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Esportes

Casal de poloneses usa bicicleta para viajar de Istambul ao Pantanal de MS

Gabriel Neris | 12/04/2013 08:36
Casal olha no mapa o percurso que já percorreu até chegar na Capital (Fotos: Marcos Ermínio)
Casal olha no mapa o percurso que já percorreu até chegar na Capital (Fotos: Marcos Ermínio)

O casal de namorados poloneses Kris Jozefowski e Adela Tarkowska, ambos de 30 anos, decidiu, há três anos, que iria conhecer a realidade de diversos países apenas de bicicleta. Com este objetivo passaram por 19 locais e chegaram a Mato Grosso do Sul, onde pretendem ver de perto o Pantanal.

A viagem em volta ao mundo começou em Istambul, na Turquia. Passaram pela Síria, Líbano, Jordânia, Egito, África do Sul, Argentina, Chile e hoje somam 29.801 km de estradas. No Brasil já são quatro meses pedalando. Tempo suficiente para entender e arriscar o português.

Adela conta que o casal tinha uma visão positiva do Brasil. “A gente acha que cada brasileiro faz capoeira, joga futebol, baila e canta. A imagem é de um país com sol, floresta, mulheres bonitas e Carnaval”. Mas, ainda na Polônia, descobriram um lado mais obscuro assistindo ao filme Cidade de Deus.

A passagem pelo Brasil começou em Foz do Iguaçu (PR). No mapa do casal o traçado já passou por Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo. Porém, o litoral e as grandes cidades são ignorados. “Achamos que essa é a melhor parte do Brasil, gostamos mais de natureza”, diz Adela.

O casal permanece em Campo Grande até domingo, quando começa a pedalar com os 40 kg de bagagem em cada bicicleta. Corumbá será o destino antes de saírem do Brasil.

A hospitalidade brasileira impressionou os poloneses. Hoje eles estão numa residência no bairro São Francisco. “Em Goiás nunca pagamos nossa comida”, contam. Aliás, o estado goiano é o preferido pelo casal.

As comidas típicas também chamaram a atenção. “Feijão, abobrinha, farofa, doce de leite, rapadura, chimarrão, tereré. Comi uma jaca sozinha, não existe na Europa”, conta Adele aos risos. “O feijão é feito de outra maneira”, acrescenta Kris.

Entretanto nem tudo agrada ao casal. Os poloneses se espantam com a degradação da natureza. “Vimos condomínios novos no lugar da Mata Atlântica. No Cerrado, cada dia vemos mais animais mortos nas estradas. Sobre isso não se fala na Europa”, acrescente Adela.

Longe de casa – Antes de se arriscar em aventuras, Adela trabalhava como domadora e se formou em turismo. Kris era ator de teatro. Deixaram Varsóvia, onde Adela morava, e Wroclan, cidade do namorado, para encarar a realidade de cada país. Noticias do país de origem, nem pela internet. “Hoje somos do mundo. Não temos nostalgia”, diz a mulher.

Casal está hospedado numa residência localizada no bairro São Francisco, em Campo Grande
Casal está hospedado numa residência localizada no bairro São Francisco, em Campo Grande

A lembrança de cada país é levada em forma de bandeirinha e colada nas bicicletas. Cartões postais também são encaminhados para os familiares, com o pedido que sejam guardados para relembrar a viagem que deve durar mais quatro anos. “Saímos sem saber se ia aguentar. Estamos gostando, mas não sabemos o que vamos fazer nesses sete anos. pode ser que no final a gente escreva um livro”, acrescenta.

Voltar para casa não entra nos planos do casal. Morar em algum dos locais visitados ao longo destes três anos, sim.

Uma das experiências que mais chocou o casal foi à alegria de crianças africanas. “Nunca vi filhos desnutridos. A gente vê fotos com campo refugiado, tinha um estereótipo. As crianças não têm sapatos, ficam com o rosto sujo, mas não tem desnutrição. São alegres com pouco, diferente do europeu. Nossa opinião sobre pobreza mudou”, avalia. “Pobreza é estado de mente”, acrescenta Adela.

Bandeira da Polônia acompanha casal nas bicicletas que pesam 40 quilos cada uma
Bandeira da Polônia acompanha casal nas bicicletas que pesam 40 quilos cada uma

Eles dizem que cruzar cada fronteira de cada país derruba cada estereótipo.

Preocupação atualmente, só com Oriente Médio e com a possível guerra envolvendo as coreias do Norte e do Sul. O respeito recebido no Oriente Médio também surpreendeu. “Ninguém me perguntou qual era minha religião. Lá respeitam muito. Um dia cobri a cabeça e me perguntaram por que estava usando. Disseram que não era necessário. São pessoas que respeitam outras culturas”, diz Adela.

Na bicicleta está o essencial para ficar longe. “Carregamos nossa casa”, brinca Kris. Poucas mudas de roupa, barraca, colchões, cozinha, facão, ferramentas. Se voltar para casa nem passa pela cabeça de ambos, o medo é temporário. “Temos mais medo de motoristas do que de animais”, conta Adela. “O acostamento é muito perigoso”, completa Kris.

Durante a entrevista, no bairro São Francisco, apareceu novamente à hospitalidade brasileira. O casal conseguia lugar para ficar em Aquidauana. Na segunda-feira, parte rumo a Corumbá. A Bolívia é o próximo país. Kris e Adela continuarão o trajeto passando pela América Central e do Norte, até chegar ao Alaska, nos Estados Unidos.

As aventuras são descritas no site www.biketheworld.pl e também na rede social Facebook.

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