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Arquitetura

A dona não desistiu da história e tem a fachada mais preservada de Campo Grande

Ângela Kempfer | 19/12/2012 07:00
A fachada do restaurante ganhou o título de a mais preservada de Campo Grande. (Fotos: João Garrigó)
A fachada do restaurante ganhou o título de a mais preservada de Campo Grande. (Fotos: João Garrigó)
Portas e janelas foram preservadas.
Portas e janelas foram preservadas.

Na Antônio Maria Coelho, entre as duas principais ruas do Centro de Campo Grande, o restaurante Comida Caseira tem a fachada mais preservada na cidade. A conclusão é de um grupo formado pela prefeitura para reconhecer a melhor iniciativa de preservação histórica.

O prêmio é de 10 mil reais, o orgulho da proprietária é grande, mas o melhor do concurso que integra o projeto “Reviva Centro” é descobrir o que fez uma dentista ganhar o título pelo cuidado arquitetônico.

Suzi Vendas tem nome de família tradicional e talvez por isso dê muito valor ao passado da cidade onde nasceu. Falante, a dentista tem empolgação de menina ao contar como descobriu, comprou e recuperou a casa antiga, antes depredada.

O preço pelo prédio foi “razoável”, lembra, mas convencer o dono levou tempo e exigiu paciência. A casa é originalmente da família Paniago e estava com um servidor público federal que já não mora em Campo Grande.

“Sempre fui apaixonada por aquele imóvel. Ofereci um apartamento como pagamento e ele não aceitou. O prédio começou a se deteriorar e um ano depois o dono ligou, dizendo que aceitava o negócio”, conta Suzi

Em pouco mais de 8 meses, o prédio foi reformado, para alegria de Suzi.
Em pouco mais de 8 meses, o prédio foi reformado, para alegria de Suzi.

Mesmo dona de uma casa caindo aos pedaços, ela ficou maravilhada. Adorava observar o pé direito altíssimo, os contornos, os vitrais e janelas. Mas conseguir a reforma também foi jogo duro, até para convencer quem faria a obra a preservar.

“Procurei um engenheiro que logo tentou me convencer a derrubar tudo e levantar outro prédio, cheio de blindex, para ficar mais fácil de alugar”, conta.

Ela nem quis ouvir a proposta. “Logo disse a ele que não ia ter parceria não. Deixei claro que era justamente o contrário, que achava o imóvel maravilhoso, que nunca passou pela minha cabeça derrubar”.

Depois de algumas desilusões, finalmente encontrou um “abençoado”, como diz Suzi. O pedreiro Amarildo aceitou o desafio e fez a diferença durante a obra. “Cheguei lá em um domingo e o abençoado estava com papel e lápis, desenhando toda a fachada. Aí ele me chamou e começou a falar de cada detalhe, de como poderia recuperar os contornos originais, já escondidos pelo cimento”.

Em 40 dias, o pedreiro cuidadoso entregou o “patrimônio” recuperado, como Suzi sonhava, um presente para a história de Campo Grande.

Depois de 8 meses, o interior também ficou pronto e a tarefa de encontrar alguém para alugar passou a ser especial. “A história do aluguel também é linda”, comenta. “Não queria qualquer um. Do outro lado da rua, um casal jovem tinha aberto um restaurante bem pequeno, mas com fila por conta da comida boa. Fui até lá e perguntei se eles queriam alugar”.

Suzi lembra que no primeiro momento o casal achou não dar conta dos custos de um imóvel bem maior, em um ponto tão valorizado, mas a proprietária veio de novo com aquela conversa de parceria e acabou convencendo os dois. “Cobrei aluguel abaixo do valor de mercado, com a condição de reajustar só dois anos depois. Deu super certo”.

Agora, o “Comida Caseira” serve almoço no prédio com a fachada mais preservada de Campo Grande.

Os detalhes recuperados na fachada. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Os detalhes recuperados na fachada. (Foto: Rodrigo Pazinato)
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