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Economia

Uma jogada de mestre; empreendedora muda de vida vendendo meias

Luciana Brazil | 15/06/2012 13:00
Determinada, Leni é hoje exemplo de força de vontade. (Fotos:Rodrigo Pazinato)
Determinada, Leni é hoje exemplo de força de vontade. (Fotos:Rodrigo Pazinato)

“Eu sabia que seria humilhada, mas também sabia que iria vencer”. Foi assim que a empresária Marleni Pereira Santos, 41 anos, definiu sua trajetória de vida. Obstinada, esbanjando força de vontade e invejavelmente determinada, a paranaense conseguiu, com alguns pares de meia e muito planejamento, vencer na vida.

Uma história cheia de luta, batalhas e vitórias que fizeram dela uma empreendedora de sucesso. Hoje ela dá palestras, consultorias e mostra como conseguiu comprar seu carro à vista, juntando o dinheiro das meias que vendia.

Tudo começou quando Marleni resolveu mudar de vida. Com o único dinheiro que tinha para fazer a compra do mês, decidiu ir além e comprou meias para revender. “Meu marido me deu R$ 250 para comprar comida, mas gastei R$ 200 em meias ”, contou rindo. “Com o restante do dinheiro eu comprei o básico”. O que poderia soar como loucura para muitos, para ela foi o ponta-pé inicial.

“Eu pensei que se fizesse a compra de rotina, nossa vida continuaria a mesma”, explicou.

Nascida em Goioerê, no interior do Paraná, Leni, como é conhecida, foi logo cedo morar em Foz do Iguaçu, onde se casou. Ela e o marido, Fabrício Filho, formado em contabilidade e música, começaram a enfrentar as dificuldades do desemprego. “Todos os dias meu marido saía de casa para procurar emprego e não conseguia nada. Foram tempos muito difíceis”.

Sem sucesso, o casal se mudou para Campo Grande, em 2003, onde mora um irmão de Leni. “Aqui (Campo Grande) meu marido começou a trabalhar como vigilante e eu não conseguia emprego. Eu sempre fui uma ótima vendedora. Eu entregava currículo em várias lojas, mas não conseguia nada. Ficava revoltada e não entendia o porquê disso”, contou.

Sem aceitar que a vida lhe desse pouco, Leni estava sempre procurando se superar. “Como não arranjava emprego com aquilo que eu realmente sabia fazer, fui trabalhar em uma pizzaria. Lá, eu fazia de tudo, lavava louça, atendia, limpava o chão, era ‘pau para toda obra’. Nunca aceitei ficar sem fazer nada”.

Leni faz questão de mostrar que já foi personagem para muitas matérias da imprensa.
Leni faz questão de mostrar que já foi personagem para muitas matérias da imprensa.

Ponta-pé com meias: Incomodada, ela decidiu que a vida deveria ser melhor. Foi quando se deparou com a idéia das meias, em 2006, e resolveu ousar. O esposo ficou apavorado ao chegar em casa, mas diante do dinheiro que Leni conseguiu ganhar, acabou confiando na ousadia da mulher. Daí em diante, a história ganhou outro rumo.

“Eu vendia de sol a sol, de porta em porta. Todos os dias. Pensei que deveria vender um produto que as pessoas precisam, mas muitas vezes não tem tempo para comprar. Tive foco em qual seriam os meus clientes e comecei a vendar em escritórios, padarias, empresas e ganhei muito dinheiro”.

Instigada por um desafio, Leni se mudou para Cuiabá e depois para Manaus. “Um irmão que mora em Cuiabá me chamou para vender as meias lá. Fui, mas fiquei apenas dois meses quando recebi outro convite, de outro irmão, que mora em Manaus. Ele me disse que seu eu vendesse as meias em Manaus eu ganharia muito dinheiro. Deixei meu marido em Campo Grande e fui para Manaus”.

Após um mês vendendo em Manaus, Leni percebeu que tudo estava ainda melhor. “Um dia eu liguei para meu marido e perguntei quanto ele recebia por mês, ele disse R$ 680 e eu falei que o valor que ele ganhava em um mês eu tinha ganhado em um dia”. Fabrício se mudou para Manaus.

“Mas eu sempre vendi bem porque vendia com amor. Tinha a postura que um vendedor precisa ter. Você tem fazer a diferença no mercado”, salienta.

Depois de vender porta a porta, Leni conseguiu sua primeira barraca.

“Eu abria de domingo a domingo e, com o tempo, eu já tinha três bancas. Hoje, abri a minha loja, mas para isso fiz uma pesquisa de mercado. Eu mesmo perguntava para as pessoas o que elas gostariam que tivesse no local”. Com a chegada da loja, os produtos também mudaram. “Passei a vender artigos em geral. De tudo um pouco”.

“Juntei dinheiro e consegui comprar meu carro a vista. Paguei R$ 18 mil. Não tenho dívida. Você tem que determinar aonde você quer chegar”.

Já que a economia é fundamental, um empreendedor não deve gastar antes que o seu negócio complete três anos, segundo Leni. “Enquanto eu vendia, não gastava com nada. Almoçava em um lugar onde eu pagava R$ 1, mas eu podia almoçar até no shopping se eu quisesse”, contou.

“Um dia eu falei para meu pai que eu teria a minha loja e ele me olhou e disse ‘quem você pensa que é para ter uma loja. Você nem tem o que comer direito’. Mas eu não guardei aquilo com rancor, mas como um desafio. Hoje eu separo todas as matérias que fazem comigo em Manaus e mando para ele ver. Não precisa mais nada”.

Durante a entrevista ao Campo Grande News era nítido perceber o vigor e a convicção com que Leni falava de seus ensinamentos. “Tem que deixar o orgulho de lado. Não é feio trabalhar. Para vencer você tem que sofrer”, contou. Fã de Silvio Santos, ela relembrou as dificuldades que enfrentou. “Eu já li a biografia do Silvio Santos cinco vezes. Sei que todo empreendedor precisa sofrer no começo, planejar e ter visão”, disse.

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