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Em Pauta

Grupo que corta cabeças no Iraque é herança das guerras e do vazio de poder

Mário Sérgio Lorenzetto | 16/09/2014 08:02
Grupo que corta cabeças no Iraque é herança das guerras e do vazio de poder

Estado Islâmico aproveita vácuo de poder e cresce com identidade clara

O Estado Islâmico é um movimento jihadista - um esforço, uma luta para conquistar a fé perfeita e não uma guerra “santa” como apregoam - que controla grande parte da Síria (todo o Nordeste) e do Iraque (todo o Noroeste). É a única força que demonstra coesão, confiança e determinação em uma região caótica e confusa. Ele não constitui em nada um novo Estado, uma vez que rejeita a noção de fronteira e prescinde largamente de instituições. Em compensação, nos diz muito sobre a situação daquela parte do Oriente Médio, sem falar das políticas externas ocidentais que antes de mais nada são oportunistas.

Esse movimento expansionista tem uma identidade espantosamente clara, apesar de ser um grupamento de jovens que saíram de muitos países do mundo. São voluntários que viviam no Oriente Médio Ásia, África, Europa e Estados Unidos. Atuam nos escombros da guerra iraquiana, um punhado de ex-mujahedins da guerra do Afeganistão, uma ex-célula da Al Qaeda são o suporte principal na composição internacional. Uma internacional de fanáticos em busca da fé perfeita.

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Horror começou entre muçulmanos

Eles iniciaram, no começo de suas ações, uma guerra entre os próprios mulçumanos, entre duas correntes dessa fé - sunitas e xiitas - tinham apenas uma lógica fratricida. Sua ultraviolência voltava-se contra os supostos traidores e apóstatas sunitas. Mas sofreram derrotas pesadas. Se o Estado Islâmico agora faz um retorno espetacular à cena litigiosa é devido ao total vazio de poder existente na região. Todos os regimes são inimigos do Estado Islâmico - o regime do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki, do presidente sírio Bashar al-Assad, Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, as monarquias do Golfo, a Turquia, a França e a Austrália.

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Estado Islâmico deixou de ser marginal e é pragmático

Depois de uma década de agitação dos Estados Unidos, Barack Obama optou pela postura inversa, ou seja, um laissez-faire fleumático e altivo, quando a Síria e o Iraque são claramente um viveiro de jihadistas. Em dois anos, não apenas o Estado Islâmico floresceu, mas foi sendo pouco a pouco transplantado, até invadir cidades grandes como Raqqa, FAllujah e Mossul.

Fato importante: é o primeiro movimento no mundo árabe a tirar o jihadismo das margens. Não é mais um movimento marginal e sim central. O outro fator importante que o diferencia de todos os demais movimentos da região é que o Estado Islâmico não ambiciona "conquistar o mundo": é um movimento de consolidação, cuja estratégia é ancorar-se firmemente nos espaços ocupados - é o único movimento pragmático daquele mundo. Negociam tudo, vidas dos ocidentais capturados antes de serem degolados e conquistam poços de petróleo que lhes garantem uma boa autonomia financeira ao contrário dos demais que incendiavam os poços.

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Malthus: teórico do caos

Malthus foi um dos primeiros estudiosos a observar a irracionalidade humana. Seus estudos ensinam que duas leis regem a condição humana: precisamos de comida para sobreviver e a atração sexual é o nosso principal motor. Esse economista britânico, que viveu até 1834, é considerado o pai da demografia por sua teoria para o controle do aumento populacional.

Ele estimava que a população mundial deveria dobrar a cada 25 anos e não encontrava evidência para igual crescimento dos meios de subsistência. O homem morreria de fome, correndo atrás de suas necessidades sexuais. Ele dizia que a propriedade "condenaria a plebe à miséria". A culpa não seria dos pobres, iguais aos ricos no que tange à moral. Ele chegava às raias da crueldade quando dizia que, se um homem não pode sustentar seus filhos, eles devem morrer de fome. E para aumentar a mortandade existem as doenças e as guerras.

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Malthus ainda vive?

Mesmo acreditando no engenho humano, em sua capacidade de inovação, Malthus não viu que a inventividade humana acabou por ser mais poderosa do que ele supunha. Não previu a mudança da base econômica que saiu do milho para o carvão e, em seguida, para o petróleo. Não podia adivinhar a descoberta de novas tecnologias agrárias - o processo de Haber-Bosch para a síntese de amônia, os fertilizantes nitrogenados, as técnicas de reprodução que tornaram a pecuária mais produtiva, a introdução de herbicidas e pesticidas e, finalmente, a "revolução verde" de 1950.

Em sua época, precisavam-se de 2 hectares para alimentar uma pessoa na Europa. Hoje, necessitam-se de apenas 0,02 hectares. No Brasil, bem no nosso país, há uma enorme quantidade de hectares que são usados para alimentar larvas, pernilongos, cupins e um único boi. O descaso é tamanho que não existe medição. Todavia, um número inconcebível de pessoas ainda passa fome. No mundo e no Brasil. Mas a fome não é motivada por escassez de alimentos, mas da falta de dinheiro para ter acesso a eles. Malthus ainda vive?

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Excelência Impa

O pessoal do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e da Associação Brasileira de Ciências (ABC) que foi até a presidenta Dilma Roussef, na semana passada, solicitar 2% do PIB em pesquisas, ciência e tecnologia, em vez dos atuais 1,2%, demonstraram fórmulas e equações para justificar o pedido de verba. Todos têm suas razões. Mas o Impa, além de lógica, tem moral: é centro de excelência mundial na matéria. Basicamente, por três motivos recentes: 1) o ex-aluno e atual pesquisador do IMPA, Artur Avila, tornou-se o único ganhador da Medalha Fields (Nobel de Matemática) formado num país "em desenvolvimento"; 2) o Brasil foi confirmado como sede da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), em 2017; e 3) do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), em 2018.

O Impa foi apresentado a Dilma como um modelo para outros campos do conhecimento, pela flexibilidade administrativa, que permite aproveitar talentos na formação e no recrutamento de pesquisadores nacionais e estrangeiros. César Camacho, diretor do IMPA, não se cansa de divulgar essa característica do instituto, a de não exigir diploma dos estudantes que participam dos cursos, o que atrai candidatos jovens e ajuda a identificação de talentos. Lá, na real, exige-se mérito científico.

A União Matemática Internacional (IMU) dá para o Brasil nota 4, em escala que vai até 5. Na América Latina, o País é o mais bem colocado, tendo os demais, no máximo, nota 2. Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França têm nota 5. Quem for ao Rio, a partir de 2016, poderá visitar o Museu da Matemática, na Barra da Tijuca, desenvolvido pelo Impa, a pedido do Sesi.

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O Nobel da Matemática

Ávila conquistou sua medalha Fields em Seoul, no mês passado. O primeiro ano da premiação foi 1936 e ela é dada a cada quatro anos para de dois a quatro matemáticos. O prêmio é considerado o “Nobel” dos matemáticos e preenche o vazio deixado por Alfred Nobel que não incluiu os matemáticos no momento de sua morte em 1896. Alguns matemáticos acreditam que Nobel omitiu os matemáticos para irritar Gosta Mittag-Leffler, um rival sueco e que o canadense John Charles Fields criou o prêmio para preencher a omissão. Contudo, não existem muitas provas da briga entre Nobel e o sueco. Outros acreditam que Nobel omitiu a matemática por entender que ela não era tão importante quanto a física, a química, a medicina, a literatura, a economia e a paz. Fields não procurou substituir o prêmio Nobel, mas mostrar a unidade internacional dos matemáticos.

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NSA contrata matemáticos

Após a Primeira Guerra Mundial, a comunidade científica estava fracionada pelas rivalidades nacionais. O prêmio não teve reconhecimento no primeiro momento. Um exemplo disso está na história do matemático Stephen Smale, da Universidade da

Califórnia, que em 1966 havia sido, em tese, convocado para depor sobre seu ativismo contra a Guerra do Vietnã e que teria fugido para Moscou. Contudo, o matemático havia viajado para comparecer ao Congresso Internacional em que ele receberia a medalha Fields. Durante a guerra fria, tal atividade foi relacionada como prova de “práticas comunistas” pelo matemático. Seus colegas acadêmicos passaram a defendê-lo e afirmar que ele estava indo receber o “Nobel da Matemática” e, com isso, o escândalo foi abafado. No ano seguinte, Smale usou o prêmio para desbloquear o financiamento que ele havia parado de receber por seu ativismo contrário à guerra. Hoje, o principal dilema político dos matemáticos nos Estados Unidos está relacionado com os escândalos envolvendo a Agência Nacional de Segurança (NSA), que é uma das principais empregadoras e uma grande financiadora dos trabalhos matemáticos.

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