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Cidades

Público lota Bon Odori, o culto aos antepassados

Redação | 24/08/2008 11:16

Por volta das 20h00 o 'taiko', o grande tambor japônes, que já foi usado para motivar as tropas até o combate no japão medieval, começou a marcar o ritmo da primeira canção e coreografia do 24º "Bon Odori".

No centro do salão, sobre um pequeno palco, as 'obaasans' (avós) iniciaram uma coreografia cheia de significados sob o olhar de uma multidão que tentava repetir seus gestos sem maiores preocupações do que se divertir para valer no "carnaval japonês".

Os compassos da primeira música da noite, 'Soran Bushi', cuja letra fala da luta e do trabalho para se produzir o alimento de todos os dias, se repetiram várias vezes, assim como os movimentos das bailarinas, enquanto a multidão disposta em círculos girava dançando em torno do palco.

Dona Eiko Shinohara, 76 anos, uma das 'obaasans', não entende muito bem qual a ligação a dança pode ter com os antepassados mortos, e estava mais preocupada mesmo era com sua equipe na cozinha, que abandonou para apresentar o número.

"Eu não ia dançar hoje, mas sempre insistem e eu acabo indo. Eu gosto de dançar, mas fico preocupada com a preparação da comida. Só aceitei hoje porque me chamaram e porque falta gente para dançar", diz dona Eiko.

Sua colega de palco, dona Catarina Nakasoni, 72 anos, concorda que está faltando gente para dançar as coreografias mais tradicionais do Bon Odori em Campo Grande.

"Muita gente se afastou pela idade avançada, e embora os jovens conheçam a tradição, eles acabam optando por estilos mais novos", diz dona Catarina, sobre músicas que ganharam novos arranjos, e que misturam instrumentos como o 'taiko' com guitarras, baterias e teclados em fusões com o pop, rock e até o hip-hop.

Volta às origens - Ao lado do palco, vestido com um quimono japônes de seda, o folclorista e diretor cultural da Associação Luso Brasileira, Robson Ramos, admirava-se com as relações entre a festa quase carnavalesca e a origem do festival como um ritual para levar alívio e mesmo alegria aos antepassados mortos.

O folclorista lamentou que muitas pessoas desconhecessem mais informações sobre a festa. "A falta de conhecimento sobre os gestos do ritual, que são movimentos que imitam a colheita ou a semeadura, geralmente representações de um ciclo de fim e recomeço, acaba produzindo gestos estereotipados, mecânicos, já sem seu significado inicial que era o de oferecer alívio aos parentes mortos", diz Robson.

O folclorista destaca porém que a vitalidade do festival se manifesta no encontro de culturas. "Embora muito das informações originais, que poderiam enriquecer nossa compreensão do que vemos aqui, acabe se perdendo para a maior parte das pessoas, o fato é que é uma festa maravilhosa, e que acaba representando muito bem o que é ser brasileiro, até mesmo pela existência de muitos laços sanguíneos e da grande proximidade entre as pessoas que estão aqui".

Aprendizado - Do lado de fora do salão, sob um portal com lanternas japonesas, a fisioterapeuta Gláucia Siqueira, 24 anos, dançava com precisão os passos das 'obaasans' diante do namorado, o estudante Leandro Mendonça, de 20 anos.

"Aprendi a coreografia porque já é o quinto ano que venho ao Bon Odori", diz Gláucia, que foi informada por uma amiga, descendente de japoneses, de que o festival é um culto aos mortos.

O namorado não sabia, mas gostou da idéia. "

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