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Em Pauta

Os políticos e os mosquitos

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/02/2016 08:46
Os políticos e os mosquitos

Os políticos, tradicionais festeiros no Carnaval, desta vez, ficaram em casa. Mas o povo não perdeu a ironia, apesar das seguidas derrotas que o Brasil vem sofrendo - contra o desemprego, contra a inflação, contra a recessão... façam suas listas de derrotas. Mas os políticos continuam brincando com os votos e, em troca, a população fez com que os políticos se transformassem em fantasias.

Dilma Roussef virou Dilma Zika, em alusão ao terrível vírus. Aécio Neves, o pretenso líder da oposição, foi rebatizado pelos foliões de Aécio Aegypti, versão do nome científico do temido mosquito Aedes Aegypti. O inimigo de estimação de Dilma, Eduardo Cunha, foi chamado Chikun Cunha, variante de chikungunya, outra das doenças difundidas pelo mosquito. Os camarotes onde os políticos um dia pulavam o Carnaval podiam estar às moscas, mas eles sofreram uma mutação e transformaram-se em incômodos mosquitos. Todo poder aos mosquitos, aliás, aos políticos.

Os políticos e os mosquitos
Os políticos e os mosquitos

Linchamentos: todo mundo sai cego e banguela.

O brasileiro pouco confia em suas instituições. Somente as forças armadas e a igreja católica receberam percentuais acima dos 50% na pesquisa concluída pela FGV. Partido políticos e Congresso Nacional receberam, respectivamente, 6% e 15% dos votos de confiança. A polícia tão somente 31%.

Cerca de um milhão de brasileiros já participaram de linchamentos ou de tentativas de linchamento. Há outros milhões que participam, alegremente, de linchamentos de caráter moral - executam em praça pública, na internet e nos jornais, a honra das pessoas. Não surpreende, segundo a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 50% da população está concorde com a sentença: "bandido bom é bandido morto".

Os linchamentos mostram a complexidade da crise de confiança nos governos, a perda da legitimidade das instituições e a deterioração da ordem social. É um clichê de "limpeza social", um cenário que justifica a posição do Brasil como o país sem guerra declarada no qual há mais assassinatos e linchamentos. Na visão do justiceiro que acredita nos linchamentos, na ideia do olho por olho, dente por dente, todo mundo sai cego e banguela.

Os políticos e os mosquitos
Os políticos e os mosquitos

A maior flor do mundo.

Dois jovens invadiram a casa da professora Dagmar, a Tia Dag, e mataram o pai dela a tiros. Na época, Tia Dag participava de um trabalho dedicado a estimular a aprendizagem de crianças carentes. O destino esfregava a ironia da situação em seu rosto. Ela pensou em desistir do trabalho e se afastou por um mês. Até que recebeu uma ligação de um de seus alunos: "Tia Dag, a senhora quer que a gente mande matar o menino que atirou em seu pai?" A professora viu na ameaça à vida do assassino de seu pai uma convocação, e resolveu voltar. O menino que telefonou "prometeu me esperar com a maior flor do mundo: um girassol". O mundo precisa de girassóis. Vingança e justiça são muito diferentes, talvez antagônicas.

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Os políticos e os mosquitos

A maior guerra do século XXI travada no Congo.

A vida no Congo é de uma procura incessante de desaparecidos e recolher corpos no rastro de ataques que ocorrem com frequência assustadora. Em quase duas décadas, os confrontos no país deixaram nada menos de 6 milhões de mortos.

É o maior e mais sangrento conflito desde a Segunda Guerra Mundial. Produziu mais vítimas que todos os combates e atos terroristas somados. É o holocausto africano. Mas pouco se houve falar sobre ele porque ocorre na floresta densa de um continente esquecido. Não mata brancos e não ameaça o Ocidente.

As chacinas de homens, os estupros de mulheres e os sequestros de crianças, são as principais armas no Congo. Servem para humilhar o oponente e "enviar um recado": não entre em minha área. É uma guerra travestida de conflito étnico, mas que esconde interesse financeiros - os trilhões de dólares enterrados no solo do Congo.

Ele é o país mais rico da África em recursos naturais. Ouro, diamantes e coltan (um minério que contêm tântalo, usado em celulares e tablets) são contrabandeados para os vizinhos Ruanda, Uganda e Burundi que enviam para os Estados Unidos, Europa e China, que lavam as mãos sobre a procedência. Os soldados são desleixados e maltrapilhos. Armados com fuzis, cintos de balas à tiracolo e os indefectíveis óculos Ray Ban. Aparentam ter 11 a 12 anos, mas nesse país ninguém sabe a idade. São crianças velhas.

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Os políticos e os mosquitos

O Congo já foi um dos países mais ricos e cultos do mundo.

O Congo surgiu como reino em 1350. Tinha 300 mil quilômetros quadrados, uma população de três milhões de habitantes e era centralizado com uma monarquia sagrada, mas eleita pelo povo. Não havia país europeu com todas essas condições. Os congoleses, agricultores e comerciantes, eram famosos pela forja do melhor ferro do mundo e produziam excelentes tecidos, perdendo apenas para as sedas chinesas. Também se destacavam pela produção de objetos de cobre, chumbo, armas e de cerâmica. Sua religião predominante, era a do culto aos antepassados, assemelhada à dos romanos imperiais, chineses e japoneses.

Toda essa cultura e riqueza começou a ser transformada em 1482. Uma expedição naval portuguesa comandada por Diogo Cão, saiu do Atlântico e chegou ao rio Congo. Os portugueses ficaram impressionados com a "grandeza e riqueza do reino". Segundo eles, da costa atlântica à capital do Congo, Mbanza Congo, o trajeto era "seguro, estava limpo e bem mantido e em cada área havia grandes quantidades de alimentos". O soberano era Nzinga a Nkuwu.

A partir desse primeiro contato, em 1487 foram firmados acordos de amizade e colaboração. Em 1489, Nzinga a Nkuwu enviou uma embaixada a Lisboa e pouco depois, mandou jovens de sua corte estudar em Lisboa. Formaram um partido católico português, os "esicongo". Mas a maioria da população rechaçou a nova religião dos portugueses e até o rei se negava a aceitá-la porque proibia a poligamia.

Debilitado, o rei consentiu a organização de um sistema para exportar escravos. Em sua morte, em 1506, deveria sucedê-lo um dos filhos, que não era católico, apoiado pelos tradicionalistas e contrário à organização escravista. Outro filho do rei, Mvemba Nzinga, católico, derrotou o irmão com o auxílio dos portugueses. O Congo entrou em convulsão.

O novo rei era um religioso obsessivo, surpreendeu até os portugueses por sua religiosidade. Mandou queimar os objetos de culto tradicional e proibiu sua posse sob pena de morte, construiu numerosas igrejas e escolas para crianças da nobreza com professores europeus. Trocou inclusive o nome da capital que passou a ser denominada de São Salvador. Tudo isso era pago com o envio de escravos a outros países, principalmente à Europa e América Central. A economia do rico país foi subvertida.

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