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Em Pauta

Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Mário Sérgio Lorenzetto | 30/08/2015 07:00
Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Semion Vilhava, um líder guarani, foi assassinado. A verdadeira arma está escondida em Brasília. O revólver é da marca "inoperância". A bala que alvejou Vilhava, também tem uma marca conhecida há séculos - "o racismo". O disparo foi efetuado de 1.361 quilômetros de distância. Veio diretamente do Ministério da Justiça. Certeiro. Só resta uma pergunta: até quando? Ou melhor: quantos litros de sangue Brasília cobrará, de índios e de fazendeiros, para pagar poucos reais pelas terras em litígio?

Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?
Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Índios. Uma longa história de opressão e defesa. De Cabral a Rondon.

No fio da espada. Ao contrário do que conta a história oficial, na conquista do Brasil houve muito sangue derramado por brancos expulsos da Europa, mestiços de brancos e índios cruéis que "caçavam" (como se fossem onças) todos os índios que encontravam pela frente, sem dó nem piedade. Um razoável número de gerações de pequenos brasileiros aprendeu que a descoberta de seu país foi marcada por um fraterno encontro entre europeus e índios. A violência era a regra. A relação entre os dois povos foi de brutalidade de ambos os lados. Durante dois séculos, os portugueses promoveram um morticínio de nativos.

De acordo com a maioria dos historiadores, entre 1.500 a 1.600 habitava todo o território nacional cerca de três milhões de índios, o dobro da população portuguesa na época. A prova cabal e escandalosa da matança generalizada dos indígenas é que hoje, no Brasil, vivem de 500 mil a 800 mil índios, representando algo como 0,4% da população brasileira. Nada mais falso que o conceito que o brasileiro faz de si mesmo. Seríamos um povo pacífico, cordial, tolerante com as diferenças sociais, de raça, cor, religião. A ideia de bom sujeito, que detesta se envolver em encrencas é encarada pelo brasileiro como uma verdade. Mas está distante de ser a nossa realidade.

Sombra e água fresca não tinham nada a ver com os índios daquela época. As tribos viviam constantemente em lutas. A guerra e a vingança constituíam traços culturais primordiais nas sociedades indígenas. Os índios não guerreavam para conquistar terras uns dos outros, como faziam os europeus, nem tinham como objetivo enriquecer com os pertences dos vencidos ou do resgate dos prisioneiros. Esses são conceitos culturais dos europeus. Guerreavam para vingar amigos e parentes. A morte dava ensejo à vingança, em um círculo que alimentava a guerra de forma permanente. Os séculos passaram. Esse quadro de matança, de extermínio só iria se modificar com a projeção do nome de Rondon.

Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?
Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Rondon, defensor dos índios, foi indicado por Albert Einstein para receber o Prêmio Nobel da Paz. Villas Boas e CIMI, a luta pela virada.

"Esse homem deveria receber o Nobel da Paz por seu trabalho de absorção das tribos indígenas no mundo civilizado sem o uso de armas ou violência. Ele é um filantropo e um líder de primeira grandeza". Este é o teor da carta de Einstein para o comitê do Prêmio Nobel.

O marechal Rondon não nasceu Rondon. Seu verdadeiro nome era apenas Cândido Mariano da Silva. O sobrenome Rondon só foi incorporado quando ele tinha 19 anos, uma homenagem a um tio incentivador de seus estudos. Em suas andanças iniciais nas florestas brasileiras Rondon "ouviu um sopro que parecia um adejar de pássaro, baixou os olhos e viu uma flecha espetada na bandoleira (capa) de couro de sua Remington (espingarda). Fez vários disparos para o alto e dispersou os atacantes. Ganidos ecoavam pela mata: Rio Negro, o cão de caça de Rondon, fora atingido por uma flecha". No dia seguinte, com a cabeça fria, Rondon refletiu: "a questão precisava ser reconduzida ao ponto de vista humano e fraternal. Insisti pela retirada, porque a nossa missão é fraternal e de paz e não de guerra". Esse é um dos raros momentos da conturbada história nacional em que um branco (descendente de índios) atacado por índios não revida.

Rondon é uma figura polêmica para alguns estudiosos. Entendem que ele efetivamente visava pacificar as relações entre brancos e índios, mas com a intenção de domesticar, amansar e exterminar a cultura indígena. Mas há algo que não pode lhe ser retirado: Rondon foi efetivamente um pacificador e defensor da coexistência com os indígenas. E isso não é pouco. A maioria desejava naquela época o extermínio total desses povos. Há muitos estudiosos que não admitem a importância histórica de Rondon por ele ser branco, mas desconhecem que ele era bisneto de bororo e terena por parte da mãe, e guará, por parte do pai.

Essa dualidade de defender a existência dos indígenas, mas exterminar com sua cultura, só começou a ser quebrada com os irmãos Villas Boas. Foi o primeiro passo para respeitar o tipo de vida diferente que os povos indígenas ainda conservavam. O CIMI é o herdeiro dessa luta de dezenas de anos. Mas essa é a maior derrota dos indígenas em quase todo o país - eles estão "aculturados" -, quase nada resta de seus princípios e costumes. Só restam 77 referências de grupos indígenas não contatados, das quais 30 foram confirmadas. Todas no norte do país. A questão da terra para indígenas, colocada há anos no Mato Grosso do Sul, é um problema de fácil resolução. Custa algo como R$ 100 milhões a R$ 200 milhões. Uma insignificância para os cofres da União. Basta querer. O verdadeiro escândalo está no preconceito e na falta de vontade dos governantes em solucionar esse litígio.

Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?
Tá lá um corpo estendido no chão. Mais um índio assassinado. Até quando?

Crise nada. No mundo encantado dos bancos o lucro subiu 17%.

Juntos, Santander, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco terminaram o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 15 bilhões, 17% maior que no mesmo período do ano passado. Os ganhos foram influenciados pela elevação desmedida (com a desculpa de sustar a inflação) da taxa básica de juros. As linhas de crédito ficaram mais caras. Os bancos também conseguiram melhorar o lucro com prestação de serviços e tarifas. Também continuaram a enxugar despesas. Enquanto o país passa pelo "Massacre da Serra Elétrica", eles vivem as delícias de "Cinderela no País das Maravilhas".

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