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Em Pauta

Um país educado. O Japão extinguiu mortes por armas

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/01/2017 07:13
Um país educado. O Japão extinguiu mortes por armas

No Brasil, parcela importante da população clama por melhor educação. Também agita pelo direito de andar armada. Mas as armas não são boas companheiras da educação de um país. Um dos exemplos é o Japão.

Se você quiser comprar uma arma no país do sol nascente será preciso paciência, muita paciência. É uma "prova de fogo". Terá um dia inteiro de aulas, depois terá de passar por uma prova escrita e outra de tiro ao alvo com 95% de acertos. Também terá de se submeter a exames psicológicos e antidoping.

A polícia checará teu passado. Uma só acusação, de qualquer tipo de problema, o desabilitará de ter uma arma de fogo. Em seguida, a polícia checará teus parentes e colegas de trabalho. E isso tudo para comprar tão somente armas de ar comprimido e de caça. Inexistem outras armas. Ainda há um limite de número de lojas que podem vendê-las, a maioria das cidades só podem ter três lojas. Elas só podem vender cartuchos com a entrega dos cartuchos usados. Uma vez por ano essas lojas são inspecionadas pela polícia. É a explicação do porque no Japão mortes por arma de fogo são praticamente inexistentes.

O Japão foi o primeiro país a proibir a aquisição de armas de fogo. A lei vale desde 1958. E tornou-se uma cultura dos japoneses. Não é uma letra morta como a brasileira. Também para os policiais a lei é severa. Raramente um policial sairá da delegacia portando uma arma. Eles não as levam para casa. Essa é outra diferença fundamental entre eles e os brasileiros. Aprisionam os marginais enrolando-os com imensos colchonetes. Pode parecer estranho e risível, mas é eficaz.

O marginal é literalmente enrolado como se fosse a salsicha de um sanduíche e levado para a delegacia. Outra diferença importante é que um policial terá de passar por provas de judô que correspondem à faixa preta. Resolvem os problemas com a inteligência e não com a truculência. É o inverso da polícia militarizada que constituímos. A nossa foi criada para matar no distante século XIX. A nossa polícia tornou-se ainda mais violenta com o modelo copiado dos Estados Unidos. Um modelo que mata. Atira. E depois pergunta se era marginal. A polícia japonesa foi criada para prender.

Quando existem armas na sociedade, é obvio que existirá violência armada. E a relação é diretamente proporcional à quantidade. Quanto maior o número de armas, maior a violência com armas de fogo. A resposta à violência jamais poderia ser com violência.

Um país educado. O Japão extinguiu mortes por armas

O perigo de atirar para o alto

Atirar para o alto é uma forma comum de celebra algum evento especial em alguns países do mundo. Novamente, muito tiros se fizeram ouvir na passagem do Ano Novo em Campo Grande. Felizmente, não tivemos noticias de feridos ou mortos. Mas existe um elevado risco para essa prática.

Estudos mostram que, apesar da velocidade de uma bala caindo ser bem menor do que de uma que acabou de sair de uma arma, ela é, ainda assim, suficiente para matar. Se o cano da arma estiver mais na vertical, a bala voltará para o solo muito mais lentamente. Mas, se a arma estiver mais inclinada, a bala se comportará quase como um tiro normal, mantendo mais velocidade até cair.

Um relatório produzido nos Estados Unidos sugere que uma bala viajando a 61m/s (220km/h) pode penetrar um crânio humano e provocar lesão e até morte. Outro estudo mostrou que uma bala de calibre .30 pode atingir velocidades finais de 91m/s (perto de 330 km/h) conforme vai caindo. O risco é enorme.

Em muitos países - Estados Unidos, Sérvia, Macedônia e Jordânia - foram elaboradas leis proibindo essa prática.

Um país educado. O Japão extinguiu mortes por armas

"Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos"

O genial frasista Nelson Rodrigues criou essa bela ideia. Uma joia que sintetiza mais de 500 anos de nossa história. Mas é possível desconstruir a ideia genial do carioca. Podemos crer que o desenvolvimento pode ser rápido. E custar pouco.

A proposito da crise prisional do país - mais de 100 presidiários mortos só na primeira semana do ano, 250 mil excedentes nas cadeias. Claro e famigerado exemplo de subdesenvolvimento e crueldade inumana. Temos o inverso. O exemplo a ser facilmente seguido. E não está longe. O Estado do Espírito Santo resolveu os problemas de suas cadeias com medidas simples. Desenvolveu metas de atendimento jurídico. Parou de jogar traficantes de meia pataca nas celas, só vai preso quem realmente precisa. Investiu na educação dos detidos - passou a contar com currículo escolar idêntico ao dos alunos em liberdade. Criou mais de 200 empresas específicas para empregar ex-presidiários. Qualificou a profissão de agentes presidiários. Melhorou a infraestrutura das cadeias.

Em 2010, o Espírito Santo tinha a maior taxa de ocupação das penitenciárias brasileiras. Em 2014, passou para o polo inverso - a menor taxa de ocupação. O Espírito Santo é o único Estado brasileiro sem registro de mortes por assassinato em suas prisões. Mas, como tudo no Brasil, basta um segundo, um minuto para que tudo desabe. O subdesenvolvimento brasileiro pode acontecer em um piscar de olhos. Mas o desenvolvimento pode ser acelerado, com poucos recursos e muita boa vontade.

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