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Em Pauta

O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

Mário Sérgio Lorenzetto | 10/08/2015 10:07
O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

O que esperar da manifestação de 16 de agosto?

Todas as últimas manifestações guardam uma ambiguidade fundamental. Parecem expressar o jogo da direita, mas abrem ainda mais o jogo da política; retiram o poder de Dilma e do Executivo, transferindo-o para o Legislativo e o Judiciário. Qualquer que seja seu resultado numérico, com pouca ou muita gente nas ruas brasileiras, as manifestações mostrarão que o problema, no momento, é o PT. O partido perdeu a curva da história. O PT é uma força nacional. Representa e molda interesses estratégicos de parte substancial da sociedade. E ele está desalinhado e em franco recuo.

Talvez ainda demande mais um tempo, mas está se formando um consenso entre economistas, empresários e alguns raros políticos bem postos no país de que o chamado pacto social estabelecido pela Constituição de 1988 chegou ao limite. É provável que a crise do PT leve ao fim desse pacto. Os ventos saudáveis de uma nova Constituinte começam a surgir nos céus do país. Finalmente, começam a entender que a sociedade de hoje é muito complexa, com interesses contraditórios. Não podem ser movidos pela hegemonia de um partido, seja ele qual for. Também começam a entender que a fragmentação do PSDB tem conduzido o país à falta de serenidade e de diálogo. O PSDB está rachado em três nomes. Aécio Neves não sabe o que fazer com o país, aliás, nem mesmo entende o que é o país. Alckmin é a força representativa da serenidade, mas tem alguma dificuldade de convencer seus pares tucanos de uma liderança totalizadora. José Serra sabe. Se Serra, e não Aécio, tivesse concorrido, ele teria ganhado de Dilma. É em Serra que algumas forças começam a depositar confiança para a condução do país. Todavia, os bastidores também são movidos pela força de Lula, que ainda se sustenta acima do PT.

Só Serra, Lula e FHC conseguiram entender o jogo do empresariado brasileiro. As grandes empresas brasileiras não são meras peças de um xadrez. Elas são o xadrez. E quando a Fiesp e a Firjan, entidades empresariais que representam os dois principais polos industriais do país, São Paulo e Rio de Janeiro, divulgam que "a situação é a mais aguda dos últimos 20 anos e sugerem a busca de uma solução deixando de lado ambições pessoais ou partidárias para mirar o interesse maior do país". É preciso parar, é preciso haver entendimento para superar a crise. Não apenas entre os trânsfugas da Câmara de Deputados, mas entre todos os poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - e entre todas as forças representativas do Brasil. Parar com a aventura. Construir um novo consenso que só uma nova Constituinte pode nos legar.

O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?
O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

Brasil tem uma das maiores jornadas semanais de trabalho do mundo.

O Ford T, automóvel produzido em 1913, revolucionou o capitalismo mundial. Introduziu linhas de montagem capazes de diminuir o tempo de fabricação dos veículos de 12 horas para apenas 90 minutos. Essa mudança radical possibilitou a diminuição dos preços e a massificação dos automóveis. Esse modelo industrial foi levado a praticamente todas as fábricas do mundo, de automóveis ou de pregos. Hoje, fábricas como a da Hyundai, em Ulsan, na Coréia do Sul, são capazes de montar um carro em inacreditáveis 12 segundos. Você fecha os olhos e, em seguida, os abre e um carro está pronto. Essa nova revolução é devida à robotização. É isso mesmo, a montagem de um carro, em um século, saltou de 12 horas para 12 segundos.

Mas, também, é verdade que toda essa transformação não chegou ao Brasil. A imensa maioria das nossas fábricas são obsoletas e dependentes do trabalho braçal. "O Brasil tem uma das maiores jornadas de trabalho legais do mundo, com a possibilidade irrestrita de horas extras", afirma Cássio Calvete, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele também diz que "O aumento [pequeno] da produtividade permitiria a redução das horas trabalhadas, mas isso não acontece por conta das empresas, que desejam lucros cada vez maiores".

O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?
O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

Aumenta o número de brasileiros insatisfeitos com o trabalho.

A Organização Mundial do Trabalho (OMS) estima que 7% da população mundial - em torno de 400 milhões de pessoas - sofrem de depressão. No Brasil, essa doença está em décimo terceiro lugar na colocação entre as principais causas que provocam afastamento do trabalho, de acordo com os dados deste ano do INSS.

Os problemas são motivados por longas jornadas de trabalho e excesso de tarefas. Os estudos do "International Stress Management Association" (Isma), que tem sucursal brasileira, indicam que em diferentes segmentos o índice de insatisfação chega a 72% dos entrevistados. As pessoas não conseguem dar conta das atividades exigidas pelas empresas, e isso desequilibra a vida profissional e pessoal, o que leva à má alimentação, menos tempo de sono e falta de atividades físicas. Aspectos como salários baixos e falta de reconhecimento dos chefes são algumas das principais reclamações. E tende a piorar com a crise econômica, pois a perspectiva de trocar de emprego caiu bastante, bem como a expectativa de aumento salarial.

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O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

"Orgulhosamente Sós": o protecionismo abusado da indústria cobra a fatura.

A indústria vale 11% do PIB brasileiro. Número aproximado se repete há décadas. Por quê? A resposta é que a indústria em época de queda de consumo dos brasileiros não tem competitividade com os concorrentes de outros países. O brasileiro mais viajado irrita-se com o preço dos automóveis que custam o dobro do preço na Europa ou nos EUA. O preço de uma mera garrafa de vinho é, em média, 84% mais caro que nos países europeus. Os jogos de videogame custam o triplo do que nos EUA.

País mais protecionista do mundo - desde 2008 nenhum governo criou tantas medidas de salvaguarda como o brasileiro. Das 154 medidas protecionistas mundiais que ocorreram no ano passado, um terço saiu de Brasília. Agora, o Brasil começa a pagar a fatura de seu "orgulhosamente sós". O lado perverso de tanto protecionismo em um mundo que vende até "espirro" em um milésimo de segundo de um continente para outro. Uma indústria voltada apenas para o consumo dos brasileiros não se sustentará nas próximas décadas.

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O que esperar de 16 de agosto se as últimas manifestações foram ambíguas?

A ideia do "Orgulhosamente sós" atingiu o futebol brasileiro.

Está escrito na lápide do futebol brasileiro: 7X1. Ao contrário do mundo da bola desenvolvido, no Brasil nem há Liga de Clubes. É a CBF - Confederação Brasileira de Futebol - que organiza, mal e porcamente, o Brasileirão. Um reles campeonato, quando comparado aos europeus. A CBF, e suas insignificantes Federações, é a entidade cujo atual presidente, Marco Polo del Nero, não sai do país porque tem medo de ser preso. Seu antecessor, José Maria Marin está preso em um calabouço suíço. O antecessor deste, Ricardo Teixeira, passou algum tempo fugido em Miami. E seu sogro, também ex-presidente da CBF, João Havelange, foi exonerado do cargo de presidente honorário da FIFA por corrupção.

Treinadores semialfabetizados. Jogadores medianos mimados com salários incompatíveis à realidade nacional. Os clubes não são sociedades anônimas desportivas. São geridos por dirigentes, que na quase totalidade se interessam pelos cargos apenas pelas vantagens pecuniárias. São obsoletos, mendigam reduções de impostos, gastam sem planejamento algum e quem vier a seguir que apague a luz e feche a porta.

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