanos traficavam-no ilegalmente para a China e muitas vezes usavam de subterfúgios para viciar os chineses, auferindo grandes lucros e melhorando a posição da balança comercial.

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Drogas representavam metade das exportações britânicas

Em 1830, os ingleses obtiveram exclusividade nas operações comerciais no porto de Cantão e a partir dessa província chinesa levaram toneladas de ópio. A droga chegou a representar metade das exportações britânicas. Mas, ela ameaçava seriamente não só a estabilidade social e financeira do país, como também a saúde dos soldados. Foi proibida e queimaram mais de 20 mil caixas de ópio. Esse fato serviu de pretexto para a Inglaterra declarar guerra à China que durou de 1839 a 1860, com um pequeno intervalo. Uma frota composta por 16 modernos navios feitos com aço e movidos a vapor (muito superiores tecnologicamente aos juncos chineses movidos pelos ventos) afundou a marinha chinesa, sitiou Cantão, bombardeou Nanquim e bloqueou as comunicações terrestres com a capital

Pequim. Estava liquidado o embate. Tiveram de abrir cinco portos ao comércio de ópio e entregar Hong Kong aos ingleses.

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Ataque japonês não foi apenas a Pearl Harbor

Hong Kong permaneceu funcionando como um enclave inglês ao longo dos anos. O governo chinês não parava de fustigar esse domínio até a invasão japonesa no início da Segunda Guerra Mundial.

O Japão tinha bombardeado Nanquim e Shangai durante algum tempo. Tudo mudou depois dos ataques de dezembro de 1941 a Pearl Harbor, Hong Kong e Cingapura, quando o governo chinês declarou-se oficialmente em guerra contra os exércitos de Tóquio. O ataque, ao contrário do que apregoa a propaganda norte-americana, não foi apenas contra Pearl Harbor.

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China era invencível

Os analistas militares chineses concluíram que o desfecho seria inevitável: a China era absolutamente invencível devido a seu extenso território e população. Com 6.500 quilômetros entre Shangai e Kashgar e 5.000 entre a ilha Hainan e o deserto de Gobi, ela parecia uma esponja imensa para qualquer exército invasor: podia absorver, envolver e sufocar quantidades sem fim de homens e materiais e, ainda assim, permanecer saudável, íntegra e incólume.

Só restava um problema - os suprimentos para as tropas e população. Um tratado foi feito entre o governo chinês e o inglês: a Inglaterra abriria novos caminhos para os suprimentos necessários e a China aceitaria a entrega de Hong Kong até o ano de 1999 (foram 155 anos de domínio inglês).

Choque de interesses nas ruas de Hong Kong

Tal como no Brasil, as províncias chinesas (similar aos estados brasileiros) eram grandes arrecadadoras de tributos e concediam benefícios fiscais a quem bem entendessem. Essa situação foi alterada invertendo o sentido, os impostos e poder de conceder benefícios passaram para Pequim, em detrimento dos cofres provinciais. Algumas províncias perderam força e dinheiro, especialmente Hong Kong, que construiu

sua fantástica riqueza como o principal entreposto comercial de produtos ocidentais. Por exemplo: até bem pouco tempo, a carne bovina brasileira tinha que "passear" pelo território de Hong Kong para depois ser vendida ao continente chinês. Essa exclusividade comercial trazia enormes divisas a esse povo e um imenso ônus ao governo chinês.

Há de se entender os verdadeiros desejos e aspirações de Hong Kong. Desejam autonomia e livre comércio.

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