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Em Pauta

Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/03/2015 08:25
Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele

O passado é o presente? Ainda existe racismo na seleção de profissionais no Brasil?

A carta de uma ex-aluna para sua professora choca. Ela conta um passado que não é história. Um passado que é presente. Algo que se acreditava que tinha sido abolido pelas leis e pelos bons costumes. O racismo e a intolerância religiosa ainda proliferam no país. "Recentemente tive uma experiência profissional em uma empresa de consultoria de RH da cidade. Tinha como atividade principal realiza o recrutamento e seleção de candidatos para vagas operacionais. Levei meio período para assimilar tudo que acontecia por lá..." E ela continua a denunciar para sua antiga professora: " A falta de respeito ao candidato é absurda e violenta. As entrevistas são realizadas quase que automaticamente, em menos de 10 minutos, enquanto se preenche um parecer pré-pronto. O candidato é excluído por sua religião, seu bairro, e o que mais me chocou, pela cor da pele. O trabalho é feito a toque de caixa, e os candidatos são tratados como mercadorias". "Foi o que me bastou para o restante da “desglamourização” das consultorias de RH".

Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele
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O teto de vidro feminino. Mulheres, peçam aumento.

O momento é ruim para as três mais importantes mulheres da América do Sul. Dilma Rousseff, no Brasil, enfrenta a maior crise dos últimos tempos, nas ruas com as manifestações contrárias à corrupção na Petrobras e sendo obrigada a apertar os cintos em um clima de recessão. Na vizinha Argentina, Cristina Kirchner, se vê exposta com o "Caso Nisman" - um promotor que a denunciou e morreu de uma forma misteriosa. No Chile, Michelle Bachelet tem o próprio filho investigado por corrupção em seu governo. Mas, se a época é difícil para as mulheres que atingiram o posto maior em seus países não se pode esquecer que a corrupção é endêmica na maioria dos governos pelo mundo afora e eles são comandados por homens. A corrupção nada tem a ver com ser mulher ou homem, não é uma questão de gênero.

"Teto de vidro", é uma expressão cunhada em 1980 como uma metáfora para se referir aos empecilhos aos avanços das mulheres no setor privado e segue sendo uma realidade 30 anos depois. A diferença salarial entre homens e mulheres voltou a crescer no Brasil. Enquanto em 2011 o rendimento médio mensal das mulheres era equivalente a 73,7% dos homens, no ano seguinte, esse percentual caiu para 72,9%. Além de salários desiguais, a batalha no mundo empresarial também passa pelo poder nas empresas. Segundo um levantamento feito pelo "Volt", o melhor site de tecnologia e jornalismo de dados, dos 488 cargos executivos principais nas 64 empresas que estão na Bolsa de Valores, apenas 6,5% são ocupados por mulheres.

Mas, a atitude das mulheres tem de mudar. Não basta criticar as empresas, as mulheres devem ser treinadas e se sentirem confiantes para pedir mais dinheiro, para pedir aumentos salariais. Essa é uma atitude comezinha para a maioria dos homens, todavia as mulheres não se sentem tão à vontade e sentem vergonha para exercer esse direito. Jogar o sutiã na fogueira já não adianta mais, o feminismo dos anos 1960-1970 está obsoleto. Neste século, arregaçar as mangas e pedir aumentos, pode surtir mais efeito.

Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele
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Branca de Neve negra? As salas-de-aula onde os negros ainda não entraram.

O Brasil foi formado, e continua a ser composto, por índios, brancos e negros. Todavia, nas salas-de-aulas a supremacia do estudo da história e cultura do continente europeu sempre foi avassaladora. Representa a visão de um país puramente branco. Ignora outras contribuições para a nossa formação cultural.

Criaram uma lei em 2003, doze anos se passaram, que obrigava as escolas do ensino fundamental e médio a incluir no currículo conteúdo programático sobre a África e a cultura afro-brasileira. Em 2008, foi a vez dos índios serem valorizados por uma lei que também obrigou o estudo de sua história e cultura. Tais leis não estão sendo cumpridas - nas redes públicas e privadas. Especialistas no tema apontam o preconceito como um dos fatores para a negligência. Também a falta de preparo dos professores e a má qualidade do material didático ainda são o principal entrave.

O nó górdio da questão do ensino da cultura negra é: como aos alunos será ensinado um conteúdo que os professores, por sua vez não aprenderam? A mudança precisa passar pelos bancos das faculdades. Os livros de história trazem, repetidamente, imagens de negros acorrentados, associando-os exclusivamente à escravidão. Por outro lado, não se pode ter exageros. Já tentaram criar a Branca de Neve negra. Não é assim que iremos levantar a autoestima das crianças.

Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele
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Prefiro os livros às passeatas. O direito ao ceticismo.

O ceticismo, ao contrário do que muitos imaginam, busca se livrar de dogmatismos e de não fazer julgamentos precipitados, duas dentre as maiores doenças do pensamento do século em curso. Questionar incessantemente é a atitude do comum do cético. A outra atitude trivial do cético é a de perguntar. O cético entende que o mais difícil exercício do humano é a pergunta e não a resposta.

A pergunta difícil que deve ser feita é: "são todos os petistas corruptos?". Ou ainda: "os petistas são todos incompetentes?". E a última: " a Dilma deve ser defenestrada do poder?" As mesmas indagações podem ser feitas para tucanos e peemedebistas em seus respectivos afazeres e poderes. A resposta é a mesma para todas as indagações: serenidade. Uma parcela importante da sociedade perdeu a serenidade. Comporta-se como se estivesse vivendo uma hecatombe. Gritaria, zombaria e xingamentos pululam em nosso cotidiano.

Um jovenzinho, mal educado e arrogante, posta um vídeo no WhatsApp e o mundo cai em sua cabeça. Tornou-se viral, odiado por uma multidão. A pergunta que deve ser feita é: "ele não será igual a tantos outros milhares de jovenzinhos com a mesma falta de formação?" Ou então: " ele não pode externar suas parcas e pobres ideias?" Um senhor xinga a mandatária do país de vadia. Outro senhor, ainda mais idoso, grita que ela é mal comida. Nessa situação, a pergunta deveria ser: "a mandatária não é apenas uma mulher inflexível, turrona, que cometeu enormes erros na economia em seu primeiro mandato?" Cabe algum impropério relacionado à sexualidade?

Será que mandar a Dilma fazer dieta na Argentina, só com passagem de ida, não é pior para o Brasil? Quem assumiria em seu lugar seria o vice-presidente Michel Temer. Um político sólido. Mas, como ficaria a imagem do Brasil frente aos capitalistas do mundo todo? Será que desejam uma plêiade de deputados federais e senadores, de má fama, assumindo os ministérios, inclusive o Ministério da Fazenda? Existe a mínima possibilidade de recuperarmos a economia nacional sem o pacote fiscal que tentam aprovar?

Os consensos, que derivam das discussões, são muito inseguros e variáveis. Um consenso obtido no centro de Campo Grande pode ser o oposto daquele que surgiu no Bairro Guanandi. Também podemos admitir que os participantes de uma discussão (ou de uma passeata), algum tempo após terem chegado a um consenso, mudem de opinião, causando ainda maior insegurança. O ceticismo como guia. O direito a questionar as verdades fáceis e simpáticas do momento (sem simpatia alguma ao PT). Os livros dão a serenidade, as passeatas a turbulência. Livre escolha de cada um. Só uma opinião é inaceitável - a ode ao retorno da ditadura.

Exclusão de candidatos a trabalho por religião, bairro e, pasmem, cor da pele
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O homem que conversava com os legumes.

O Restaurante Lê Balzac, em Paris, um dos lugares onde os endinheirados se reúnem, serviu por algumas semanas um menu a 250 euros (algo com R$825) por pessoa. No cabecearia do cardápio estava escrito: "Les Légumes de Monsieur Yamashita". Eram nabos, cenouras, tomates e outros vegetais cultivados por Asafumi Yamashita. Os excepcionais legumes do horticultor, exaltados na imprensa, também frequentam o seleto grupo dos restaurantes Tour Dargent, Astrance, Le Cinq, Itinéraires e Ze Kitchen Galerie. Mas é Monsieur Yamashita quem manda, ele decide o que vender, para quem quiser, na quantidade que estimar necessária e pelo preço que lhe der na telha. Um quilo de seu espinafre sai a 20 euros (algo como R$64), a mesma quantidade de tomate-cereja a 25 euros. O melão, única fruta de seu repertório, chega quase a 100 euros. A produção anual é de escassas 10 unidades. No quintal de sua casa, um espaço de 2.500 metros quadrados, Yamashita mistura verduras, ervas e flores, dispostas em um mosaico. Assim fica mais alegre, ele diz. Dispensa a tecnologia empregada pelos colegas. Faz tudo sozinho com as próprias mãos, ajoelhado na terra.

Os fregueses nunca sabem o que irão receber às terças e sextas-feiras, dias em que Yamashita faz as entregas pessoalmente. Não é fácil comprar do Yamashita. Ele compara a experiência de entregar seus vegetais a algum dono de restaurante à de levar uma filha ao altar. O segredo dele para obter legumes perfeitos e suculentos pode parecer enigmático: um pepino que nasce torto sofreu estresse durante a rotação, diz o japonês. Como um psicólogo de plantas ele procura entender o que cada uma de suas plantas precisa para atingir todo seu potencial - é por isso que, para ele, qualidade é antônimo de quantidade. Ele vê com constrangimento a mania de alguns colegas de adubar demasiadamente a terra, como se isso fosse enriquecê-la. Ele diz que não adianta encher uma pessoa de presentes sem entendê-la, sem saber quem realmente ela é.
O editor do livro que Yamashita lançará sugeriu como título da obra: " O Homem que Conversava com os Legumes", mas o japonês mudou para: " O Homem que Escutava os Legumes".

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