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Em Pauta

Política socioambiental do BC para bancos importa mais que eventual autonomia

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/10/2014 08:16
Política socioambiental do BC para bancos importa mais que eventual autonomia

Banco Central autônomo ou independente é debate anacrônico

Uma das ideias mais claras do mundo econômico foi proferida por Keynes: "Os homens práticos, que se pensam isentos de qualquer influência intelectual (as ideias de economistas e filósofos políticos), são, em geral, escravos do pensamento de algum defunto economista".

Pois bem, as acaloradas discussões entre duas das muitas tribos que se abrigam no mundo dos economistas, os marxistas e os keynesianos, mostram que alguns deles são escravos do pensamento congelado de dois filósofos-economistas defuntos: Karl Marx e J.M. Keynes. Foram esses economistas que impulsionaram os marqueteiros de plantão a adotar o debate sobre a utilidade de um banco central autônomo e independente. Em pleno século XXI, esse debate é de um anacronismo preocupante. Um Banco Central autônomo e independente não é condição necessária nem suficiente para a estabilização dos preços. Essa conversa é antes de tudo "démodé".

Política socioambiental do BC para bancos importa mais que eventual autonomia
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Por uma responsabilidade socioambiental para concessão de crédito

Um dos papéis que o mundo contemporâneo exige de um Banco Central é o de participar das preocupações sociais e ambientais. E ele vem cumprindo essa missão exigida pela sociedade. A imprensa e a população não deram importância à Resolução 4.327 do Banco Central, que determina a implantação de uma Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) a ser cumprida por todos os bancos instalados no Brasil, que foi publicada em abril deste ano e tem enorme relevância. É um marco para os bancos no que tange à adoção de uma análise de crédito mais completa, que incorpora as variáveis social e ambiental. Em suma, os bancos só podem vender dinheiro para investimentos empresariais após análises sociais que possam prever protestos de trabalhadores, população indígena e impactos ambientais. Não se trata de nenhum modismo xiita para convencer incautos eleitores, mas sim de uma completa inovação dos

mecanismos aplicados na avaliação de projetos de investimento, melhorando a qualidade da análise para garantir sua sustentabilidade, inclusive financeira.

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Agronegócio ou terranegócio?

A noção de agronegócio surgiu nos Estados Unidos no pós guerra, na década de 1950. Tornou-se uma importante ferramenta de análise da conjuntura econômica que unificaria os trabalhos no campo com os desenvolvidos pela indústria. A mesma palavra quando vinda para o Brasil foi, e está até hoje, sendo usada como um disfarce de eficiência do parasitismo da pecuária bovina de baixíssima produtividade. Afinal, uma vaca em um hectare de terra produz menos riqueza que um formigueiro. Passou a hora, passou o século do Brasil continuar subsidiando a valorização de patrimônios improdutivos ou, no máximo, subprodutivos. São apenas patrimônios e não produtores de riquezas - são terranegócios.

O verdadeiro agronegócio, que tem de ser muito bem subsidiado, é a simbiose da pecuária que explora a terra com confinamento, que cria aves e suínos, e a agricultura. Esse conjunto de empresas mantém a existência das atividades industriais de transformação. E é essa união de esforços que vem contribuindo para muitos avanços sociais, elevando o IDH e reduzindo a desigualdade de renda e a pobreza. Os dados mostram que são mais de 5 milhões de trabalhadores, com carteira assinada, vinculados por essa simbiose de confinamento, agricultura e indústria de transformação. Esse setor representa mais de 11% dos empregos formais no país.

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Energia florestal da Fibria e da Eldorado

A Fibria está aproveitando melhor a potencialidade oferecida por suas florestas de eucalipto, que ocupam 557 mil hectares de área plantada e outros 346 mil hectares são de regiões preservadas. Já a Eldorado está plantando 50 mil hectares por ano - hoje tem 160 mil hectares de área plantada, 30% preservados. O Brasil tem 7,6 milhões de hectares plantados com eucalipto, pinus e outras espécies - 50% são certificados. A distribuição na área plantada é de 37% pertencendo às indústrias de papel e celulose, 31% a produtores independentes, 16% a siderurgia, 6% para os painéis de madeira e 4% para produtos

sólidos de madeira. O Brasil se tornou referência mundial no segmento de florestas plantadas. Em 2013, a receita bruta dessas empresas foi de R$ 60 bilhões, que corresponde a 6% do PIB. As exportações somaram mais de R$ 18 bilhões - 90% da venda de celulose.

Quase toda a energia necessária para o funcionamento das fábricas da Fibria e da Eldorado é gerada nas próprias fábricas a partir das florestas usando a madeira, biomassa e resíduos. Em 2013, a unidade de Três Lagoas da Fibria produziu 35% mais energia do que necessitava para operar. A venda do excedente de energia rendeu uma receita adicional de R$ 67,3 milhões. No segundo trimestre deste ano, a Eldorado utilizou 56% da energia produzida. Outros 32% foram destinados aos parceiros instalados no complexo e 12% vendidos no mercado livre.

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Projeto de Lei combate especulação de terras por estrangeiros

Terras agricultáveis representam atualmente um patrimônio que aumenta de preço acima da inflação. No Brasil e no mundo, estão cada vez mais escassas: o que está à venda são terras não propícias à agricultura, especialmente terras degradadas pela pecuária ou abandono.

O setor necessita acompanhar esse projeto de lei para que ocorra uma clara separação do investimento especulativo de fundos soberanos estrangeiros, que é indesejado, do investimento em projetos reais. Será danoso para a agricultura e para o país a criação de uma bolha artificial de majoração de preços apenas com finalidade especulativa. A bolha estoura e os preços atingem patamares muito inferiores aos existentes neste momento. Por outro lado, seria muito bem vindo o capital aplicado em projetos produtivos, pois complementaria o investimento brasileiro e auxiliaria do ponto de vista mercadológico.

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Médicos querem reduzir cesarianas no Brasil

“O Brasil é, atualmente, um dos países como maior taxa de cesarianas no mundo.” Quem garante é a médica Maria do Carmo Leal, Coordenadora do Inquérito Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz. Num país com forte influência de práticas culturais diversas, como a indígena, se optar por intervenções cirúrgicas em vez de partos normais, principalmente na rede pública de saúde, é no mínimo preocupante. Por isso, que

obstetras, ginecologistas, pediatras, e enfermeiros obstétricos do Brasil e do exterior estarão reunidos, a partir desta sexta-feira, no Rio de Janeiro, em dois eventos internacionais para debater estratégias para elaboração de políticas públicas para promoção de mais partos normais nas maternidades e casas de saúde, em vez das rápidas e efetivas, porém dispendiosas, cesarianas. O objetivo dos organizadores da “Normal Labour and Birth: 9th International Research Conference”, em sua nona edição, e também da “Ecos da 9º Conferência – Normal é Natural: da pesquisa à ação”, é debater, também, como as mulheres podem ter maior protagonismo na implementação de seus direitos sexuais e reprodutivos.

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Debate é antigo e começou na Inglaterra

A Normal Labour and Birth começou na Inglaterra, discutindo partos e nascimentos e como os profissionais da saúde podem atuar melhor neste momento de maior sensibilidade e vulnerabilidade das mulheres. “Já está comprovado que o modelo de parto e nascimento que conta com enfermeiras obstétricas e obstetrizes, como responsáveis primários pela atenção ao parto, aumenta as chances de partos espontâneos, reduz intervenções desnecessárias e proporciona mais segurança para mãe e bebê”, ressalta Valdecyr Herdy Alves, professor do Departamento Materno-Infantil e Psiquiátrico da Universidade Federal Fluminense, e presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (Abenfo).

Dentre os especialistas que participarão das duas conferências, destacam-se o Obstetra Eugene R. Declercq, professor da Boston University School of Public Health e da Boston University School of Medicine, e coordenador de diferentes estudos para implementação de políticas de natalidade em seu país; Lesley Page, parteira no Serviço de Maternidade Cotswold em Chipping Norton Oxon parte do Oxford Radcliffe Hospitals NHS Trust; Hannah Dahlen, professora de Obstetrícia da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade de Western Sydney, Austrália; Lisa Kane Low, Professora Associada da Divisão de Promoção de Saúde e Redução de Risco da Escola de Enfermagem na Universidade de Michigan, USA; Ngai Fen Cheung, professor de Obstetrícia, Unidade de Pesquisa em Obstetrícia da Faculdade de Enfermagem, Hangzhou Normal University, China.

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