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Moradores da região do Lagoa pedem desapropriação segura

Redação | 03/10/2009 09:54

Moradores da região do Córrego Lagoa, em Campo Grande, reivindicam desapropriação "segura" da área onde são realizadas as obras de revitalização e urbanização do córrego.

Cerca de cem famílias terão que desocupar as casas, no trecho que vai da rua Panambiverá até o Macroanel.

Ontem (2) venceu o prazo da segunda ordem de despejo dada pela administração municipal para quem vive na área, e os moradores alegam não ter para onde ir nem condições de pagar aluguel.

Várias são as histórias de gente que passou quase toda a vida no local, mas terá que ir embora e teme a incerteza sobre o recebimento de outro imóvel.

Das famílias que vivem na área, o caso que mais chama a atenção é o do morador Elvídio de Oliveira, de 73 anos, que mora em um terreno de 6.232m² na rua da Restinga, bairro Coophavilla, há 23 anos.

Personagem de várias reportagens sobre pequenas produções de sucesso, Elvídio tinha uma horta que, segundo ele, abastecia a população de todo o bairro. Com seis empregados, ele produzia também húmus e adubo, que comercializava e usava na horta. Com o sucesso do pequeno negócio, ele passou a produzir frangos.

Hoje, no local onde era a horta só há mato. O ex-produtor conta que desde que soube que teria que deixar a área "desanimou". "Quem imaginava que iam fazer uma obra dessas aqui", desabafa.

Ele lembra que há alguns anos falou com um funcionário da administração pública sobre a situação de sua casa e recebeu a resposta de que poderia ficar tranqüilo porque ninguém nunca o tiraria do local.

Agora, com a ordem de despejo em mãos teme não ter para onde ir e reclama da resposta de funcionários da Prefeitura que o teriam aconselhado a pagar aluguel. "Você acha que com 73 anos eu tenho condições de começar a construir alguma coisa?", questiona.

Apesar da tristeza por deixar a área que cultivou e de ter perdido seu negócio, Elvídio diz que não se opõe à obra, que segundo ele traz desenvolvimento para a região, mas pede que o processo de retirada da família seja feito de maneira esclarecida e segura, para que eles tenham um lugar certo para morar.

"As flores e a horta vão ficar só na lembrança e nas fotos que vou levar comigo se me derem uma casinha", declara.

Sem informação - Depois de receber prazo, primeiro de cinco e depois de dez dias, para se mudarem, os moradores reclamam da falta de esclarecimento sobre o processo de desocupação, e afirmam ainda não ter recebido nenhuma garantia de que terão uma casa no conjunto habitacional Santa Emília, para onde a Prefeitura teria prometido que os levaria.

"Nunca falaram com a gente oficialmente", alega Vanda Peres Begas, de 56 anos, que mora na rua da República, no Jardim Batistão, há 30 anos. Com uma residência de 200m de área construída, ela reclama de ter que deixar o que construiu nos últimos anos de uma hora para outra.

"A gente sempre investiu nessa área. Nós fizemos a manutenção que seria responsabilidade da Prefeitura esses anos todos e a administração sabíamos que estávamos lá", diz a moradora.

A incerteza quanto à situação fez com que eles formassem uma comissão de quatro moradores, dos bairros Batistão e Coophavilla, para obter esclarecimentos sobre o assunto e informar o restante da comunidade.

Na última semana eles estiveram na Emha (Empresa Municipal de Habitação) e ficou marcada reunião na casa do morador Francisco Bezerra da Silva, de 54 anos, na rua República da Argentina.

Francisco afirma que nenhum representante da administração esteve no local nem levou o termo de adesão que os moradores teriam que assinar para provar que concordam em sair do local, o que aumentou o desespero deles. "Nós concordamos com a obra, mas queremos um teto", alega o morador, que é um dos integrantes da comissão.

Na próxima terça-feira (5), o grupo irá se reunir novamente para avaliar a situação dos moradores, que garantem estar dispostos a sair do local desde que recebam garantias de um lugar para viver.

Idosos - De acordo com a comissão de moradores, 80% das pessoas que vivem na área são idosos. Muitos deles tiveram seu estado de saúde agravado após receber a ordem de despejo.

Essa é a situação do casal Pedro Tomázio Sobrinho, de 72 anos, e da esposa Lori Tomázia, de 72 anos, que vivem há 16 anos em uma chácara de um hectare na rua da Restinga, bairro Coophavilla.

O casal de idosos conta que comprou a propriedade quando veio do Rio Grande do Sul, e pagou com um veículo F1000, único bem que possuíam na época, depois que Pedro sofreu um acidente e perdeu tudo o que tinha.

"Nós não sabíamos o que era comodato naquela época. Lá no Sul não existia isso", justifica Lori. O temor dos idosos é ter que deixar a casa sem ter outro lugar para viver. "Não temos dinheiro para pagar aluguel", revela a idosa.

Eles afirmam ainda que parte do sustento vem da propriedade, onde plantam feijão, verduras e frutas, e temem a possibilidade de serem levados para um conjunto habitacional.

"Se a terra é da Prefeitura que fique para eles, não quero nada disso. Mas quero indenização justa pelo que eu construí aqui", protesta Pedro.

As obras da região são feitas com investimento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e estão orçadas em R$ 35 milhões.

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