Hoje é dia de São Valentim. Dia dos namorados ou da amizade?

O nosso Dia dos Namorados é uma tradição local muito recente. Somente na metade do século passado "descobriram" o papel de Santo Antônio, nosso casamenteiro. Em todos os países do mundo, 14 de fevereiro é o Dia de São Valentim, cuja tradição é muito mais antiga.

Tudo começou na Roma do século III. Um padre de nome Valentim rebelou-se contra o imperador Claudio II. Deu a louca no Claudio e ele proibiu o casamento. Preocupado com as intermináveis guerras, Claudio, o imperador, argumentou que os casados sentiam saudades da mulher e não agiriam como bons guerreiros (lembra os treinadores brasileiros que proíbem, até os dias atuais, os jogadores encontrarem-se com suas esposas...falta um Valentim para acabar com a idiotice).

Valentim não tomou conhecimento da ordem do imperador e celebrou alguns casamentos. Foi preso e condenado à morte. Na véspera de sua execução, 14 de fevereiro, o padre casamenteiro recebeu uma enorme quantidade de mensagens. Vem daí a tradição do "Valentine´s Day". No início das comemorações, o entendimento era de que este seria um dia para demonstrar afeto, compreensão e gratidão. Esses sentimentos estão presentes no namoro e na amizade.

Essa dualidade ainda subsiste. Em muitos países amigos e amigas saem para comemorar, ao mesmo tempo em que os casais de namorados abarrotam os restaurantes que se ornamentam com luzes de vela, em uma noite de romantismo.

Enquanto o mosquito pica, eles vendem repelentes.

Campo Grande foi tomada pelas chipas. Bares, botecos, restaurantes e até algumas residências estão vendendo chipas. Imaginam que a moda veio para ficar. Ainda não perceberam que o melhor produto para vendagem no momento são os repelentes e mosquiteiros.

Segundo a Nielsen, empresa de consultoria, em 2015, houve um aumento de 50% nas vendas de repelentes em comparação com o ano anterior. O faturamento das fábricas de repelentes chegou a R$ 217 milhões. Só em dezembro/ 2015, quando o medo atingiu todas as camadas da população, o salto na vendagem foi de 230%, um estrondo nunca visto. As fábricas afirmam que estão vendendo tudo que produzem. Não há estoque de repelentes.
A maior rede de lojas de produtos de produtos para cuidados com as gestantes e bebês, teve um aumento de 60% nas vendas de mosquiteiros para berços e carrinhos. Esse bombástico comércio está calcado no desconhecimento das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti - ninguém sabe exatamente como se transmite, como se "pega", quais as complicações geradas e todos querem se precaver, principalmente as mães.

A saga dos Estados Unidos de Thoreau. O avanço dessas ideias com o filme "O Regresso" e a candidatura de Bernie Sanders.

O filme "O Regresso" está levando multidões ao cinema, especialmente jovens. A candidatura de Bernie Sanders à presidência dos Estados Unidos também está criando uma catarse entre os jovens daquele país. Uma mera coincidência? Sim e não. A resposta é dada pelo momento.

Hoje, não existe conexão pessoal entre Alejandro González Iñarritu, o diretor do filme e a candidato Sanders. Iñarritu nega ser um artista político "em vez de subordinar minhas opiniões políticas pessoais à arte, eu preferiria escrever uma carta a um jornal e expressar claramente o que quero e não dedicar dois anos ou três anos para fazer um filme para dizer o que posso dizer num artigo que levaria, possivelmente, um dia para escrever.

Essa negativa de Iñarritu é desmentida por ele mesmo, quando em um discurso, politicamente carregado, propôs que os imigrantes mexicanos declarados ilegais pelos Estados Unidos fossem, em vez disso, considerados "sonhadores sem documentos". Basta lembrar que Donald Trump, o provável opositor de Sanders, apregoa a expulsão de todos os latinos e mulçumanos dos EUA para enxergar a clara postura política de Iñarritu. Ele não pede votos para Sanders, mas ataca frontalmente as ideias xenófobas de Trump. Os dois, Sanders e Trump, aliás, estão presentes no filme "O Regresso", ou melhor as ideias radicais que defendem estão postas no cenário estadunidense. As ideias de Trump não precisam ser apresentadas, a xenofobia é tão antiga quanto os pensadores gregos da Antiguidade. Mas as que embasam uma parte do ideário de Sanders e de Iñarritu vem dos anos 1.800, bebem no pensamento de Henry David Thoreau.

E essa é uma saga pouco conhecida, que caminhou lado a lado, em franco litígio, com o mundo desrespeitoso do faroeste. Glass, o personagem vivido por Leonardo DiCaprio se aproxima de um anti-John Wayne, o símbolo máximo do faroeste que odiava índios e mexicanos - o outro lado da face brutal e xenófoba dos EUA. Glass gosta de olhar as estrelas e sonhar, mesmo vivendo e sobrevivendo em um ambiente hostil e violento. Tal como Sanders, "O Regresso" carrega uma metáfora sobre boas práticas em meio ao capitalismo selvagem e uma lição de superação. Longe da babação do Oscar. Meu voto vai para o urso.

Thoreau, o "pai" da ecologia.

Esse importante pensador norte-americano viveu na mesma época do personagem Glass do filme "O Retorno". Thoreau era um naturalista, historiador e poeta. Ele é um pouco conhecido por seu livro "Walden", uma reflexão sobre a vida simples cercada pela natureza. Ele antecipou os métodos e as preocupações com a ecologia e com o ambientalismo. Mas Thoreau mesmo sendo considerado o "pai" da ecologia, ia à luta, sem jamais aceitar a violência, pelos direitos civis e, acreditem, contra os impostos. Seu outro livro, que adquiriu razoável fama, "Desobediência Civil", preconiza a desobediência individual como forma de oposição legítima frente a um Estado injusto. Especialmente por cobrar uma carga tributária excessiva. O pensamento de Thoreau influenciaram o pensamento político e as ações de personalidades notáveis que vieram depois dele - Liev Tolstói, Mohandas Gandhi e Martin Luther King. Thoreau foi também um notório abolicionista.