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Esportes

Longe de querer ser exemplo, jovem dá volta por cima e é ouro em paracanoagem

Paula Maciulevicius | 14/12/2011 19:48

“A minha reabilitação em primeiro lugar vem dos meus pais e o esporte foi o combustível para seguir em frente”

Debaixo de sol Rodrigo faz o que mais gosta. O combustível para reabilitação após um acidente veio da canoagem. (Foto: João Garrigó)
Debaixo de sol Rodrigo faz o que mais gosta. O combustível para reabilitação após um acidente veio da canoagem. (Foto: João Garrigó)

Sob um sol de 29°C que mais pareciam estar perto dos 40°C, lá estava Rodrigo no caiaque remando. As braçadas, mesmo com todo calor, não o cansavam, ele até responde “assim eu mato a saudade”. Quem vê acha que faz tempo que ele não pega no remo, mas a história não é bem assim. Ele foi o único representante de Mato Grosso do Sul e trouxe ouro e prata do Campeonato Brasileiro de Canoagem e Paracanoagem Velocidade, ocorrido começo deste mês, em Curitiba, no Paraná.

Muito bem representado, através dos braços de Rodrigo Figueiredo, 29 anos, o nosso Estado voltou com duas medalhas na Paracanoagem. Ouro em 500m e prata em 200m, atrás apenas do ex-BBB Fernando Fernandes, que virou atleta, assim como Rodrigo, após um acidente que o deixou paraplégico.

Rodrigo deixou de ser apenas bacharel em Direito para ser canoísta há pouco tempo. Os treinos se intensificaram em agosto para a disputa do campeonato. Sair de lá com duas medalhas no peito parecia um pouco fora da realidade, em vista da recente dedicação ao esporte. “Treinei bastante e o desafio já era participar. Ganhar foi fora das expectativas”, diz.

Com as medalhas no pescoço ele fala das vitórias. Ouro e Prata no Campeonato Brasileiro de Canoagem e Paracanoagem Velocidade. (Foto: João Garrigó)
Com as medalhas no pescoço ele fala das vitórias. Ouro e Prata no Campeonato Brasileiro de Canoagem e Paracanoagem Velocidade. (Foto: João Garrigó)

O apoio incondicional dos familiares, como ele mesmo define como “crucial” foi o que trouxe Rodrigo até aqui, depois de um acidente em julho de 2009. Dar a volta por cima parece tão natural para ele como falar do ocorrido.

Rodrigo estava no banco de trás de um veículo com mais amigos, dois deles morreram. Em decorrência do acidente, ele perdeu o movimento das pernas, fraturou a coluna e teve uma lesão medular.

O trabalho para se adaptar à nova rotina foi todo feito em Brasília, no hospital referência, Sara Kubitschek. Foi lá que surgiu o primeiro contato com a canoagem, como parte da readaptação.

Incentivado pelo colega e hoje, adversário, Fernando Fernandes, ele procurou o esporte além do tratamento e começou a fazer aulas de canoagem no Distrito Federal.

A história de Rodrigo não se resume a quem deu a volta por cima. Vai além. Agora ele quer passar a outras pessoas o aprendizado vivido através de uma cadeira de rodas. Foco e talento ele já tem, a prova são as vitórias no campeonato.

Ainda vivendo de “paitrocínio”, canoísta acredita que pode conseguir incentivo por conta do desempenho no primeiro campeonato. (Foto: João Garrigó)
Ainda vivendo de “paitrocínio”, canoísta acredita que pode conseguir incentivo por conta do desempenho no primeiro campeonato. (Foto: João Garrigó)

“O meu objetivo é passar isso para outras pessoas. Às vezes elas acham que tem um problema que é pequeno, quando se olha para o lado, tem um mais complexo”.

O que Rodrigo tomou como missão surgiu com a canoagem. “A minha reabilitação em primeiro lugar vem dos meus pais e o esporte foi o combustível para seguir em frente”.

Contrariando todos os clichês, Rodrigo não quer ser visto como o exemplo de superação, apesar de ter se reabilitado com chave de ouro. “O que aconteceu poderia ter acontecido com qualquer um. Todo mundo supera, uns com mais dificuldade. E está fora do alcance de qualquer um se vai acontecer ou não. Eu estou vivendo a vida que descobri com o esporte”, declara.

Na prática com o caiaque, de cara ele já entrega por que escolheu a canoagem. “Você está de igual para igual com qualquer atleta, é apaixonante”. A preparação vai além de remar. Rodrigo faz musculação e explica que apesar da prova ser curta, ele precisa de explosão para chegar ao topo. “Se já é difícil se equilibrar sem qualquer tipo de lesão, para nós é ainda mais”, completa.

Ao remar ele mantém a postura certinha e as pernas esticadas. De improviso, usa uma barra na altura da coxa por precaução, apenas para manter as pernas paradas. “O atleta se adapta ao esporte e não ao contrário”, reforça.

Os planos para 2012 são de continuar levando o esporte a sério. Por enquanto Rodrigo vive de “paitrocínio”, mas acredita que possa ter incentivo da prefeitura e do Estado “até pelo resultado que eu tive”, defende.

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