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Arquitetura

Campo Grande “caminha”, mas ainda deve muito à acessibilidade

Elverson Cardozo | 25/05/2013 07:33
Apesar do crescimento, Campo Grande ainda precisa se adequar às normas de acessibilidade. (Foto: Elverson Cardozo)
Apesar do crescimento, Campo Grande ainda precisa se adequar às normas de acessibilidade. (Foto: Elverson Cardozo)

Campo Grande ainda não é uma cidade totalmente acessível. Totalmente, aliás, não é uma boa palavra para ser colocada quando o assunto é acessibilidade. A nível nacional, inclusive, é difícil encontrar algum lugar assim, “completamente” dentro da lei, apesar dela ser antiga. A boa notícia é que a Capital “caminha para uma mudança”, mas ainda falta muita coisa.

A correção e a constatação da “evolução a passos lentos” vêm de quem entende do assunto: Rosana Puga de Moraes Martinez, diretora-presidente da SPA (Sociedade em Prol da Acessibilidade, Mobilidade Urbana e Qualidade de Vida de Mato Grosso do Sul).

“É muito difícil achar um local totalmente acessível, porque quando você fala em totalidade tem que pensar no público alvo como um todo. É uma gama muito grande, mas existem locais com bom grau de acessibilidade”, disse, evitando citar exemplos.

Que a lei existe e precisa ser cumprida, isso não é novidade, mas muita gente ainda prefere pagar multas ao invés de se adequar. E não é só em propriedades privadas que se nota o desrespeito. Não faltam exemplos.

Pilar foi colocado no piso tátil recém instalado. (Foto: Viviane Oliveira/Arquivo)
Pilar foi colocado no piso tátil recém instalado. (Foto: Viviane Oliveira/Arquivo)
Mureta foi construída para impedir água da chuva, mas atrapalhou a passagem. (Foto: Simão Nogueira/Arquivo)
Mureta foi construída para impedir água da chuva, mas atrapalhou a passagem. (Foto: Simão Nogueira/Arquivo)

Em setembro 2012, uma empresa de Campo Grande, contratada pela Prefeitura, instalou pilares para construção de um ponto de ônibus bem em cima do piso tátil da calçada da Praça Ary Coelho. Com a polêmica, o município reconheceu o erro e o serviço foi refeito.

Em março deste ano, os donos de uma corretora de imóveis foram duramente criticados pela construção de um mureta no meio de um calçada da rua Antônio Arantes, no bairro Chácara Cachoeira.

O obstáculo, segundo o responsável, era para evitar que a água da chuva invadisse o escritório, mas a barreira acabou dificultando a passagem de pedestres. Um cego ou cadeirante, por exemplo, não conseguiriam atravessar o local com segurança.

O descaso também é problema. Na Capital não é difícil flagrar proprietários de imóveis que colecionam calçadas esburacadas, irregulares.

Calçadas irregulares, "esfarelando", também são problemas. (Foto: Vanderlei Aparecido/Arquivo)
Calçadas irregulares, "esfarelando", também são problemas. (Foto: Vanderlei Aparecido/Arquivo)

Segundo a diretora do SPA, a falta de informação é o maior problema que os profissionais de arquitetura enfrentam quando tentam implantar um projeto que segue as diretrizes de acessibilidade.

Alguns, contou, chegam a ouvir absurdos. “A gente escuta eles narrarem, nos encontros, nas reuniões, que enfrentam barreiras por parte dos clientes. Alguns perguntam: ‘mas para que? Aqui não vem pessoa com deficiência’”, contou. “É lógico que a pessoa não vai lá. Não vai porque não tem um ambiente acessível”, protestou.

O que todo mundo precisa entender, completou, é que a acessibilidade, ao contrário do que se pensa, não é só para pessoas com deficiência ou idosos.

“É para gestante que está em condição de mobilidade reduzida, obesos, para aquele estudante que foi praticar esporte no final de semana, se machucou e vai ficar 6 meses engessado...”, disse, exemplificando.

A acessibilidade, nas palavras da presidente, é para todos nós. Em algum momento da vida vamos precisar. Construir um espaço acessível o próprio ambiente do futuro.

Apesar “muita coisa ter sido feita”, o crescimento faz aumentar a demanda e a cidade “grita” por acessibilidade, teoriza Rosana. “Somos porta de entrada para um patrimônio turístico sem igual, mas Campo Grande só vai ganhar se começar a investir em mobilidade urbana e acessibilidade”, declarou.

Guia prático de acessibilidade foi entregue na 2ª Decon. (Foto: João Garrigó)
Guia prático de acessibilidade foi entregue na 2ª Decon. (Foto: João Garrigó)

Guia de acessibilidade - O assunto é recorrente e sempre é abordado em palestras, seminários, na maioria dos encontros de profissionais e estudante que atuam ou pretendem trabalhar na área da arquitetura.

Este ano, a SPA-MS elaborou, em parceria com o CAU – MS (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado), um guia prático de acessibilidade.

A cartilha, que foi distribuída aos participantes da 2ª Decon-MS, feira de decoração que aconteceu em Campo Grande, é direcionada a projetistas e conta com a diretrizes básicas da NBR-9050/2004, norma técnica que regulamenta a acessibilidade a edificações, mobiliário e equipamentos urbanos.

São 63 páginas de orientações que trazem, por exemplo, as exigências para construção de sanitários, bebedouros, balcões, auditórios, cinemas, teatros, cozinha. O material também elenca as especificações para o acesso e circulação e destaca as normas para construção de calçadas, guias rebaixadas, faixas elevadas, rampas, corrimão, guarda-corpo, degraus, entre outros.

Há, ainda, as definições importantes para sinalização visual, tátil, sonora, de vagas para veículos e até o local determinado para o posicionamento do intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Além das especificações para projetos residenciais e comerciais, o guia também abrange as diretrizes recomendáveis para obras públicas, como parques, praças e locais turísticos. Delegacias e penitenciárias também estão incluídas.

A intenção dos órgãos é divulgar a legislação e sensibilizar a sociedade sobre as dificuldades encontradas no uso dos espaços utilizado pelas pessoas com deficiência, permanente ou temporária, mobilidade reduzida, idosos ou gestantes.

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