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Economia

Empresário não desiste dos sonhos após falir 5 vezes vendendo salgados

Graziela Rezende | 04/08/2013 08:41
Gilson de Almeida Bernardes Júnior, 46 anos, não abre mão de ser empresário.
Gilson de Almeida Bernardes Júnior, 46 anos, não abre mão de ser empresário.

Mesmo com “o dom” para fazer salgadinhos, Gilson de Almeida Bernardes Júnior, 46 anos, faliu cinco vezes. Quem saboreia as suas coxinhas, pastéis, esfirras e até um bolinho de ovo criado por ele, jamais imagina o sabor amargo e a luta para não desistir dos seus sonhos. São seis anos de perseverança, no qual ele chegou a ter a vida ameaçada por agiotas. Hoje, no entanto, o empresário já pode desfrutar de uma vida estável ao lado da família.

Paulista por nascimento, Gilson aprendeu com os funcionários da sua mãe a confeccionar delícias no ramo da alimentação. Em uma das suas ideias, aos 23 anos, assim que finalizou a permanência obrigatória no Exército, ele montou uma barraca no centro de São Paulo e começou a vender salgadinhos.

“Era o auge dos camelôs e eu quis entrar nessa onda. Deu bastante certo, numa época em que tivemos 10 funcionários”, conta Gilson. Ele possuía uma máquina de fazer os condimentados, avaliada em R$ 30 mil e que produzia cinco mil salgados por hora. Trabalhando, anos depois, ele constituiu família e teve três filhos. Falido pela 1ª vez veio tentar a vida na Capital Sul Mato Grossense.

“Foram 14 anos de relacionamento, só que não estava mais dando certo, principalmente por dificuldades financeiras. Pensei, então, em vir para Campo Grande, onde estavam alguns familiares. Queria reconstruir o meu relacionamento, mas não deu certo”, emenda Gilson.

“Minha ex-mulher foi embora e fiquei sozinho com os meus filhos. Estava perdido, sem saber o que fazer, mas tinha esperança de dar certo e continuar vendendo os meus salgados. Então aluguei uma casa no Jardim Imá e, com ajuda, um “quadradinho” na avenida Júlio de Castilho, onde mal cabia a sua máquina”, fala o empresário.

Lá ele iniciou a fazer os salgadinhos, para vender a R$ 0,35 a unidade. O carro chefe eram as coxinhas e nascia o Coxinha e Cia. “Estava mergulhado no trabalho e, por muita sorte, conheci outra mulher que é minha grande companheira”, garante. Verônica Santos, 26 anos, na época com um bebê, entrou para a família “com tudo”, ajudando a administrar o negócio.

“Assim que tivemos o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) em mãos, conseguimos um empréstimo no valor de R$ 120 mil. Pensei na oportunidade de ampliar o meu comércio e sugeri uma sociedade ao dono do local que alugava. Eu ampliei para um espaço dez vezes maior, colocando mesas, uma mini-fábrica com os cilindros, as fritadeiras e o estoque de produtos na geladeira frigorífica”, comenta o empresário.

Funcionária trabalha na preparação dos salgados da Coxinha Express.
Funcionária trabalha na preparação dos salgados da Coxinha Express.

O Coxinha e Cia, já com domínio público, se transformou no Coxic´s. “Eu fui me empolgando com as vendas, além do disque entrega que estava dando muito certo, as encomendas para festas e reservas. Foi aí que pensei em transformar em bar também e perdi o foco. Trabalhar na noite, sinceramente, é para quem sabe, não para quem quer. Você precisa saber lidar com o pagamento dos garçons, músicos e os entregadores que cobram um alto valor”, relembra o empresário.

O negócio, que fluía bem, faliu pela 2ª vez e em uma sequência que o empresário se emociona ao falar das dificuldades. “Estava bem, cheguei a trazer músicos que recentemente se apresentaram no Programa do Faustão. Mas, no ano de 2010, quando tiveram início as obras de recuperação na avenida Júlio de Castilhos, pioraram as minhas dificuldades. A clientela caiu brutalmente e chegamos a tentar a aventura do espetinho”, fala Gilson.

O jeito, para tentar “ficar em pé”, de acordo com o empresário, foi apelar para os agiotas. “Ninguém empresta dinheiro fácil para comerciante e achei que ia dar conta, mas os juros são muito altos. As contas não paravam, cortaram a luz e água e nem os fornecedores de bebidas estava conseguindo pagar”, conta.

No auge, agora da dificuldade financeira, ele fechou por um tempo as portas e ficou com dívidas com cinco agiotas. “Pedia dinheiro emprestado para todo mundo, para pagar as contas e reabrir o negócio, sempre ao lado da família. Mas os agiotas não queriam saber, não esperavam e até fui ameaçado de morte”, afirma, aos prantos.

Assim que pagou os agiotas, reabriu pela 3ª vez o negócio. Em poucos dias, porém, estava sem dinheiro até para comprar o recheio dos salgadinhos. O comércio se reestabelecia, parte da clientela voltava, quando ele novamente fechou duas vezes as portas.

Foi aí que um dos motoentregadores comprou a sua empresa, levando o nome Coxic´s, o telefone da disque entrega e a sua “paixão” que trouxe de São Paulo, a máquina de salgados. “Estava arrasado com a venda do meu negócio e até a mobília da casa eu vendi, ficando apenas com o colchão para dormir e o fogão. Me sentia humilhado diante dos meus filhos e de todos, mas sempre tinha esperança de vencer no ramo da alimentação”, diz.

Numa dessas segundas da vida, eles abriram o portão, levantaram as lonas daquele grande salão e colocaram a estufa na frente, quase na calçada, como um apelo por clientes. “Começamos a vender bem, agora fazendo manualmente os salgados e repondo a estufa de hora em hora”, fala. Durante o dia, na rua de casa e, à noite, eles foram por uma semana em shows na Praça do Papa para vender os salgadinhos.

“Colocamos uma mesa lá e começamos a vender os salgadinhos. Eu ficava lá vendendo, o meu marido fazendo e os filhos no vai e vem para trazer mais produtos”, comenta Verônica. Com dinheiro guardado e toda a experiência das derrotas, ele reabriu o seu negócio.

“Nunca perdi a esperança e sempre acreditei no que faço. Mas os erros do passado hoje são uma escola para mim, que posso proporcionar uma vida estável a minha família”, avalia Gilson. De novo nome, a aposta agora é o "Coxinha Express".

Após vários tropeços, empresário tenta, novamente, reeguer o estalecimento (Cleber Gellio)
Após vários tropeços, empresário tenta, novamente, reeguer o estalecimento (Cleber Gellio)
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