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Arquitetura

Com mais de 60 anos de história, conveniência Vai ou Racha é demolida

O lugar fazia parte da história do bairro e há alguns anos abraçou eventos alternativos na cidade

Thailla Torres | 07/02/2017 17:42
Local conhecido por abraçar eventos da cena alternativa da cidade, não existe mais. (Foto: Marcos Ermínio)
Local conhecido por abraçar eventos da cena alternativa da cidade, não existe mais. (Foto: Marcos Ermínio)

Um dos bares mais antigos de Campo Grande não existe mais. Desde sábado, o prédio onde funcionava a conveniência Vai ou Racha, no bairro São Francisco, é ruína. Com mais de 60 anos de história, o bar dividia o terreno com farmácia e loja de móveis usados. Tudo foi destruído.

Quem acompanhou a chegada das máquinas, foi a proprietária Irene Araújo dos Santos, de 58 anos. Chateada, ela conta que parte do terreno foi arrendado para a rede de farmácias Drogasil, por um período de cinco anos, depois de uma votação em família no final de 2016. "Isso aqui pertence a cinco irmãos. Eu não queria arrendar, mas três foram a favor e só dois contra. E eles venceram e acabamos arrendando", lamenta.

A área de 3 mil m² é herança de família, mas só um terço do terreno foi arrendado. Irene lamenta a decisão, diante da importância histórica do prédio para a cidade, mas conta que estava difícil manter o impasse em família.

"As pessoas falam em tombamento, mas quando isso acontece, não recebemos um incentivo. E o papai deixou isso aqui para garantir um futuro para gente e alguns irmãos estavam precisando seguir em frente, por isso decidiram arrendar", justifica.

Irene lamenta a demolição, mas diz que foi uma decisão em família. (Foto: Marcos Ermínio)
Irene lamenta a demolição, mas diz que foi uma decisão em família. (Foto: Marcos Ermínio)

O lugar existe desde a década de 1950, fundado por Luziano dos Santos, pai de Irene. O “verdadeiro” Vai ou Racha foi fechado na década de 1980, porque seu Luziano, depois de muito batalhar, comprou uma fazenda em Rochedo e foi viver a vida de produtor rural. Por alguns anos, o espaço foi alugado e na mão dos outros, já foi boteco e farmácia.

Há 20 anos, parte do estabelecimento voltou às mãos da família, enquanto o restante continuava alugado. Nas cores amarelo e vermelho, o nome original voltou à fachada e as portas se abriram para um bar que era administrado por Irene. Ela passou a ceder o espaço para encontros da cena alternativa em Campo Grande e o lugar se tornou ponto de encontro entre jovens.

Irene chorou quando tudo foi para o chão. Pelo telefone, as várias ligações eram de amigos e de quem mantém indignação com o caso. Ela diz que entende, mas promete não abrir mão de quem abraçou o bar e mudou o cenário do São Francisco com a cultura.

"Quando vi as máquinas comecei a chorar, mas eu disse que não vou abrir mão dos meus amigos que ocuparam esse espaço. Já estou com planos de construir um novo salão para as festas. Mas preciso esperar essa obra que deve estar pronta em 70 dias", completa.

Parte do lugar que era ocupado pela loja de móveis também foi destruído.
Parte do lugar que era ocupado pela loja de móveis também foi destruído.
Parede que ainda está em pé, sustenta recadinho feito a mão no bar. (Foto: Marcos Ermínio)
Parede que ainda está em pé, sustenta recadinho feito a mão no bar. (Foto: Marcos Ermínio)

E não é de hoje que o lugar é um ponto cobiçado na cidade. Irene já perdeu as contas, mas diz que recebeu muitas propostas. Comerciante, rede de farmácia e fast-food são exemplos de quem já tentou comprar a área.

Já para quem ocupava o espaço com eventos culturais, o Vai ou Racha tem um importância histórica que agora fica na saudade. O ator Fernando Cruz, do Teatro Imaginário Maracangalha recebeu a notícia com tristeza, já que o bar teve influência no desenvolvimento da companhia teatral.

"Pra gente, foi  importante, porque foi sede do teatro. Pela história da família, a gente pode conhecer um pouco da cidade e da importância dos negros que desenvolveram a região. Seu Luziano foi quem fez os tijolos e construiu, ele quem cedeu a terra para construir a igreja do bairro", conta. 

Ele lamenta a falta de valorização do patrimônio. "Campo Grande é uma cidade que valoriza pouco os prédios históricos, e o que tem, está abandonado. Ver o Vai ou Racha demolido é um espelho do abandono do patrimônio e da cultura da cidade. Fico refletindo o que vai ser de uma cidade que não cuida da sua história..."

Nas redes sociais, amigos e grupos lamentam a demolição e lembram os momentos que marcaram o lugar. Já Fernando, garante que a praça São Francisco, que fica em frente, continuará sendo ocupada com eventos culturais. "Independente, continuaremos por lá, a praça é do povo e na sexta-feira já faremos um pré-carnaval", ressalta.

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Espaço fundado pelo seu Luziano na década de 1950. (Foto: Arquivo Pessoal)
Espaço fundado pelo seu Luziano na década de 1950. (Foto: Arquivo Pessoal)
Fachada do Vai ou Racha onde aconteciam eventos culturais da cidade. (Foto: Arquivo/Marcelo Calazans)
Fachada do Vai ou Racha onde aconteciam eventos culturais da cidade. (Foto: Arquivo/Marcelo Calazans)
Como o lugar está hoje. (Foto: Marcos Ermínio)
Como o lugar está hoje. (Foto: Marcos Ermínio)
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