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Arquitetura

Casa na Joaquim Murtinho está ali desde 1932 e já serviu para grandes festas

Thailla Torres | 14/04/2016 07:45
Por trás das paredes vermelhas e pichadas há muitas lembranças e saudade dos tempos em que o lugar era palco para grandes festas na cidade. (Foto: Fernando Antunes)
Por trás das paredes vermelhas e pichadas há muitas lembranças e saudade dos tempos em que o lugar era palco para grandes festas na cidade. (Foto: Fernando Antunes)

Quem passa pelo imóvel histórico na Rua Joaquim Murtinho não imagina que por trás das paredes vermelhas e pichadas há muitas lembranças e saudade dos tempos em que o lugar vivia lotado de amigos e era palco para grandes festas na cidade. 

Construída em 1932, na época, José Lescano fez do local a sede do Cônsul do Paraguai. Foi assim por 20 anos, até que uma família japonesa comprou o prédio em 1950. Ainda hoje, Celina Kawana, de 70 anos, mora na casa, junto dos irmãos Nelson e Sumie.

Celina sente saudades da casa movimentada, mas admite que não quer sair dali. (Foto: Alan Nantes)
Celina sente saudades da casa movimentada, mas admite que não quer sair dali. (Foto: Alan Nantes)

Já são 66 anos no mesmo endereço que já serviu de residência para os pais que vieram do Japão em busca de uma vida mais tranquila no Brasil. Quando compraram a casa, os pais de Celina gostaram da beleza e do espaço que acomodaria muito bem pai, mãe e os 10 filhos. "Aqui funcionava o consulado e nesta sala grande era a recepção. Quando a casa foi comprada, servia de espaço para as reuniões de família e festas de amigos do meu pai", conta.

São 242m² de área construída em um terreno tem 1.600 m². As paredes, janelas e azulejos portugueses mostram que nem o tempo e a falta de manutenção acabaram com a originalidade. O desgaste é aparente nas paredes desbotadas.

Quando o paraguaio José Lescano vendeu o lugar, deixou também a mobília que hoje faz parte da história da casa. Os móveis de madeira são os mesmo desde o tempo do consulado. Celina calcula que são mais de 80 anos de uso. 

As últimas festas aconteceram com no fim da década de 60. Muitos foram embora da cidade por conta do trabalho ou estudos. Ela e os pais continuaram a seguir a vida, enquanto as tradições e alegria ficaram na saudade. "De vez em quando, a gente lembra das histórias, sou do tempo que a rua Joaquim Murtinho era o trajeto das boiadas. Hoje fazemos festas na casa de outros amigos".

Esta é a sala onde aconteciam as festas e as reuniões de família. (Foto: Fernando Antunes)
Esta é a sala onde aconteciam as festas e as reuniões de família. (Foto: Fernando Antunes)

Dentro do imóvel, as gigantescas salas chamam atenção como a principal lembrança dos tempos que a casa vermelha era admirada pelos moradores da região. "A gente foi muito feliz nesta casa e ela sempre vivia cheia. Vinham amigos jogar ping pong e também se reunir para as festas. Tinha baile, aniversário, Ano Novo e até casamento teve nesta sala", lembra.

Hoje, no lugar das festas, estão apenas as poltronas de madeira com estofado de couro, uma geladeira velha, objetos da família e o altar budista que é mantido por Celina em respeito ào pai. Na cozinha estão os armários e a cristaleira deixadas pelo antigo cônsul.

Uma volta pela enorme casa e Celina nos leva ao pomar. Por muitos anos toda a família se dedicou a cuidar dele. Neste outono, as folhas tomam conta do chão, mas durante o ano ela continua colhendo manga, goiaba, acerola, jabuticaba pitanga e banana.

Do outro lado da casa, havia um lindo jardim, hoje preenchido por tijolos. Nos fundos, há uma edícula e um galpão de madeira feito pelo pai, onde o senhor trabalhava como mecânico.

A arquitetura antiga e os detalhes desperta a curiosidade sobre a casa vermelha. (Fotos: Fernando Antunes)
A arquitetura antiga e os detalhes desperta a curiosidade sobre a casa vermelha. (Fotos: Fernando Antunes)
Na cozinha, estão móveis de madeira que Celina calcula ter mais 80 de anos.
Na cozinha, estão móveis de madeira que Celina calcula ter mais 80 de anos.

Mesmo com a saudade dos pais e de alguns irmãos que moram fora de Campo Grande, aos dos dois irmãos Celina agradece por continuar na casa e garante que só sai dali quando morrer. "Meus irmãos querem nos levar para um apartamento, mas eu disse que só se for depois que eu morrer, porque essa casa eu não vendo", garante.

Há cerca de 20 anos, uma construtora ofereceu um valor "alto" pela residência, que seria demolida para dar lugar a um edifício luxuoso. Mas a moradora recusou a proposta em consideração à luta dos pais e à história da família.

Ela e os irmãos são aposentados. Celina formou-se em Letras na antiga universidade Fucmat, trabalhou como professora de português nas Escola Municipal Arlindo Lima, no Ginásio São Luiz e foi chefe da Biblioteca Municipal de Campo Grande.

Mesmo conhecendo tanta gente, ela garante que são poucos os que sabem da história da família e sobre o que a casa vermelha representou a tantas pessoas.

Infelizmente a fachada sofreu com os atos de vandalismo. (Fotos: Fernando Antunes)
Infelizmente a fachada sofreu com os atos de vandalismo. (Fotos: Fernando Antunes)
Do lado de fora, a fachada com extensão de 20 metros ainda é mantida.
Do lado de fora, a fachada com extensão de 20 metros ainda é mantida.
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