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Arquitetura

No Chácara Cachoeira, casa é como a cidade deveria ser: sem grade e nem portão

Paula Maciulevicius | 23/10/2014 06:25
Os donos relatam que nunca tiveram incidentes, pelo contrário. (Foto: Alcides Neto)
Os donos relatam que nunca tiveram incidentes, pelo contrário. (Foto: Alcides Neto)

Quem recepciona as visitas é o gramado. Quando a grade e o portão não fazem morada na casa, o interfone se toca quase na porta. No bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande, a residência em tom rosado e sem muro foi construída para ser assim: aberta e livre.

Os donos relatam que nunca tiveram incidentes. "Pelo contrário. Todo mundo sabe o que está acontecendo, quem entra..." comenta Luiza Amélia Corrêa da Costa Thedim, uma das moradoras da casa. "Ela sempre foi assim, como todas as casas deveriam ser. Uma cidade inteira deveria ser assim e não o contrário", completa. 

Luiza Amélia tem até nome de personagem de livro, de novela. Carioca, ela tem 53 anos, os últimos 13 vividos ali. "Essa casa a gente quem construiu. Eu, minha mãe e minha irmã. Eu queria uma casa menor, com acabamentos menos elaborados, por assim dizer, mas a minha mãe... Ela sempre quis casa maior para os quatro filhos. Para mãe, a gente nunca envelhece, ela acha que os filhos são pequenininhos", explica.

Com quatro moradores, biblioteca da casa junta história de mãe, irmã, marido e de si própria. (Foto: Alcides Neto)
Com quatro moradores, biblioteca da casa junta história de mãe, irmã, marido e de si própria. (Foto: Alcides Neto)
Escadaria leva ao restante dos cômodos, com paredes revestidas de tradição nos quadros. (Foto: Alcides Neto)
Escadaria leva ao restante dos cômodos, com paredes revestidas de tradição nos quadros. (Foto: Alcides Neto)

A matriarca da família queria usufruir bem do terreno de 1,2 mil m², fazendo quatro quartos, um para cada filho. Mesmo que nenhum deles fossem mais crianças. Ela mesma chegou de mudança para o imóvel aos 69 anos.

"Daí eu me casei e o Marcos veio morar aqui. Moramos em quatro pessoas: eu, minha mãe, o Marcos e a minha irmã", enumera.

A porta na rua, quase que escancarada nunca foi o problema. A questão era a janela da lateral, que quando aberta, expunha os risos e conversas da casa para quem tivesse passando. Por isso se ergueu a mureta ao lado e só por isso. "Foi feito somente para manter a privacidade e resguardar quem está lá dentro", pontua Luiza.

Quando o Lado B chegou à casa, Luiza e Marcos estavam a terminar o almoço. A mesa das refeições fica na varanda e o casal comia contemplando o jardim. Respirando o verde de casa e flertando com a brisa.

Na sala de estar, sofás e cadeiras. (Foto: Alcides Neto)
Na sala de estar, sofás e cadeiras. (Foto: Alcides Neto)
Bodas de 25 anos dos avós. (Foto: Alcides Neto)
Bodas de 25 anos dos avós. (Foto: Alcides Neto)
"Tallboy", trazido da Inglaterra. (Foto: Alcides Neto)
"Tallboy", trazido da Inglaterra. (Foto: Alcides Neto)
Na varanda, a alma da casa. (Foto: Alcides Neto)
Na varanda, a alma da casa. (Foto: Alcides Neto)

Logo depois, o café foi tomado na biblioteca. Uma sala onde as paredes são forradas de palavras e histórias. Onde a decoração vem dos milhares de livros. "Se lê pouco, não é?" brinca Luiza. "Aqui tem a biblioteca de quatro pessoas. Todos gostamos de ler. E é aqui que a gente convive, aberto para a varanda". As palavras da dona soam com tanta tranquilidade que transmitem o que a casa quer passar: paz.

A mesa onde mais cedo almoçavam é o ponto de encontro das refeições. "A gente só não come se está chovendo ou fazendo muito frio, porque é um lugar muito bom de ficar. A gente tem a sala de jantar, mas aqui é muito mais gostoso". Concordo. Dá até vontade de sentar à mesa.

"A casa foi ideia da minha mãe e da arquiteta Cláudia Paiva Sa Earp, ela inclusive já saiu numa revista, a Arquitetura e Construção, mas isso foi quando ela estava novinha", compara. Se para determinadas bebidas o tempo, ou melhor, o passar dele, é o que as deixam valorizadas, uma casa depois que sai do papel também. Os anos imprimem a ela a identidade de quem mora, como se os materiais de construção fossem ganhando a cara de quem convive ali.

Marcos, Luiza Amélia e a casa onde se vive. (Foto: Alcides Neto)
Marcos, Luiza Amélia e a casa onde se vive. (Foto: Alcides Neto)

"O chão? Ele é de pedra mineira com tabeira em volta. É ipê. Sabe que tenho um amigo que diz, a sua mãe vive na fazenda, chega na cidade e constrói uma casa com a cara de fazenda?" brinca. Os móveis antigos, de madeira pura e legítima é que carregam um pouco de história e tradição os ambientes da residência.

"Aqui são as bodas de 25 dos meus avós. Eles eram cariocas", aponta Luiza para o porta-retrato: um casal em branco e preto acompanha quem se senta à sala.

Na mesa de centro, a coleção de caixinhas de prata do pai de Luiza Amélia. "Ele foi diplomata, serviu na Inglaterra. Está aí porque a gente gosta", explica. Mas não que seja duradouro. A decoração "dança" conforme a música dita.

Quando bate a vontade de mudar, as moradoras tiram e repõem. Um dos móveis mais charmosos e também mais curiosos é o "tallboy". "É um guarda-roupa masculino, trouxemos da Inglaterra, se colocava meia, gravata, as roupas masculinas", descreve. As paredes da casa são a herança do bisavô da dona, que no começo do século passado tinha um antiquário.

"É uma casa em que se vive e é isso. Eu gosto tanto dela, mas hoje em dia não faria mais assim. É grande demais e a vida mudou".

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