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Arquitetura

Cadeira indígena recepciona em casarão e mostra que design autoral está com tudo

Paula Maciulevicius | 28/08/2016 09:02
A cadeira indígena feita a partir das mãos de guarani-kaiowá é da arquiteta Luciana Teixeira. (Foto: Janaína Lott)
A cadeira indígena feita a partir das mãos de guarani-kaiowá é da arquiteta Luciana Teixeira. (Foto: Janaína Lott)

"Nhanderu" é quem dá as boas vindas aos visitantes da Casa Cor 2016. A cadeira indígena feita a partir das mãos de guarani-kaiowá é da arquiteta Luciana Teixeira, responsável pela fachada da mostra e, uma das peças desta edição que trouxe o design autoral para o casarão dos Dibo, na Afonso Pena.

Em guarani, "nhanderu" quer dizer Deus, pai de todos e índio rezador. De estrutura de aço inox ou metal e com tecido impermeável elástico, como neoprene, lycra ou helanca, a cadeira é, segundo a arquiteta, resultado da análise do comportamento dos tecidos elásticos tensionados em base rígida, geométrica e circular. Forma que faz referência à habitação tradicional de algumas etnias indígenas, a oca, aliada à pesquisa sobre arte plumária, artesanato, cultura e estética indígena brasileira. Os detalhes vem do artesanato indígena: penas artificiais, bambu, sementes e palha trançada. 

Dentro das pesquisas, a arquiteta chegou à historiadora e ativista da causa, Fabi Fernandes, que foi quem fez a ponte e abriu as portas da aldeia Jaguapiru, em Dourados, para Luciana. Em uma visita, a arquiteta explicou o projeto, levou o material e voltou 15 dias depois para receber as peças.

Na fase de confecção,
Na fase de confecção,
na aldeia Jaguapiru. (Fotos: Arquivo/Luciana Teixeira)
na aldeia Jaguapiru. (Fotos: Arquivo/Luciana Teixeira)

Característica dos guarani, o artesanato é tradicionalmente uma atividade familiar, que desenvolve o trabalho misturando os trançados de palha que reproduzem grafismos cheios de significado que remetem à mitologia ancestral e ao espírito cosmológico indígena, com bambu, matéria-prima local abundante, que junto das sementes, são considerados elementos sagrados, que significam proteção e o fortalecimento do espírito.

Da fabricação, Luciana explica que a cadeira teve a intervenção criativa do seu Jorge e da dona Alda, um dos últimos rezadores guarani. "A ideia surgiu da pesquisa sobre a cultura material dos índios que habitam a região Centro-Oeste do Brasil, no Mato Grosso do Sul, mais precisamente na Grande Dourados, onde vivem espremidos em pequenos pedaços de terra cercados por fazendas de gado e vastos campos de soja e cana", descreve Luciana.

O projeto, de acordo com a arquiteta, tem a intenção de utilizar o design como denúncia da situação dramática dos povos indígenas no Estado, além do desejo de divulgar e fortalecer a rica cultura material deles, através do resgate das técnicas de arte e artesanato produzidas pela etnia.

"O desdobramento da criação destes protótipos será a criação de oficinas para ensinar a Karaí (homem branco), o artesanato indígena, já que há disposição de ensinar e grupos artesãos locais interessados em aprender. Além de criar demanda de trabalho na aldeia, a elaborada técnica ancestral deverá gerar sustento e reconhecimento do valor do índio brasileiro, mostrando a toda sociedade o quanto é rica, exótica e original é nossa cultura", enfatiza Luciana.

Como um todo, a fachada mistura um convite à reflexão dos conflitos indígenas no Estado com o comportamento sul-mato-grossense. "Essa pesquisa me levou à conclusão de que nós vivemos mais ao redor das nossas casas do que dentro. Ou seja, precisamos de um mobiliário com tecidos impermeáveis, para que se possa sentar de biquini, tomar tereré, receber amigos", explica Luciana. 

"Nhanderu" divide espaço com as cadeiras "Pantanal Beach" e fazem parte da linha "Litoral Central", criada pela arquiteta em cima do estilo de vida e hábitos no Estado para ambientes como varanda, sala de estar e área externa. 

A Pantanal Beach, também presente na Casa Cor, leva os mesmos materiais na estrutura, aço ou metal e tecido impermeável. A inspiração, segundo a arquiteta, vem do estilo de vida de quem vive nos trópicos, sol altas temperaturas e que tornam churrascos e rodas de tereré parte na nossa rotina.

Detalhe do artesanato indígena. (Foto: Janaína Lott)
Detalhe do artesanato indígena. (Foto: Janaína Lott)
Cadeira Pantanal Beach. (Foto: Janaína Lott)
Cadeira Pantanal Beach. (Foto: Janaína Lott)
De Le Pasqualotto, mesa mistura ferro e troncos de árvores. (Foto: Marcos Ermínio)
De Le Pasqualotto, mesa mistura ferro e troncos de árvores. (Foto: Marcos Ermínio)

Em outros dois espaços, o designer autoral tem a assinatura de Le Pasqualotto, a designer de interiores, Maria Lenise Fernandes Pasqualotto. Na Varanda da Família, ambiente das arquitetas Eloisa Vicari e Liana Godoy, o conforto e o aconchego foram traduzidos para a mesa e o puff. Criação de Le Pasqualotto, a estrutura de ferro da mesa, com pintura eletrostática tem como detalhe toras de madeiras cortadas em formato quadrado, justamente para trabalhar o conceito que a varanda propõe, de aconchego e família através de materiais rústicos. 

Tanto na varanda quanto na Sala de Convívio, ambiente assinado pelas arquitetas Annelise Giordano e Gelise Almeida, Lenise também criou um puff de pele de carneiro uruguaio, que se diferencia pela cor clarinha, inexistente no Estado. Montado em cima de um metal recortado a laser, na sala de convívio, ele faz toda a diferença. 

As mesas também são da designer, bem como o lustre. "Nós queríamos seguir uma tendência mundial, que é a das brincadeiras geométricas. Na mesinha de centro, são jogos de retângulos em tamanhos diferentes, como se um entrasse no outro e na mesa alta, a trama de ferro que além de estar na horizontal, tem um tampão côncavo, algo extremamente artesanal", explica Gelise Almeida. 

Na Boutique Conceito, da designer Daiana Capuci, das esquadrias de alumínio ao sofá, tudo saiu das mãos de Daiana. Com inspiração do design italiano, o sofá de veludo foi adaptado para o pequeno espaço. "Em forma diagonal, para poder ter toda essa circulação em volta", completa a designer. 

A Casa Cor fica aberta até o dia 9 de outubro, de terça a domingo, das 16h às 22h, na Avenida Afonso Pena, 4025. Ingressos na bilheteria do evento. A entrada inteira custa R$ 40 e a meia, R$ 20,00.

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Mesa alta da sala de convívio, a trama de ferro "brinca" com o tampo côncavo, de Le Pasqualotto. (Foto: Marcos Ermínio)
Mesa alta da sala de convívio, a trama de ferro "brinca" com o tampo côncavo, de Le Pasqualotto. (Foto: Marcos Ermínio)
Sofá de veludo em diagonal, criação de Daiana Capuci. (Foto: Marcos Ermínio)
Sofá de veludo em diagonal, criação de Daiana Capuci. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de convívio de Annelise Giordano e Gelise Almeida usou em peças a tendência geométrica. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de convívio de Annelise Giordano e Gelise Almeida usou em peças a tendência geométrica. (Foto: Marcos Ermínio)
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