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Em Pauta

República começou com nova classe média almejando status superior

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/11/2014 11:48
República começou com nova classe média almejando status superior

Início da República foi com opa, pândega e folia

A República começa com a desenfreada especulação que ficou conhecida como Encilhamento, termo emprestado do turfe - em corridas de cavalo, encilhamento é o momento que precede a largada, quando as apostas se intensificam. Todo mundo começou a jogar na Bolsa de Valores.

O período era mesmo de opa, como descrito por Machado de Assis, isto é, de pândega e folia. Tendo herdado da monarquia uma reforma bancária liberal, Rui Barbosa, então ministro da Fazenda, convence o primeiro presidente Deodoro da Fonseca, a aprovar, em 1890, um plano de rápida industrialização. Para tanto, precisava-se emitir mais dinheiro e facilitar o crédito, o que se obteve com a criação de bancos de emissão. A intenção era atender à demanda da massa de novos assalariados, que resultara do fim da escravidão, com a assinatura da Lei Áurea, dois anos antes.

A conjuntura internacional ajudava: o preço do principal produto de exportação, o café, estava alto e o país vinha recebendo grande fluxo de investimentos estrangeiros. Não demorou para o otimismo dar lugar à euforia e, daí, degenerar em febre especulativa, agravada pela falta de regulamentação dos novos bancos. As falências começaram a pipocar. No ano seguinte, a bolha estourou e Rui Barbosa deixou o cargo. Apesar da crise e das falcatruas, o episódio é considerado um marco no processo de industrialização do país.

Alguns estudiosos comparam o período, euforia desmedida seguida por frustração, à experiência do Plano Cruzado de 1986. Uma experiência heterodoxa que terminou com uma vigorosa restauração conservadora protagonizada por Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda que, no final da década, com um programa recessivo baseado na valorização cambial, com juros a 12% ao ano, determinou um novo viés na economia. Um mundo de uma pequena burguesia ascendente, uma nova classe média, onde todos aspiravam a um status superior.

República começou com nova classe média almejando status superior
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Árabes iniciaram comércio internacional

Em primeiro lugar, há de se destacar que foram os árabes na idade média, e não os italianos, quem desenvolveu a "commenda" (um pacto contratual em que um investidor financiava a viagem de um comerciante e que constituiu a base do comércio internacional). Tão importante como este fato, os árabes conheciam as trocas de moedas (câmbio), a contabilidade avançada e outras ferramentas comuns aos bancos como o "hawala", o avô do cheque atual.

Por sua vez, alguns desses sistemas procediam da China e da Índia, incluindo o papel moeda, um invento chinês, e os números árabes e o zero que, em realidade, nasceram no território hindu.

Outra base importante do capitalismo, ainda que esquecida por muitos, foi o império mongol, instaurado por Kublai Khan, que permitiu o tráfego regular pela rota da seda dos produtos mais cobiçados.

Mas também é certo que o primeiro povo a introduzir estas mercadorias e técnicas no ocidente foram os italianos, durante os anos 1200. Seus maiores méritos, além de comercializar com a seda chinesa, foram a assimilação da roda de fiar, as telas, os enroladores e outros instrumentos, que eram secretos para a fabricação de tecidos de boa qualidade.

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Origens do capitalismo moderno

O despertar capitalista europeu começou com os negócios gerados pelos tecidos confeccionados em Florença e os panos de Flandres (uma região belga). Na década de 1330, sobre uma população total de 100 mil habitantes, Florença contava com 30% de sua população vivendo da indústria têxtil e de sua moeda, o florín, que foi a primeira cunhada em ouro após o império romano. A riqueza gerada foi enorme. Talvez por esse fator que mais da metade dos humanistas e artistas italianos nasceram em Florença ou em povoados controlados por ela: Dante, Boccacio, Donatello, Uccello, Masaccio, Botticelli, Pico della Mirandola, Leonardo da Vinci, Maquiavel...

Da mesma maneira, a indústria têxtil, desenvolvida nas cidades de Flandres, gerou um grande impulso econômico e cultural. Basta citar a invenção da Bolsa de Valores, como fruto dessa época e lugar, que surgiu em Brujas, em 1460.

Todavia, a verdadeira mudança para o capitalismo moderno se produziu a partir do século XVI com o desenvolvimento do comércio em larga distância, que incluiria o mercado de cinco continentes.

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Fogueira das vaidades

A aparição do capitalismo não foi fácil. Para consolidar-se, teve de pôr fim ao domínio dos nobres sobre os comerciantes. Esta independência começou quando diversos comerciantes e artesãos se aliaram para constituir as chamadas "repúblicas mercantis". Seus melhores exemplos foram Genova, Florença e Veneza (alguma experiência importante também foram realizadas em Pisa e Amalfi). Em quase todos os casos, o poder dos comerciantes e artesãos, os capitalistas, dependia de um complicado jogo de equilíbrios sociais e econômicos, mas não de um título hereditário (os Médicis, por exemplo, nunca foram reis ou príncipes, mas apenas uma família capitalista com carisma e influência).

Não foi uma mudança. Diferentes cidades, como Milão e Veneza, tiveram de enfrentar o exército do imperador Federico Barbarroja para conseguir suas independências. Combates similares ocorreram em Flandres e nas cidades da Liga Hanseática (uma aliança de cidades mercantis que monopolizou os mercados de quase todo o norte europeu).

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Filosofia “Black bloc” surgiu na Idade Média

Além dos inimigos externos, os "grandi" (comerciantes e artesãos com maior poder) tiveram de enfrentar os inimigos internos: o "Popolo", formado por pessoas comuns que, de maneira regular, organizava rebeliões para exigir uma repartição mais justa das riquezas dessas repúblicas burguesas.

A revolta mais famosa foi a denominada "Fogueiras das vaidades", desencadeada pelo monge Girolamo Savonarola, em Florença, no ano de 1497, que expulsou, temporariamente, os Medicis da cidade de Florença. Essas fogueiras tinham como objetivo destruir tudo que representava o poder dos "grandi": espelhos, vestidos refinados, obras de arte, instrumentos musicais...Outro caso famoso foi protagonizado por Cola di

Rienzi, um líder populista que enfrentou os "grandi" de Roma e ao Papa para dar o poder ao povo. Como se vê os “black bloc” e demais corporações anarquistas tiveram seus avós durante a Idade Média.

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