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Economia

Capacitação transformou informais em empresários regularizados de MS

Ricardo Campos Jr. | 06/08/2016 09:47
Mercado Municipal: boxes padronizados e comerciantes capacitados para gerenciar os negócios (Foto: Alcides Neto)
Mercado Municipal: boxes padronizados e comerciantes capacitados para gerenciar os negócios (Foto: Alcides Neto)

Feira Central e Mercado Municipal. Dois grandes pontos turísticos de Campo Grande que compartilham trajetórias marcadas pela especialização e profissionalização. Ambos os locais começaram com aglomerados de pequenos negócios familiares gerenciados instintivamente e hoje, graças à formalização e constantes cursos de capacitação, tornaram-se empreendimentos organizados e lucrativos.

Patrícia Cris Ireijo Yoza, 39 anos, lembra quando as barracas da “feirona” eram montadas no meio da rua perto da Avenida Mato Grosso.

“Lá não tinha nada de praticidade. Tínhamos que carregar tudo: mesas, cadeiras, talheres e copos. Também não tínhamos freezer, usávamos caixas térmicas para bebidas, verduras e carnes. Só depois, no finalzinho, que começamos a usar o freezer”, lembra a empresária.

O ponto que ela administra atualmente com o marido pertencia à sogra dela, Aparecida. Imigrante japonesa, começou vendendo as verduras que plantava e depois viu a necessidade de partir para o ramo de alimentação.

Patrícia (de preto, sentada ao centro) com os funcionários: hoje todos os contratados são treinados e atendimento é padronizado (Foto: arquivo pessoal)
Patrícia (de preto, sentada ao centro) com os funcionários: hoje todos os contratados são treinados e atendimento é padronizado (Foto: arquivo pessoal)

“Chegou uma época em que só vender verdura não dava mais para sustentar a família. Foi então que já tinham algumas pessoas vendendo sobá. Esse comércio de alimentação estava melhor, era mais forte”, conta Patrícia.

Quando foi lançado o projeto da nova Feira Central, na Orla Ferroviária, muitos comerciantes ficaram receosos com a mudança.

“Imagina você acostumado a trabalhar no sistema de balcão e de repente trabalhar no sistema de a la carte. É diferente”, diz a empresária.

“No primeiro mês teve um boom. Era lotado, lotado, lotado. Depois decaiu. Aí houve muita reclamação de mau atendimento. O comentário geral [do público] era que não gostou, que não ficou legal, que estragou. O movimento caiu, não estávamos preparados”, afirma.

O problema, segundo ela, era que o gerenciamento dos negócios era tão artesanal quanto as comidas vendidas nas barracas. Trabalhavam juntos pais, irmãos, filhos, sobrinhos. Não havia controle sobre o que entrava e todos pegavam suas partes, deixando a empresa sem verba para bancar os fornecedores e suprir eventuais despesas.

Foi então que surgiu a necessidade de ir além e o primeiro passo foi abrir um CNPJ para formalizar os empreendimentos. “Teve uma lei que deu prazo para que nos formalizássemos. Muita gente foi contra, a maioria não gostou. Eu tive uma visão diferente. Não que seria melhor, mas era uma oportunidade de crescer”, pontua.

Logo os comerciantes que abraçaram a ideia fizeram cursos de capacitação que os ajudaram a profissionalizar o negócio.

“Você vê muita gente que trabalha no sistema familiar e não tem uma gestão. Essas pessoas não conseguem crescer muito e acabam ficando para trás. Quando eu comecei a fazer os cursos que percebi que tinha coisa errada. Não tínhamos controle, não tínhamos caixa”.

No Mercadão, comerciantes também foram capacitados e hoje conseguem fazer os negócios renderem (Foto: Alcides Neto)
No Mercadão, comerciantes também foram capacitados e hoje conseguem fazer os negócios renderem (Foto: Alcides Neto)
Rodrigo herdou o box da mãe e administração deixou de ser feita no lápis para ser informatizada (Foto: Alcides Neto)
Rodrigo herdou o box da mãe e administração deixou de ser feita no lápis para ser informatizada (Foto: Alcides Neto)

Padrão, aparência e gestão – História semelhante tem Cleyton Rodrigo Tsuha, 33 anos. Ele administra um box no Mercado Municipal que também passou de geração em geração. Quando o avô dele começou o negócio, o barracão localizado entre as ruas 15 de Novembro e 7 de Setembro acabara de ser construído.

Algum tempo depois, o comércio passou para a mãe e só quando ele assumiu que, junto com os demais comerciantes, sentiu a necessidade de tornar o negócio profissional. As reformas garantiram que todos os boxes fossem padronizados em tamanho e estilo.

“As mudanças aqui dentro foram ótimas. Desde quando começou até hoje, é um negócio completamente diferente. Antes era um galpão com bancas de madeira, caixotes. Hoje nós temos uma estrutura, um local bem aconchegante”, diz Rodrigo.

Já os cursos de capacitação garantiram um gerenciamento profissional dos negócios.

“Foi bom principalmente no âmbito de compras, poder adquirir produtos não só aqui do estado, mas de outros lugares, além de calcular, saber quanto está saindo e quanto está entrando, ter o controle certinho. Isso não tinha antes, era na caneta e olha lá. Hoje é tudo informatizado”, conta o comerciante.

Produto vendido no Mercadão (Foto: Alcides Neto)
Produto vendido no Mercadão (Foto: Alcides Neto)

Caminhos convergentes – O analista técnico do Sebrae Humberto Dionísio lembra que a entidade acompanhou o desenvolvimento de ambos os grupos de comerciantes, mas no caso específico da Feira Central, hoje o foco da atuação da entidade é ampliar ainda mais o processo iniciado com a mudança para a Estação Ferroviária.

“São grupos de empresários que juntamente com as atividades vêm crescendo. Eram pessoas sem nenhuma formalização, que se tornaram MEI (Micro Empreendedores Individuais) e hoje trabalham dentro de uma estratégia de evolução profissional”, explica.

É comum encontrar empreendimentos com história e trajetória semelhante aos feirantes e comerciantes do mercado municipal. São empresas que geralmente nascem em âmbito familiar e sobrevivem com gestão às cegas e que mais cedo ou mais tarde veem a necessidade de tornar o negócio profissional.

“Não é deixar de trabalhar em família, muito pelo contrário, tornar esse processo familiar formal. Nada mais justo que isso aconteça, porque você está dentro de um ambiente familiar e por que não potencializá-lo para trazer isso para dentro da empresa?”, diz o analista técnico.

Dionísio explica que a formalização pode ser um meio para ajudar as empresas que ainda não o fizeram para sobreviver à crise.

“Não é simplesmente formalizar para recolher tributos. Vai muito além. É uma forma de proteção à empresa. São várias opções, tanto para o empregador, como para o empregado que vier a ser contratado, para recolher menos tributos e ter uma lucratividade maior”, diz.

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