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Arquitetura

Avenida guarda poucos dos moradores originais nos casarões da Afonso Pena

Paula Maciulevicius | 27/08/2013 06:41
Em uma das esquinas, a casa fechada há anos, foi construída pelo ex-governador Pedrossian e vendida para pagar dívidas de campanha. (Fotos: Marcos Ermínio)
Em uma das esquinas, a casa fechada há anos, foi construída pelo ex-governador Pedrossian e vendida para pagar dívidas de campanha. (Fotos: Marcos Ermínio)

As grandes mansões que contavam histórias de famílias, hoje estão ao chão ou abriram as janelas para o comércio. A Afonso Pena vem perdendo os casarões com o passar dos anos, uma das últimas derrubadas foi para dar lugar a um hotel. Da casa só restou o muro da frente e as lembranças de uma época em que a principal avenida da cidade guardava a vida de famílias em mais de 800 metros quadrados.

Em uma das esquinas, a casa fechada há anos já pertenceu à família do ex-governador Pedro Pedrossian. Vendida em 1986 para pagar dívidas de campanha, as paredes da estrutura estilo colonial mexicano casou três filhos de Pedrossian e era o único bem que uma das herdeiras gostaria de ter de volta.

“Se tivesse dinheiro, era a única casa que eu queria recomprar”, conta Rosa Pedrossian, de 58 anos.

A casa foi a primeira construída na avenida. O terreno foi dado ao então governador depois do encerramento do primeiro mandato, pelos secretários de Pedrossian. Na época a Afonso Pena terminava na rua Bahia e para chegar até a casa, motorista estava sujeito a atolar o carro.

Casarão na Afonso Pena foi demolido para dar vez a um hotel.
Casarão na Afonso Pena foi demolido para dar vez a um hotel.

Com jardins internos e no estilo que era moda e paixão da esposa de Pedrossian, foi pelas mãos do próprio ex-governador que ela tomou forma. Pedro desenhou e o arquiteto Avedis Balabanian deu o toque final. De 1986 para hoje, o casarão já passou por muitos donos, mas sempre com a imagem da eterna casa do governador.

Há cerca de um mês uma das casas até então habitada pela matriarca da família Dibo ganhou uma placa de aluga-se. A senhora se mudou para um apartamento. O valor da casa, alugada para residência ou fins comerciais é de R$ 30 mil mensais, o que demonstra o percentual mínimo de valor da mansão.

Das famílias que habitavam os casarões, apenas duas permanecem na Afonso Pena. Dona Celina Nachif, de 68 anos, mantém os 850 metros quadrados de residência, sem portão, muro ou cerca elétrica.

“Nos mudamos em 8 de setembro de 1977, era o sonho de todo mundo morar na Afonso Pena”, conta. Os filhos foram criados ali quando os anos não permitiam qualquer avanço e o asfalto acabava a poucos metros. De fundo ainda passava um córrego e a cidade, para baixo, tinha fim na 15 de Novembro, de resto era só mato.

“Não tinha luz, a energia não chegava até aqui. Foi o meu marido e os vizinhos que ajudaram a pagar a fiação e compraram os postes”.

Desocupada há um mês pela matriarca da família Dibo, casa está para alugar por R$ 30 mil.
Desocupada há um mês pela matriarca da família Dibo, casa está para alugar por R$ 30 mil.

De fora se pensa que se ouve todo barulho de carros e buzinas. No entanto, porta adentro a impressão que dá é que se está em uma chácara, de tanto silêncio. No coração de quem mora ali, a resistência em deixar a Afonso Pena.

“Eu tenho o nascente e o poente. O leste e oeste da Afonso Pena e tudo acontece e passa por aqui. Eu vi os primeiros carros importados. Morando aqui eu me sinto inserida dentro de todos os contextos político, social. Vejo de largadas de corrida a protestos e manifestações de apoio” descreve Celina.

A moradora mais nova de um dos casarões tem de idade o que a casa tem de história. Também na Afonso Pena, Darlene Barros, de 40 anos, vive o dilema do apego ao lar e os contrapontos de trânsito, fluxo intenso e uma avenida mal planejada para suportar os avanços da modernidade.

“Sentimos muito a perda do canteiro da Afonso Pena pelos estacionamentos. Temos problema até de estacionarem na nossa garagem, mas de resto, já me acostumei. Ainda é facilidade, a avenida é a espinha dorsal que te leva para todos os cantos”, relata.

A resistência dela é por amor à casa e a história, afinal são quatro décadas de grandes recepções e de uma casa que sempre promoveu encontros.

No fundo, no fundo, as mansões da Afonso Pena ainda guardam um pouco dos donos, ainda que estejam para ser deixadas.

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