ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 24º

Arquitetura

A Onça sumiu da Afonso Pena! Apagaram painel que por 22 anos foi cartão postal

Ângela Kempfer e Adriano Fernandes | 19/02/2016 10:27
Onça foi pintada em 1994.
Onça foi pintada em 1994.
O mesmo paredão hoje, sem a obra.
O mesmo paredão hoje, sem a obra.

Um dia, passando pela Afonso Pena, a gente descobre que apagaram uma das nossas marcas: a “Onça”, felino com letra maiúscula porque fez história de 22 anos ali no paredão de 220 metros quadrados, na principal avenida de Campo Grande.

Os moradores do Condomínio Inah decidiram passar um tom esverdeado sobre a tela gigante, produzida em junho de 1994, a primeira do tipo assinada pelo artista plástico Cleir. Depois de uma revitalização em 2003, ela nunca mais recebeu uma pincelada. Desbotou e a solução encontrada para resolver a velhice da obra foi a mais simples possível: apagar.

“Quando passei por lá é vi tudo branco veio aquela sensação ruim. Tinha uma importância para essa cidade. Quando o City Tur passava por lá, a obra era comentada. Era um cartão postal. É um prédio particular, não tem o que fazer. Mas, independente disso, o lamento por perder algo assim não pode ser silencioso”, diz Cleir.

Nos últimos anos, ele tentou de todas as formas captar recursos para a recuperação da Onça. Procurou governo, prefeitura, iniciativa privada, lançou até campanha na internet, mas não conseguiu arrecadar o valor necessário. "O antigo síndico do prédio era parceiro na revitalização, mas na época da campanha na internet os moradores disseram que a gente estava denegrindo o prédio e até mudaram de síndico", afirma Cleir.

O tombamento também foi proposto, sem sucesso. "Não foi aprovada. Pedimos na mesma época em que os vereadores queria tombar até o relógio do Hans Donner", lembra Cleir sobre a obra comemorativa aos 500 anos do descobrimento do Brasil, instalada na Praça Ary Coelho.

Tuiuiús Também já sumiram da Afonso Pena.
Tuiuiús Também já sumiram da Afonso Pena.

Passar a borracha- No dia 27 de janeiro houve uma reunião de condomínio no Edifício Inah e, em votação, 19 moradores pediram para cobrir a onça. Apenas dois defenderam a restauração.

A síndica Regina Célia Miranda garante que também não gostou da solução, mas diz que não havia outra alternativa diante de problemas estruturais do prédio. "Também senti muito, mas tinha infiltrações e faltava dinheiro. O último orçamento que ele (Cleir) apresentou para a gente foi de R$ 182 mil".

Apagada com tinta, a obra segue o mesmo caminho de outros painéis criados na década de 90, hoje desbotados, sem dinheiro para revitalização, ou simplesmente escondidos por grandes peças publicitárias, como os tuiuiús também da Afonso Pena.

A ironia é que, no caso das aves símbolos do Pantanal, a obra atualmente está escondida sob um painel da operadora Vivo, a mesma que patrocinou alguns dos trabalhos de Cleir, inclusive, a revitalização da Onça há 13 anos. "Antes a publicidade deles era regionalizada, hoje é tudo nacional. Isso atrapalha muito, porque as grandes empresas não investem mais na arte aqui", explica Cleir.

História - Em 1994, o projeto Cores da Cidade patrocinou artistas plásticos que ocuparam espaços públicos de Campo Grande, Cleir foi um deles.

A proposta previa apoios de empresas privadas e o Banco Real foi parceiro na Onça da Afonso Pena. "Fiquei 40 dias lá, em frio de rachar, tinha o maior medo de ficar pendurado lá no alto, mas achava linda a composição que a onça fazia de longe com as árvores da Praça do Rádio Clube", diz o artista sobre o que agora será apenas lembrança.

Nos siga no Google Notícias