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Em Pauta

Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/12/2014 08:05
Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza

A primeira batalha contra o mosquito

Enquanto a Europa se preparava para a II Guerra Mundial entre os homens, no final dos anos 1930, no Brasil, ocorria o início da guerra dos homens contra os mosquitos. Ele tinha nome - "Anopheles gambiae" - e era o grande responsável pelas vidas ceifadas de milhares de cidadãos pela malária. O primeiro surto de malária registrado ocorreu em 1930. O palco inicial da guerra se deu no Rio Grande do Norte deixando uma trágica marca, com mais de 5 mil mortos e, em seguida, no Vale do Jaguaribe, no Ceará, onde a mortandade foi ainda maior, com 8 mil óbitos. Os mosquitos ganharam as primeiras batalhas.

As práticas iniciais de combate ao mosquito consistiam em ações de drenagem e utilização de petróleo para matar as larvas dos mosquitos. A partir de 1939, outro produto foi empregado: o verde-paris foi utilizado em larga escala no ataque às larvas. Em 1942 foi considerado erradicado o mosquito transmissor da malária. Esse fato marcou a história da malária no país e abriu uma perspectiva de erradicação da doença no mundo via eliminação de mosquitos.

Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza
Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza

O retorno da malária

Mas ela retornaria. Entre 1942 e 1945, foi dado início ao "método Pinotti". Deixaram de caçar mosquitos e passaram a administrar medicamentos antimaláricos. O resultado foi promissor apenas no início. Em seguida, apresentaram o DDT, inseticida utilizado por cientistas como a arma mais eficaz de combate à malária após o término da II Guerra Mundial. O DDT era uma "bomba" da artilharia alemã, usada inicialmente para controlar o tifo e depois teve grande sucesso reduzindo bastante o número de casos de malária. As "bombas" de DDT foram consideradas revolucionárias pelos cientistas porque eram altamente tóxicas para os mosquitos, ofereciam baixa toxidez para o homem e tinha ação prolongada e baixo custo. Uma beleza!

Mas, a "aviação" de mosquitos retornou após ser dada como extinta. Descobriram que eles criavam resistência ao DDT. A artilharia de DDT novamente perdeu a batalha.

Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza
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A guerra do homem com a natureza

Um novo "método Pinotti" começou a ser usado para o combate à malária - sal de cozinha misturado a um medicamento denominado cloroquina. No início, a ideia era apenas controlar os surtos de malária, mas com a aparente eficácia do método ele começou a funcionar como elemento erradicador. A transmissão seria interrompida no período de três a quatro anos, esgotando-se, assim, os parasitas nos mosquitos.

A campanha de erradicação da malária em nível global não teve êxito. A malária não foi erradicada no mundo. As causas e os motivos desse fracasso não são reconhecidos pelas autoridades e cientistas. As batalhas entre os cientistas e os mosquitos não terminaram. Mas, há algo que deve ser pensado: as transformações biológicas são quase proporcionais aos progressos científicos. E mais importante: as guerras entre os homens e os mosquitos são na verdade a guerra entre o homem e a natureza. E o resultado não é promissor como tem sido tratado. Novas variantes bem mais complexas devem ser pensadas. Aviação de mosquitos contra artilharia química só produz vitórias momentâneas.

Malária: a história da grande guerra do homem com a natureza
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O camelo venceu a roda na África e a contribuição do africano para a criação do gado no Brasil

Há um equívoco quando contam a relação da África com o Brasil. Os africanos trouxeram bens, instrumentos, técnicas de mineração, técnicas de criação extensiva de gado, vegetais, enfim, uma infinidade de elementos. Mas mantemos a tendência de falar apenas em escravos oprimidos, o quilombola resistente ou a mão de obra submetida a todo tipo de exploração. É tristeza, dor, sofrimento, de um lado. Do outro, só existe cantoria, dança, alegria exagerada. Esses opostos formam um estereótipo na imaginação do povo. É muito pouco.

Tudo inicia com a derrota da roda no deserto. Cria-se a percepção de que o africano não usava a roda e assim era um povo atrasado. Não é verdade. A roda não conquistou o Saara por causa da maior eficiência do camelo, imbatível na disputa com qualquer tipo de veículo sobre roda no deserto. O camelo é mais resistente, mais eficiente

para enfrentar o deslocamento da areia, e tem força para carregar grandes volumes. A roda perdeu para o camelo nessa região. E nem por isso eles eram atrasados. As avenidas de Benin eram mais largas e belas que as de Amsterdam. As casas da Guiné eram tão confortáveis quanto as da Inglaterra.

No Brasil, onde está a contribuição dada pelos africanos para o desenvolvimento da criação extensiva de gado? Onde estão os grandes artesãos, artífices e profissionais negros que foram fundamentais na vida do país. Quem conhece a história dos irmãos Antônio e André Rebouças como engenheiros? André é um dos principais nomes da engenharia brasileira no século XIX. Há de se repensar e estudar essa história muito mal contada e eivada de preconceitos até hoje.

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Gilgamesh, o primeiro herói da história dos homens

Três mil anos antes de Cristo. Existiu, na Mesopotâmia, uma região que une a Turquia, o Iraque e a Armênia, o denominado "Berço da Civilização”, um rei chamado Gilgamesh, que chegou a protagonizar os primeiros poemas épicos conhecidos da história da humanidade. Realidade ou mito, sua aventura é a primeira grande obra da literatura universal, inclusive anterior à Ilíada. Estes fatores o converteram no nosso primeiro grande herói.

Segundo os relatos, Gilgamesh era um rei-guerreiro, um monarca opressor e abusivo que cobrava a "ius primae noctis" sobre as donzelas de seu reino (a perda da virgindade). Perante as súplicas do povo indefeso, os deuses criam Enkidu para enfrentar Gilgamesh. Enkidu é um ser extraordinário, que vive rodeado por animais (estudiosos comparam sua inocência primitiva com a do Adão da Bíblia). Em seguida, uma prostituta é enviada para humanizar Enkidu, mediante o sexo primeiro e depois mediante os costumes civilizados, roupas e alimentos (seria a Eva?).

Logo, Gilgamesh e Enkidu travam um duro combate. Mas, ao invés de termos um vencedor e um vencido, surge entre eles uma grande amizade, e decidem viajar aos bosques de cedro para matar um gigante divino, em busca da fama imortal. Os deuses decretam a morte de Enkidu como castigo a seu atrevimento, e Gigalmesh, privado de seu companheiro, enlouquece e conhece o medo da morte. Foge de sua cidade em busca da vida eterna, e nesta viagem encontra uma deusa que administra uma taverna no confim do mundo, que lhe fez enxergar que ninguém pode escapar da morte. Ela diz a Gilgamesh que ele deve retornar a sua cidade e encontrar o sentido da vida. Logo, ele encontra um

home denominado Uta-napishti (o Noé babilônico) que lhe relata a história do dilúvio. Gilgamesh, enfim, se dá conta de que não existe maneira de conseguir a imortalidade.

Gilgamesh retorna a sua cidade transformado: a epopeia de suas viagens faz conhecer sua história e a conquista da sabedoria.

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