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Economia

Procuram-se moedas de um centavo no comércio de Campo Grande

Paula Maciulevicius | 06/07/2012 14:37
No caixa, funcionária diz que não vê moeda há muito tempo e que já teve de deixar compras num supermercado por não ter centavos. (Foto: Rodrigo Pazinato)
No caixa, funcionária diz que não vê moeda há muito tempo e que já teve de deixar compras num supermercado por não ter centavos. (Foto: Rodrigo Pazinato)

“Procura-se” moeda de R$ 0,01. A recompensa é em dinheiro vivo, não em balas, pequeno no tamanho e no valor que praticamente sumiu da praça. A menor moeda do Real, seja nas cores prata ou acobreada, parece extinção no comércio de Campo Grande.

“Acabei de deixar R$ 0,03 ali no supermercado”, contava a professora Janete Ferreira, 42 anos. A compra desta sexta-feira tinha dado R$ 16,47, ela pagou em dinheiro, mas não recebeu os R$ 0,03 de troco.

“Sumiu, está escondida, guardada sabe lá onde e cada vez que você deixa, eles que levam a mais e se somar, a gente é quem perde”, complementava o marido Nelson Ferreira, 43 anos.

Do lado de cá do balcão, os comerciantes defendem que há muito tempo a moedinha não chega na gaveta do caixa. “Eu aqui arredondo quando o cliente pede. Mas eles também acham insignificante, não trazem para nós e poucos pedem. Então se o troco é de R$ 0,03 eu dou R$ 0,05 ou deixo no inteiro, se for R$ 0,08, o cliente que pedir leva R$ 0,10”, explicou Valdenir Montanhani, 59 anos.

Quem lida com a falta das moedas pequenas durante todo o expediente tem uma ideia de como trazê-las, seja dos cofrinhos ou console dos veículos. “Acho que o comércio todo deveria se mobilizar e exigir. Porque sai caro para a gente, eu aqui arredondo para dar o troco, então acabo deixando passar”, fala.

A compra do aposentado Aires deu R$ 2,37 e voluntariamente pegou balas até inteirar R$ 5. (Foto: Rodrigo Pazinato)
A compra do aposentado Aires deu R$ 2,37 e voluntariamente pegou balas até inteirar R$ 5. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Reverter a situação e eliminar os R$ 0,99 dos valores em reais para os produtos oferecidos está fora de cogitação, diz ele. “Tirar não dá. O preço é mais atrativo, ele vê alguma coisa por R$ 2,99, o cliente não diz que custa R$ 3 e sim R$ 2,99”, comenta.

A vendedora Carla da Silva Ferreira, 25 anos, estava no caixa. Abriu a carteira e retirou uma nota de R$ 5 para as compras de R$ 2,99. Não fez questão do R$ 0,01 de troco, na bem verdade, nem reparou.

“Não vi, não conto mais com este R$ 0,01, não me faz falta. Mas se bem que se contar, chega uma hora que faz falta”.

De livre e espontânea vontade, o aposentado Aires Chaves, 57 anos, inteirava os centavos que seriam de troco por balas. Ao ver que as compras deram R$ 2,37, ele pediu para que a caixa desse o troco até R$ 5 em balas.

“Na verdade eu não espero esse troco não. Faz muito tempo que não vejo e as pessoas mesmo, no geral, acho que ninguém vê e nem faz questão”.

No fim das contas, a compra com as balas deram R$ 5,07, mas a loja deixou por R$ 5. Prática pouco comum no comércio.

Apesar de consumidores e comerciantes viverem no dia-a-dia a extinção da moeda, o Banco Central afirma que hoje são 3,1 bilhões delas em circulação no País. A assessoria sustenta que o índice é o suficiente, mas que a população é que tem que por a moeda para correr.

O Banco Central trabalha que 7,4% das moedas sofram o chamado “entesouramento”, quando se interrompe a circulação de dinheiro. Deixa o dinheiro no cofrinho ou esquecido na bolsa ou carro.

Não que a causa do desaparecimento seja o descaso de Elisângela de Oliveira, 32 anos, que há mais de ano acumula dentro de casa moedas de R$ 0,01. Mesmo sendo poucas, a questão não se restringe a ela.

“Lá em casa eu tenho guardado porque não usa mais. Fica lá dentro do cofre, quando pego acabo não passando pra frente. Não vale de nada”, diz.

Para evitar os centavos a mais ou a menos, gerente instituiu preços fechados ou R$ 0,05 ou R$ 0,10. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Para evitar os centavos a mais ou a menos, gerente instituiu preços fechados ou R$ 0,05 ou R$ 0,10. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Em Mato Grosso do Sul, a Superintendência do Banco do Brasil diz que não há dados regionais da circulação da moeda e que até eles mesmos sentem falta na hora de repassar a clientes. Os comerciantes podem e devem solicitar troco nas agências e quando o valor pedido não está disponível em moedas pequenas, fica a cabo do banco consegui-las em outra agência.

Para evitar confusões de troco a mais ou a menos, na loja em que Sirlei Mariotti, 39 anos, é gerente, os preços são arredondados. Ou seja, por mais que o cliente procure, no comércio de cosméticos e produtos de beleza, não encontra nada oferecido terminando em R$ 0,99.

“Os preços são fechadinhos, tem R$ 1,90 ou R$ 1,95. A gente procura sempre arredondar para ninguém sair prejudicado, mas é difícil de achar mesmo”, relata.

A gerente diz que a caça às moedas não se limita a de R$ 0,01. Tem custado muito achar os valores de R$ 0,05 e também de R$ 0,10.

“Nós estamos procurando, acho que é a desvalorização do dinheiro, antes R$ 5 era dinheiro. Hoje é troco”, acredita.

O Procon orienta que o consumidor não é obrigado a aceitar nada além de dinheiro e que o comércio deve arredondar o valor cobrado sempre para baixo. Quem se sentir lesado pode procurar o órgão de defesa do consumidor.

Já o outro lado, a prática de não devolver os poucos centavos no troco pode ser configurado crime de apropriação indevida, por se tratar de várias pessoas ao dia.

Enquanto o Campo Grande News exibia a moeda mais procurada no comércio para uma fotografia, funcionárias de uma loja de roupas ficaram atraídas. Não pela reportagem em si e sim pela moeda.

A caixa Dayane Alves Valentim, 26 anos, diz que há muito tempo não vê em seu caixa a moedinha.

“Mas deve ter uns cinco anos que não vejo. A gente arredonda ou as pessoas pagam no cartão. Mas sabe que quando você vai comprar é diferente? Eu já tive problema no caixa de supermercado porque não tinha R$ 0,04 para pagar e se eu desse R$ 0,05, eles me dariam o troco? Desconto não pode dar, mas devolver também não né?”, conta. O resultado foi sair de mãos vazias e sem o R$ 0,01.

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