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Arquitetura

Consultório de madeira parece chalé e tem carta de paciente ilustre na decoração

Paula Maciulevicius | 09/11/2015 06:45
O chalé quase todo de madeira parece casa, mas é a arquitetura que a médica escolheu como consultório. (Foto: Fernando Antunes)
O chalé quase todo de madeira parece casa, mas é a arquitetura que a médica escolheu como consultório. (Foto: Fernando Antunes)

Distante dos ares de um CTI, longe de ter qualquer semelhança com um hospital a não ser pelo jaleco branco de quem recebe sorrindo cada visitante. O chalé quase todo de madeira parece casa, mas é a arquitetura que a médica cardiologista Maria Augusta Pereira Rahe escolheu para ser seu consultório, 14 anos atrás.

"Eu trabalho em um local há 37 anos, é o CTI da Santa Casa, onde tudo é fechado e não tem janela. Eu queria vegetação, jardins, que meu paciente visse o beija-flor, os passarinhos... Sempre quis morar numa casa de madeira", explica Maria Augusta. Dos 62 anos de vida, 39 deles são dedicados à Medicina, divididos entre casa, CTI e consultório.

Na sala de consultas, marca-passos de pacientes são decoração de mesa. (Foto: Fernando Antunes)
Na sala de consultas, marca-passos de pacientes são decoração de mesa. (Foto: Fernando Antunes)
Espaço tem cama para pacientes aguardarem (Foto: Fernando Antunes)
Espaço tem cama para pacientes aguardarem (Foto: Fernando Antunes)
e piano que cardiologista toca até hoje. (Foto: Fernando Antunes)
e piano que cardiologista toca até hoje. (Foto: Fernando Antunes)

Foram as ponderações acima que a levaram a querer um espaço aconchegante para viver o dia a dia com os pacientes. À época, uma empresa hoje já fechada, que fazia residências de madeira em Campo Grande. "As madeiras vinham cortadas em vários tamanhos e as plantas tinham de ser adequadas a esses tamanhos", recorda a médica.

O consultório mistura alvenaria, mas é quase 80% de madeira grapia, obedecendo certos critérios: como distância mínima de 2m entre casa e muro e por exigência da Vigilância Sanitária, banheiro, cozinha e onde mais houver pia, o espaço precisa ser de concreto.

Foram apenas três meses de construção do consultório, na Rua São Paulo, bairro São Francisco. "Eu fiz a parte de alvenaria e a madeira, vem quase toda cortada, e é colocada como se fosse um encaixe", descreve Maria Augusta. Somente às janelas foram feitas à parte, de forma que parecessem mais um estabelecimento do que uma residência.

Por onde os olhos chegam, não se vê nenhum fio por fora. Réguas de madeira cruzam as paredes para não deixar nada da fiação à mostra. Tudo fica ali dentro, de cima, até embaixo. A manutenção é feita entre um intervalo de seis meses a um ano, ora com verniz, ora com um produto específico usado em navios, para que quando a água bater, escorra.

Recortes de jornais e cartas enfeitam recepção, inclusive telegrama de ex-governador. (Foto: Fernando Antunes)
Recortes de jornais e cartas enfeitam recepção, inclusive telegrama de ex-governador. (Foto: Fernando Antunes)
Foto do Relógio da 14 foi presente de Roberto Higa, alguns dias antes da consulta, para "amansar" médica.
Foto do Relógio da 14 foi presente de Roberto Higa, alguns dias antes da consulta, para "amansar" médica.

Pianista, antes das letras, Maria Augusta aprendeu a ler primeiro a partitura de música. Uma das salas tem um piano, que é tocado até hoje pela médica aos finais de semana ou em dias de folga. O ambiente é um espaço dedicado aos pacientes que, chegam às vezes indispostos, se deitarem.

Na sala em que ela atende, a cortina fica quase o tempo todo levantada, para que quem se sente, tenha uma vista para a vegetação, um verde digno de ser contemplado. À mesa, a história de pacientes que aos poucos deixam um pouquinho deles ali. Cada um que troca o marca-passo ou passa pelo transplante de coração, devolve o antigo à médica. "Eles vão trocando e me dando..."

Pelas paredes da recepção, estão lembranças dos próprios pacientes. Recortes de crônicas publicadas em jornais que citavam "puxões de orelha" que levariam da médica, ou agradecimentos pelo carinho recebido. Cartas escritas à mão pelo padre que foi professor antes de se tornar paciente e ainda um telegrama do médico e ex-governador Fernando Corrêa da Costa.

Vindo da fazenda, o recado dizia que a irmã dele aceitara fazer a cirurgia e que a cardiologista deveria olhar os exames dela antes, no fim, Dr. Fernando se despede dizendo que se sente "abandonado" pela amiga médica, que os dois não se encontravam nem mais nas festas.

Aconchegante, recepção mantém fotos e cartas como decoração. (Foto: Fernando Antunes)
Aconchegante, recepção mantém fotos e cartas como decoração. (Foto: Fernando Antunes)
Detalhes (Foto: Fernando Antunes)
Detalhes (Foto: Fernando Antunes)
do corredor. (Foto: Fernando Antunes)
do corredor. (Foto: Fernando Antunes)

"É uma coisa de família, meu pai sempre teve essa tradição de guardar as coisas, eu guardo cartas de paciente, eles falam de momentos especiais", explica a cardiologista. Nos quase 40 anos de profissão, são 10 mil pacientes que têm ficha na recepção.

"Essa foto do relógio da 14 veio do Roberto Higa. Uma foto histórica que a filha dele me trouxe uns dias antes de ele vir consultar. Diz que era para me 'amansar', caso os exames dele dessem alterados", justifica Maria Augusta. O presente também estampa uma das paredes da simpática recepção.

Por fora, a casa se assemelha mais ainda a um chalé, junto das plantas e flores. O caminho do portão amarelo até a entrada do consultório é rodeado pelo jardim, a ponto dos pacientes pedirem à médica que coloque um banco.

"Os pacientes me dizem que sentem paz aqui. É minha cara, tem o meu jeito. Acredito que tem que ser pessoal e isso aqui são histórias. A Medicina é isso: os momentos de alegria, de descontração, a gente aprende com os pacientes, eles te ensinam muito. Isso que é a vida".

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Consultório fica na Rua São Paulo e é simpático desde a fachada. (Foto: Fernando Antunes)
Consultório fica na Rua São Paulo e é simpático desde a fachada. (Foto: Fernando Antunes)
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