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Em Pauta

Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

Mário Sérgio Lorenzetto | 12/07/2015 13:16
Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

Na Bolívia, o Papa Francisco ouviu por mais de uma hora inúmeros excluídos - catadores de papel, indígenas, pobres trabalhadores rurais e urbanos e clamou contra as injustiças. Ele pediu trabalho, teto e terra para todos. "São direitos sagrados. É preciso lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja ouvido na América Latina e em toda a Terra". O Papa entende que os excluídos podem ser os protagonistas da salvação do planeta. "O que posso fazer eu, catador, lixeiro, reciclador, frente a tantos problemas se mal ganho o suficiente para comer? O que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, caminhoneiro, trabalhador excluído se nem sequer tenho direitos trabalhistas? O que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que mal posso resistir o avassalamento das grandes corporações? O que posso fazer eu, desde minha vila, meu barraco, meu povoado, meu assentamento, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? O que pode fazer o estudante, o militante, o missionário que percorre as favelas e periferias com os corações cheios de sonhos, mas quase nenhuma solução para meus problemas? Entre muitos aplausos, o Papa Francisco respondeu a suas próprias indagações: "Muito! Podem fazer muito. Vocês os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podem e fazem muito. Ouso dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, em suas mãos, em sua capacidade de organizar-se e promover alternativas criativas, na busca cotidiana dos três "T" -trabalho, teto e terra. Não se intimidem".

Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.
Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

As profundas provocações do Papa Francisco tirarão a Igreja Católica da inércia?

As provocações do Papa Francisco são realizadas em um tom que aparenta a ingenuidade ou a inocência. Mas, elas são profundas. Ele não ataca aquilo que é considerado dogma de fé ou moral. Ele o faz de forma oblíqua, olha para cada caso concreto da vida, olha para a realidade....e provoca. Começou com o tema tabu e que provocou um derrame nas contas do Vaticano e na sua força moral. Atacou frontalmente a pedofilia praticada por padres e bispos, com essa atitude, retirou um dos maiores dramas da igreja do cenário. Em seguida, veio a abordagem do tema do homossexualismo praticado no mundo todo, em todos os tempos. Uma frase de efeito pronunciada pelo Papa reabriu as portas da igreja para milhares de homossexuais. O Papa disse "quem sou eu para julgá-los se Deus não o fazia".

Em seguida veio a questão do divórcio. Disse que "existem formas diferentes de família". Deu a entender que se preocupa com o drama de milhões de famílias que são profundamente católicas e não conseguem manter o casamento. Eles são execrados pela igreja que lhes nega o sacramento de um segundo matrimônio. Continuam participando das missas, confissões e até comungam, mas não recebem o "aval" da igreja. Ele mostrou a hipocrisia do Tribunal da Rota Romana que anula o casamento de ricos e de famosos. O Papa deixou claro que sabe houveram inúmeros casuísmo desse tribunal facilitando divórcios travestidos de "anulações". Em muitos casos usou o termo "falta de discernimento" para aceitar o divórcio. Em outros concordou com a "dificuldade de ser fiel no matrimônio". Se essas desculpas não bastassem, há muitos casos de divórcio aceitos pelo tribunal usando o argumento de que o "casamento não fora consumado sexualmente", mas os casais apresentavam muitos filhos.
O Papa Francisco bem sabe que terá de remover um Himalaia, não apenas uma mera montanha, para que a igreja aceite o divórcio, pois considera o matrimônio religioso indissolúvel. Todavia, ele não ignora que hoje quase a metade dos casamentos entre católicos já se romperam pelo menos uma vez. No meio do dogma e da realidade o que faz o Papa? Defende os filhos dos casais divorciados: "para afastar os filhos da violência e da exploração". São provocações, mas têm uma profundidade que nenhum outro Papa, dos tempos moderno e contemporâneo, conseguiu chegar.

Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.
Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

Quando a moda era o amor adúltero.

As elites de Campo Grande vivem intensa movimentação, muitas esposas estariam traindo seus maridos. Um sinal da liberação feminina do século XXI? Não. As elites medievais vivenciaram uma época em que o amor adúltero tomou conta das sociedades na fronteira da França com a Espanha. Era a denominada "cultura trovadoresca", uma moda que teve início nos fins do século XI. Um nobre denominado Guilherme de Aquitânia com suas canções amorosas se converteu em uma autêntica manifestação cultural e social que superou o âmbito da literatura e das artes.

Os trovadores eram, em geral, nobres que se dedicavam a escrever e difundir suas composições poéticas e musicais nas diversas cortes da região. Era uma nova forma de escrever e recitar textos que utilizavam pela primeira vez na história as línguas populares e não o latim. Os poemas também cantavam um tema novo: o "amor cortês", uma maneira de entender o amor essencialmente adúltera. Em verdade, a maioria dos trovadores foram o que chamaríamos hoje de rebeldes. O citado Guilherme de Aquitânia era um cruzado derrotado que foi excomungado pela Igreja Católica por suas incontáveis aventuras extraconjugais e por afrontar a Igreja. A noção de amor cortês que pregava entrava em conflito com a moral cristã imperante, já que o adultério era pecado, mesmo que fosse apenas platônico. Mas muitas vezes foi consumado.

Sobre esse pecado escreviam homens e mulheres, trovadores e trovadoras. María de Francia e a Condessa de Día passaram para a história como as mulheres mais famosas por cantar o amor cortês, o amor adúltero. A finalidade era precisamente abolir as fronteiras sexuais. "Meu senhor", diziam os trovadores ao dirigirem-se a suas amadas, dando lugar a uma novidade social até então desconhecida. Guilherme de Aquitânia fez provocações inconcebíveis para a época: atacou e ridicularizou as damas que iam para os conventos. Campo Grande pode ter muitos casais na elite ou nos bairros mais distantes praticando o amor adúltero, mas não o canta em verso e prosa (só divulga, com dose elevada de maldade, no WhatsApp).

Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.
Papa Francisco e os três "T": trabalho, teto e terra.

A relação dos cereais matinais com a masturbação.

A nossa humilde tigela de cereais matinais apareceu pela primeira vez, na década de 1890, como um "tratamento para pacientes" com doença mental que se masturbavam exageradamente. O Dr. John Harvey Kellog acreditava que a falta de açúcar e especiarias reduziria o desejo sexual de uma pessoa. Foi o irmão dele Will Kellog, que polvilhou açúcar em cima do cereal e fez fortuna com a marca Kellog´s. Cada tigela de cereal precisa de um pouco de leite, mas isso só foi possível depois que os humanos domesticaram os animais na revolução agrícola neolítica. Em verdade, um gene específico que sofreu mutação há 6 mil anos, permite que muitas pessoas bebam leite de vaca sem sofrer com flatulências (ainda hoje a maioria das populações não tem esse gene).

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