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Arquitetura

Maior árvore da Vila Sobrinho perdeu status pelo cupim, mas continua guardada

Paula Maciulevicius | 25/10/2015 07:23
Até vizinho cedeu centímetros de terreno para deixar árvore ser parte da casa. (Foto: Fernando Antunes)
Até vizinho cedeu centímetros de terreno para deixar árvore ser parte da casa. (Foto: Fernando Antunes)

Na Vila Sobrinho, em Campo Grande, a rua de três quadras guarda um tesouro a sete chaves. O mais vistoso pé de jaca da região perdeu o status e os galhos pelo cupim, mas não o espaço dentro da família Araújo Ajalla. A casa verde, de portão branco, tem na fachada um detalhe: a grade foi estrategicamente colocara para acompanhar e abraçar o que já foi árvore, trazendo o tronco para dentro do lar.

Quem mora ali? Batemos e tivemos a resposta: Ilizabeth e Marco Antônio. Mãe e filho. Ela, um senhorinha simpática de 81 anos, ele, arquiteto de formação, funcionário público e o maior defensor da árvore. A família se mudou para lá em 1996, a árvore já existia e o portãozinho redondo na calçada também.

Marco e dona Ilizabeth, família se mudou para casa em 1996. (Foto: Fernando Antunes)
Marco e dona Ilizabeth, família se mudou para casa em 1996. (Foto: Fernando Antunes)

Pelas contas de Marco Antônio, ela deve ter bem mais de 50 anos. "Era gigante, se via de longe a maior árvore da redondeza", descreve o filho, de 57 anos. As folhas caíam por tudo que era canto: calçada, varanda, rua e gerava até reclamação dos vizinhos.

A reforma na fachada foi feita nos anos 2000 e obedeceu a guarda da árvore. A grade que a protegia se tornou padrão também para o portão. Dona Ilizabeth lembra que quando chegou ali, soube que era o fim da "peregrinação" pela compra do imóvel. A árvore não foi o motivo, mas também não era empecilho. "A vizinha cedeu 17 cm do terreno dela para essa casa por causa do pé de jaca", descreve.

A quantidade de frutas caídas era absurda. Os donos até brincam que viviam um "bombardeio" e quem pedisse, podia levar. Ninguém gostava da fruta, mas amava a sombra do pé de jaca. "Uma vez uma família do Rio Grande do Sul levou, nunca tinham visto jaca", lembra a senhorinha.

Há 10 anos começaram os problemas: ora morcegos, ora cupins. A Defesa Civil foi chamada, mas os morcegos não apresentavam perigo. Já o segundo problema... O cupim tinha atingido os armários da casa e o caibro da estrutura. Era hora de se despedir.

Tronco agora é suporte para a costela de Adão. (Foto: Fernando Antunes)
Tronco agora é suporte para a costela de Adão. (Foto: Fernando Antunes)

"Ela estava começando a dar cupim, fizemos a poda e dela não brotou mais", relata Marco Antônio. Por achar bonita e dedicar tanto carinho à árvore, ele resolveu plantar costela de Adão. "Acho bonita e para preservar o tronco. Ficou feia sem os galhos, daqui saiu mais de um caminhão levando madeira", recorda.

Ele entra na briga que for pela árvore. Justifica pela beleza, ainda exuberante, que talvez se concentre na imponência do tronco, mais de 1m de diâmetro. Podar foi a uma medida necessária, embora as consequências ainda sejam vividas. "Aumentou o grau de temperatura da casa, ficou mais quente e eu fiquei muito chateado. A gente cometeu um crime, mas não tinha o que fazer, ela se tornou ameaça", pontua Marco.

Como arquiteto, pergunto se é fácil incorporar a árvore à casa. A resposta é não, nem tanto pela arquitetura, mas por esbarrar na legislação ambiental.

"O tempo passou em volta dessa árvore, as coisas mudaram. Hoje ela não teria condições, não teria essa chance e nem esse direito", finaliza.

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