Teatro lotado em "A Descoberta das Américas"

Quando se apagaram as luzes da platéia do Teatro Glauce Rocha, na sexta noite do 2º Festicamp (Festival Nacional de Teatro de Campo Grande), o burburinho cresceu como em uma matinê de cinema.

A impressão causada pelo grande número de carros e os dois ônibus escolares no estacionamento não se desfez dentro do teatro. Os 776 lugares estavam ocupados por um público que, pela agitação, não parecia disposto a aturar as sutilezas do monólogo de cerca de uma hora e meia que estava por vir.

Uma peça com características de "A Descoberta das Américas", representada por um único ator, sem cenário, sem alterações de luz, sem trilhas ou efeitos sonoros, muito dificilmente poderia funcionar em tais condições, onde as falas iniciais do maltrapilho Johan Padan, personagem do ator Júlio Adrião, encontravam dificuldade em vencer a vozearia do público.

Porém antes mesmo que alguns espectadores mais exigentes decidissem por buscar maior proximidade com o palco, Júlio Adrião já havia prendido com seu domínio técnico a atenção de todos, e a manteve cativa durante todo o espetáculo.

Só após muito riso provocado pela faina ininterrupta do personagem, que conseguiu liderar os indígenas e expulsar os espanhóis, ainda que sem a menor intenção, se aproximou o momento em que a aventura chegaria ao fim.

O atrapalhado, e já envelhecido, 'Filho do Sol e da Lua' se deitou em uma rede sob o luar e se preparou para sua última fala. Subitamente, porém, se rompeu uma corda que sustentava a rede e o herói foi ao chão.

No intervalo de tempo em que o público ainda duvidava se a queda seria mesmo um truque, Johan Padan ergueu-se de novo e começou a cantar uma canção enquanto as luzes se apagavam. Mais uma vez o improviso o levou a atingir um sucesso que não o esperado, e que levantou o público para os aplausos.