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Arquitetura

Na Vila Planalto, coqueiros cheios de ninhos servem para pagar dívida de criança

Paula Maciulevicius | 17/11/2014 06:23
Quando os coqueiros do quintal resolveram não mais dar frutos, a natureza trouxe outro presente: a morada de araras. (Foto: Marcos Ermínio)
Quando os coqueiros do quintal resolveram não mais dar frutos, a natureza trouxe outro presente: a morada de araras. (Foto: Marcos Ermínio)

Na Vila Planalto, em Campo Grande, a casa grande, com o verde dos jardins na fachada, esconde uma família que gosta da natureza e tem uma história que vem do sertão do Ceará. Quando os coqueiros do quintal de seu Luiz Idelmar Gonçalves, de 58 anos, resolveram não mais dar frutos, a natureza trouxe outro presente: a morada de araras.

Comerciante e advogado, seu Luiz está em terras sul-mato-grossenses desde a década de 70 e, há 20 anos, na mesma casa, na Rua Duarte Pacheco. "Nasci num sítio no Ceará, lá é, era, costume de matar para comer. Eu me sinto obrigado a pagar meus pecados", conta. Na infância e na adolescência, ele usava o que aqui se chama de estilingue e na dificuldade do sertão, às vezes a brincadeira virava refeição. Mas nada que hoje orgulhe seu Luiz.

Há quase dois anos, quando os dois coqueiros do quintal de casa deixaram de dar frutos, ele seguiu a crendice popular, de que árvore que não dá frutos, se corta. E foi justamente quando os troncos restaram, que as araras e tucanos vieram dar o ar da graça.

São quatro casinhas feitas de tábua seca de madeira, pelas mãos de um marceneiro. (Foto: Marcos Ermínio)
São quatro casinhas feitas de tábua seca de madeira, pelas mãos de um marceneiro. (Foto: Marcos Ermínio)

A paixão e o encanto de ter a natureza no jardim de casa levou seu Luiz e a esposa Laura Rios, de 41 anos, a construírem ninhos.

São quatro casinhas feitas de tábua seca de madeira, pelas mãos de um marceneiro, seguindo as medidas e obedecendo os recuos, tal qual manda o projeto a que ele segue, da Arara Azul.

"Campo Grande tem muita arara, mais ou menos uns 60 ninhos. Aqui elas já entraram e saíram. Fiz uma cobertura para que a chuva e o tempo não apodreçam a fibra do coqueiro", explica. Vigas também foram acrescentadas para dar mais sustentação e segurança às aves visitantes.

"Eles vêm e fazem o monitoramento. Teve casinha de João-de-barro que elas já botaram no chão, mas eles veem de novo e fazem", enumera.

Os olhos do comerciante brilham ao falar de todas as espécies que habitam, por épocas, a mesma casa que ele. "Aqui pode dar coruja, abelha, tucano, araras, gavião, rolinhas, canarinhos..."

Em uma casinha à parte fica a ração destinadas às rolinhas. A grade que cobre o espaço foi feita para o tamanho delas, evitando assim a entrada de pombas. Em minutos de conversa, é possível observar o vai e vem de pássaros buscando comida e sombra.

As araras em si não apareceram neste domingo. Em duas temporadas, elas já fizeram presentes nos quatro ninhos, mas só quando o Verão se aproxima. "Sempre cedo ou no fim do dia. Elas se alimentam num local e fazem ninho em outro. É lindo ficar ouvindo, encantador", resume.

Apesar da abundância de árvores: manga, abacate, cajá, palmeira. As araras se alimentam das 7 copas da região e só chegam para dar alegria à casa de seu Luiz.

"Se a gente fica louco de ver, imagina as visitas? Todo mundo fala que não pode ter cativeiro, mas aqui é livre", faz questão de deixar claro.

A dona da casa divide a admiração e diz que o som e o mexer das árvores pelas aves traz a sensação de lar. "É uma delícia, uma paz enorme", define Laura.

Em minutos de conversa, é possível observar o vai e vem de pássaros buscando comida e sombra.(Foto: Marcos Ermínio)
Em minutos de conversa, é possível observar o vai e vem de pássaros buscando comida e sombra.(Foto: Marcos Ermínio)

Os ninhos têm até água irrigada e um registro próprio controlado pelo seu Luiz. O quintal é grande, hospeda, além dos jardins, piscina e churrasqueira para receber toda a família nos finais de semana. Só ele tem dois filhos, a esposa, mais duas e junto dos genros e noras, a casa se enche quando todos se ajuntam. Mas quantidade sempre foi sinônimo de felicidade para o cearense.

Luiz veio de uma família de oito irmãos diretos e mais quatro por parte de pai. Quando a mãe morreu, os nove filhos vieram morar com uma tia que já estava em Mato Grosso do Sul. "Ela tinha outros nove, conosco, ficamos em 18. Aqui tivemos oportunidade de trabalhar, estudar".

Hoje seu Luiz estende à mão a um dos irmãos mais novos, de apelido Leca, também nascido no Ceará e aguarda a chegada as hóspedes. Enquanto isso, ficamos com o registro das temporadas anteriores. Mas ele avisa: "Elas já estão para chegar de novo. Cedo ou no fim de tarde".

As araras já devem estar para chegar e erguer ninho. (Foto: Arquivo Pessoal)
As araras já devem estar para chegar e erguer ninho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Numa das visitas do tucano que costumava fazer ninho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Numa das visitas do tucano que costumava fazer ninho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Hoje seu Luiz estende à mão a um dos irmãos mais novos, de apelido Leca, também nascido no Ceará. (Foto: Marcos Ermínio)
Hoje seu Luiz estende à mão a um dos irmãos mais novos, de apelido Leca, também nascido no Ceará. (Foto: Marcos Ermínio)
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