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Em Pauta

Lobão, o herói nacional antipetista, e os militares militantes

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/12/2014 08:08
Lobão, o herói nacional antipetista, e os militares militantes

Lobão, o herói nacional antipetista, e os militares militantes

Já houve época em que a banda de rock Legião Urbana dominava os corações da juventude com seu famoso hino que perguntava: "que país é este?" E os jovens respondiam, gritando: " é a porra do Brasil". Época de ascensão dos petistas e decadência dos tucanos.

Hoje, a estrela ascendente, não por suas músicas, mas por sua militância incansável, é o cantor Lobão. Nem Aécio, e muito menos Alckmin, encarnam o antipetismo. O herói do momento é Lobão, o militante que domina o noticiário das passeatas paulistanas que manifestam sua raiva pela derrota nas últimas eleições. E ele é bastante politizado, esclarecido e conhecedor dos caminhos da democracia.

Uma parcela dos manifestantes da Avenida Paulista, de todos os sábados paulistanos, comparece aos atos contrários ao petismo para clamar pelo retorno da ditadura. Entendem que os militares são profissionais apolíticos, apenas técnicos sem coloração partidária.

Lobão, o herói nacional antipetista, e os militares militantes
Lobão, o herói nacional antipetista, e os militares militantes

Soldados sempre lutam de um lado da trincheira

Se pensam que os militares são neutros politicamente, estão equivocados. A caserna sempre teve lado: desde a independência, ela se posicionou e lutou e determinou a existência da República. Na virada do século XX, os partidos e organizações de esquerda levaram suas plataformas para dentro dos quartéis. As Revoltas da Chibata e a dos Sargentos carregaram a influência de intelectuais socialistas e nacionalistas. Em 1918, durante a greve dos funcionários dos bondes e das barcas de Niterói, soldados do Exército se colocaram ao lado dos grevistas e lutaram contra a polícia. O movimento tenentista tem forte influência socialista. Os comunistas, desde o início, buscam de forma intensa, a aproximação com os militares, principalmente os da Marinha. Depois, o Exército. É nesse trabalho comunista que estabelecem os primeiros contatos com Luís Carlos Prestes, já uma figura emblemática para importante parcela dos militares. Na década de 1930, o Integralismo, movimento representativo dos ideais conservadores,

conquista a maioria dos militares brasileiros. E o choque entre esquerda e direita na caserna se perpetua.

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Militares precisam ser ouvidos

Em 1961, tem início uma intensa campanha em defesa dos direitos dos praças. Além de receber uma baixa remuneração, o soldado não pode exercer direitos básicos como casar sem a autorização dos superiores ou votar. Leonel Brizola e grupos trotskistas radicalizam o movimento. A esquerda militar tem consciência de que o governo de João Goulart corre risco. Vem o golpe da direita militar. Os militares, enquanto categoria social, foram os mais atingidos pelo golpe. Alguns militares cassados são apenas nacionalistas ou legalistas. Esses militares cassados sofrem perseguição continuada. Não podem exercer a profissão.

Neste ponto, a ditadura obteve sucesso absoluto. Há um enorme refluxo da esquerda militar. Hoje, os militares estão mais preocupados com aspectos de sua profissionalização. Os chefes militares de hoje não são os chefes militares de Médici. Os militares devem ser ouvidos no processo de construção da nossa democracia. Não podemos continuar alimentando a dicotomia "milico x paisano".

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Novos super-heróis, velhos americanos

Os super-heróis norte americanos podem voar ou contar com visão de raio-X, mas não têm poder de escapar a seu tempo. O tempo pode mais que os super-heróis e chega mesmo a mudar o passado. O Homem de Ferro, símbolo da tecnologia americana, que teve sua origem na luta contra os comunistas do Vietnã, ganhou um novo mito de origem nos anos 2000: nasce nas montanhas do Afeganistão para combater rebeldes mulçumanos. E, como nestes tempos politicamente corretos não cabe mais um super-herói fabricante de armas, ele quer mudar de vida, mas para isso enfrentará um vilão sem pátria: as grandes corporações industriais. O Homem de Ferro, o Capitão América e o Super Homem mudam de roupa, de inimigos e de cenário para acompanhar seu tempo, mas, no fundo, mantém sua essência norte americana: são individualistas como o mais idoso dos cowboys.

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Diferentes inimigos para cada momento histórico

Desde 1935, os super-heróis combatem vilões de todos os tipos nos mais diferentes cenários. Para os EUA saírem da depressão econômica dos anos 1930, só com superpoderes. Missão para o Super-Homem.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler avançava sobre a Europa, mas um capitão norte-americano, denominado Capitão América, interromperia o massacre.

Enquanto os EUA lutavam contra o crescimento do crime organizado, especialmente dos mafiosos, um justiceiro noturno apareceu para defender os cidadãos de "Gothan" (Chicago).

Em 1962, as idolatradas armas nucleares criadas pelos norte-americanos para matar japoneses sofrem uma inflexão. Os testes nucleares começam a ser denunciados, preocupam o mundo, provocam sequelas em milhões de pessoas pelo mundo afora. As mudanças de pensamento promovem o surgimento de uma criatura de força hercúlea - o Hulk.

Feito prisioneiro durante a Guerra do Vietnã, Tony Stark se transforma no Homem de Ferro para derrotar comunistas. Nos anos 2000, a luta contra o comunismo virou negócio do passado, sua história é recortada e ele se bate contra os mujahedins.

Wolverine e outros alunos do professor Xavier enaltecem as conquistas da genética e mostram a nova face dos oponentes dos avanços da ciência: são os X-Men.

Mas existem os mais velhinhos. Nascido nas tirinhas de jornais, o Fantasma, que as novas gerações desconhecem, combateu japoneses e traficantes. Depois, ficou lutando somente contra as drogas e evaporou com o novo mangra norte americana de liberalidade no uso e comércio das drogas.

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V, de Justiça e Liberdade

Super Homem, Batman e Mulher Maravilha enfrentaram um terrível vilão: a crítica da sociedade conservadora. A censura encerrou a era de ouro dos "Comics". Na era Thatcher e Bush, nada melhor que um anarquista em luta contra o totalitarismo que impregnou boa parte do mundo. Com sua máscara que ganharia as ruas nas manifestações em todo o mundo, impelido pelo sentimento de vingança, usando a violência e o terror como arma, o anti-herói lutou nos quadrinhos e no cinema por justiça e liberdade em tempos de governos autoritários e continua a ser a maior fonte de

inspiração da juventude rebelde mundo afora. V de Vingança se tornou a máscara das ruas.

Todos eles e algumas, raríssimas elas, expressaram alguma das guerras que ocuparam as manchetes dos jornais diários norte-americanos. São meros super-heróis fragilizados pelo tempo.

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Umberto, seu cachorro e a história dos aposentados

Uma passeata dos aposentados, em busca de aumento nas aposentadorias, toma as ruas de uma cidade italiana. Entre os idosos, está Umberto, seu pequeno cachorro malhado, Flike, e a necessidade de 20% de aumento, capazes de sanar as dívidas do protagonista idoso.

Com esse pretexto, o diretor de cinema Vittorio de Sica usou uma temática simples, associando à escassez financeira das camadas mais marginalizadas da população a rotina de um idoso e seus problemas financeiros que lhe impedem de pagar o aluguel do pequeno quarto onde reside. Este é o filme "Umberto D".

A relação do aposentado com a dona do quarto é sempre conflituosa e Umberto vende seus últimos livros a preço baixo, ao mesmo tempo que divide seu pobre almoço com Flike. Umberto é constantemente ameaçado de despejo e só a relação de amizade com a jovem empregada Maria, que esconde uma gravidez com receio de ser demitida, traz alguma tranquilidade ao aposentado.

Umberto fica doente, deixa seu cachorro no prédio onde vive e se interna em um hospital. Entre os leitos pouco espaçados, percebemos a dimensão dos inúmeros desabrigados que se apoiam na benevolência das enfermeiras para a manutenção de uma "casa onde morar". Moram nos hospitais o maior tempo que for possível. Umberto sai do hospital e sua volta para a pensão mostra uma reforma em andamento. O idoso vê seus poucos objetos amontoados em um canto. E o pior, descobre que seu cão está desaparecido.

Mas Umberto não conhece os macetes dos desabrigados, resta-lhe um senso de dignidade, que o incapacita de pedir dinheiro nas ruas. O não reajuste de sua aposentadoria, porém, o aproxima ainda mais do grupo dos "sem teto". Umberto havia trabalhado durante trinta anos no Ministério do Trabalho e reluta muito em pedir ajuda financeira a um antigo companheiro de trabalho. Ele está a todo momento relutando entre

viver nas ruas ou em um asilo para idosos. Mas o filme trata em primeiro plano da relação entre um idoso e o único bem que lhe resta - seu cachorro.

Em outro cenário, em outra época, em outra adversidade - é a mesma história dos aposentados brasileiros?

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