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Em Pauta

Para quando o ano começar: Carnaval na empresa e governo

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/01/2014 08:07
Para quando o ano começar: Carnaval na empresa e governo

Um Carnaval na empresa e no governo

O Carnaval na Idade Média sintetizava o conteúdo de todas as festas de inverno. Também concentrava muitos ritos e elementos contidos nessas festas invernais – representação do paganismo frente ao cristianismo e filho pródigo do cristianismo, pois não teria existido sem a ideia de Quaresma. O Carnaval era precedido pelas comilanças da quarta-feira “gorda” e alcançava sua culminação no domingo, segunda-feira e terça-feira anteriores à quarta-feira de cinzas, data do começo da Quaresma.

Suas práticas lúdicas e injuriosas, suas manifestações de crítica e sátira social e política, sua inversão de valores, adquiriram formas e intensidades diversas, que sempre eram concluídas com seu enterro, depois de ter sido derrotado pela Quaresma. Formam-se as linhas de batalha.
Os peixes de Dona Quaresma de um lado, contra as carnes, os ricos vinhos, os queijos de Don Carnal. Quem vence a batalha é Dona Quaresma, como não podia deixar de ser, mas Don Carnal escapará de seu cárcere depois de passar o tempo de sua expiação e, acompanhado do outro “imperador” que comanda a humanidade, Don Amor, será recebido na segunda-feira de Páscoa.

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Festa permitia contraposição ao incriticável

O Carnaval permitia a crítica do incriticável desde a ridicularização das formas de governo, do modo de vida dos nobres, até dos ritos de uma religião que impõe sua moral e os padrões de comportamento. Esta capacidade de crítica, junto com outros excessos, é a base da enorme popularidade do carnavalesco na Idade Média. O Carnaval apresentava uma utilidade real para a sociedade em diferentes campos – permitia que aflorassem desequilíbrios normalmente ocultos, o dionisíaco triunfava sobre o apolíneo, era a festa dos sentidos, deixava livre a violência, ordinariamente canalizada e aos atos mais irracionais. Era um modo de diminuir ressentimentos. As restrições ao Carnaval vieram quando a hierarquia eclesiástica e dos nobres se sentia insegura.

Quebravam potes, faziam ruídos, jogavam ovos, molhavam os transeuntes, amarravam potes nos rabos dos animais. O homem carnal podia liberar todos seus impulsos, embebedar-se ou comer até passar mal para esquecer as privações do resto do ano. É este Carnaval que chegou ao Brasil e vivificou com influências africanas e indígenas.

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Hoje, quase nada resta do passado

Há uma competição e um show com organização esmerada. A questão que se antepõe é – o que as escolas de samba podem ensinar sobre comprometimento para as empresas e governos? Muita coisa. Em primeiro lugar, o que leva pessoas comuns a trabalhar com tanto afinco e engajamento no Carnaval? A crítica social e política não estão presentes no Carnaval de nossa época. Muito provável que seja o “jeito de ser do brasileiro”, precisam se sentir parte importante de um grupo para ter felicidade, a cultura da competição, no Brasil, não funciona tão bem como nos EUA. A escolha é baseada em valores.

A decisão de entrar para uma escola de samba leva em conta valores como tradição e cultura da agremiação, como deveria ser a escolha de um emprego. Outra grande lição das escolas de samba é o recrutamento por afinidades. Quando um novato chega, os dirigentes conversam para entender em que função ele se encaixa melhor.

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Personalidade e disposição: uma lição a ser aprendida e apreendida

A falta de experiência não importa, o que vale é a personalidade e a disposição para aprender. O treinamento é intensivo. Os veteranos ensinam os novatos. A dedicação para o aprendizado é enorme, pois existe a consciência de que fazer bem é fundamental para o sucesso. A valorização dos mais experientes é outra política importante nas escolas. Mesmo com o risco de perder minutos preciosos do desfile, as escolas fazem questão de manter a velha guarda como uma maneira de homenagear quem se dedicou por tanto tempo. Por fim, os líderes são empenhados e colocam a mão na massa. É possível ver diretores empurrando carros alegóricos com defeito.

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Qual a relação dos protestos da Ucrânia com o Brasil?

Em princípio, nenhum. A antiga república soviética da Ucrânia está já faz algumas semanas, com uma grande quantidade de pessoas protestando contra o governo na Praça da Independência conhecida como Maidan em Kiev. O revide da polícia às manifestações foi tão agressivo, que pessoas do governo afirmaram que se tratava de um plano da oposição para deslegitimar o regime atual – uma afirmação falsa. Os protestos originais eram limitados em tamanho e tom. Começaram com a recusa do presidente Viktor Yanukovych em assinar a tão deseja associação do país à União Europeia. Qualquer país do mundo – mesmo fora da Europa – quer pertencer à União Europeia. Se desse para trocar, seria melhor largar o moribundo Mercosul e entrar na EU. Basta lembrar que os argentinos, até pouco tempo atrás, consideravam-se europeus “no espírito”.

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Jogo político e simbólico da inclusão da Ucrânia na UE não é tão simples

Após anos de negociação, o acordo com a União Europeia representaria a confirmação, principalmente para os jovens, de que o país deles é “normal”, faz parte da Europa – ninguém gosta de ser chamado de “leste europeu”, por motivos óbvios – e não uma “micro Rússia”, um apêndice do “norte” hegemônico.
Não se sabe ao certo os motivos que levaram o presidente da Ucrânia a desistir do acordo, mas esta recusa não foi surpreendente para os ucranianos. A Rússia se opôs ao acordo assim como sempre se opôs a qualquer iniciativa que levasse a Ucrânia para o sentido oeste. Yanukovych está ligado diretamente a Moscou. Nos dias anteriores à assinatura, ele havia se encontrado com Putin, o que levou à população a desconfiar que algo estava acontecendo. Com a negativa, o país explodiu em protestos. Analistas externos falam que a UE foi para a decisão despreparada e que a Rússia venceu, que não há muito a ser feito. Parece que os ucranianos não concordam com esta análise.

Não se trata mais de culpar uma hipotética “fraqueza” da União Européia, o problema está no presidente, cujo governo passou a ser visto como a fusão entre famílias da Máfia e marionetes do governo russo. O presidente decidiu vender o país para os russos para o seu próprio benefício financeiro.
Até agora, tirando o fato de o Brasil e a Ucrânia terem colocado um monte de gente na rua para protestar contra o governo, nada muito parecido pode ser traçado entre os protestos nos países. Um dos principais pontos de semelhança está justamente no perfil dos jovens que protestam.

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Jovens de hoje aqui e lá têm realidades políticas diferentes da dos pais

Os ucranianos que estão nas ruas são jovens que nunca viveram sob o domínio soviético, não existe o símbolo da foice com o martelo em suas certidões de nascimento, lembram de protestos que ocorreram em 2004 (a Revolução Laranja, contra a corrupção e contra a fraude nas eleições) e acreditam que agora é sua vez de se manifestar.
Muito provavelmente os jovens ucranianos são trilíngues, falam ucraniano, russo e inglês – a questão da língua russa ser considerada oficial pelo governo envolveu acirradas disputas políticas. Podem ter problemas em obter vistos para os países da Europa do “oeste”, uma vez que há um grande preconceito com os ucranianos pela imigração ilegal. Estes jovens não carregam mais o peso do hábito soviético de obediência de seus pais, o próprio protesto demonstrou isto. A derrubada da estátua de Lenin talvez seja a maior representação disso tudo.

Velhos comunistas podem desgostar de vários líderes da União Soviética, mas geralmente Lenin é salvo como um grande idealista e “pai fundador” que não leva a culpa das chacinas promovidas pelo regime totalitário stalinista, tanto que, durante a Revolução Laranja, sua estátua permaneceu incólume.
O perfil dos jovens brasileiros que estavam nos protestos de junho tem, ao menos, dois pontos em comum com os ucranianos. Estes estão livres do comunismo, enquanto que, para os brasileiros, o peso ideológico do passado não foi determinante na definição de suas múltiplas demandas por direitos. O regime militar é algo de um passado distante.

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Cada um com suas necessidades; cada um oferta o que pode e recebe o que merece

Enquanto os ucranianos são trilíngues, os jovens brasileiros provavelmente eram meio bilíngues, com a ainda atrasada aprendizagem dos brasileiros do idioma inglês. A conta é simples. Quantas pessoas falam ucraniano no mundo? Quantas pessoas falam português no mundo? Um terceiro ponto em comum é como somos vistos pelos outros. Se os ucraniano parecem ter pintado na testa que são os “ilegais” do leste, vivendo na Rússia, nós temos pintado na testa que somos os “ilegais” do sul, com um grande contingente de compatriotas vivendo fora do Brasil.
Será que o Yanukovych não quer emprestar a vaga dele na UE para o Brasil? Em troca, mandaríamos um monte de jogadores de futebol para o Dínamo de Kiev e para o Shakhtar Donetsk. Outra troca que poderíamos propor com a Ucrânia seria a importação das ativistas do Femen para alegria dos homens brasileiros. Afinal, na última década não houve protesto de maior repercussão no mundo que os comandados pelas lindas e desnudas ucranianas. Claro que enviaríamos os “simpáticos” blackblock para eles.

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