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Arquitetura

No Pantanal, a surpresa diante da casa de fazenda projetada por Oscar Niemeyer

Paula Maciulevicius | 12/12/2014 06:23
De Oscar Niemeyer, casa fica no meio do Pantanal do Paiaguás, onde a cidade mais próxima está a 200 quilômetros de distância.
De Oscar Niemeyer, casa fica no meio do Pantanal do Paiaguás, onde a cidade mais próxima está a 200 quilômetros de distância.

A casa poderia estar em qualquer lugar. Num bairro nobre ou mais tradicional, onde a arquitetura moderna, de longos traços e linhas simétricas, marcasse presença. Mas não. É no meio do Pantanal do Paiaguás, onde a cidade mais próxima está a 200 quilômetros de distância que a história descreve: Oscar Niemeyer projetou uma casa de fazenda para a São Sebastião, de propriedade do então ministro, Sebastião Paes de Almeida. A fazenda faz parte do município de Corumbá, mesmo estando mais próxima de Coxim.

As fotos exibem uma fachada moderna, toda simétrica, retangular e que quebra qualquer conceito tradicional de arquitetura que seria aplicada à uma casa de campo, ainda mais para a época em que foi erguida: na década de 1950. Por dentro, o mobiliário não esconde o tempo: as quatro poltronas retrôs.

A casa foi erguida a um metro do solo entre a sombra das árvores pantaneiras. As grandes portas e janelas de vidro revelam o perfil de quem ali habitou: Sebastião Paes de Almeida foi um dos maiores empresários do ramo no Brasil.

Mobiliário retrô, bem da década de 50 está numa das salas.
Mobiliário retrô, bem da década de 50 está numa das salas.

O que talvez seja um “achado”, pelo menos para nós, é fato consolidado para os pantaneiros e está descrito na trilogia “Mato Grosso do Sul – Fazendas – uma memória fotográfica”, de Luiz Alfredo Marques Magalhães.

No livro, ele descreve que o projeto foi um pedido do próprio dono, seu Sebastião, ao arquiteto amigo, com quem estreitou laços à época em que Brasília estava em construção. “Ao comprar a fazenda, ele pediu para o arquiteto que lhe desenhasse as formas do que julgasse ser sua concepção de residência pantaneira”, relata a obra.

Paes de Almeida levou de avião o material necessário para executar o projeto entre a década de 50 e 60. Como não havia energia, ainda conforme o livro, ele idealizou uma estação geradora, movida à óleo diesel, afim de suprir a demanda de todo complexo.

O dono da fazenda era mineiro, advogado, empresário e político. Foi escolhido pelo então presidente Juscelino Kubitschek para ser Ministro da Fazenda entre os anos de 1959 e 1961.

A história conta que Sebastião Paes de Almeida morreu em 1976, no mesmo ano, a família vendeu a São Sebastião a um fazendeiro de Ribeirão Preto, que esteve à frente da propriedade por 17 anos. Ela já passou também pelas mãos da família Barros e hoje é do grupo JBS.

De avião, dono da fazenda trazia o material de Brasília para a construção.
De avião, dono da fazenda trazia o material de Brasília para a construção.

Entre os anos de 2000 e 2002, o arquiteto José Moacir Bezerra Filho, de Coxim, foi contratado para restaurar a sede da fazenda. Como arquiteto, elaborou um trabalho de pesquisa junto aos proprietários.

“Na época dizia a lenda que o arquiteto Oscar Niemeyer era muito amigo do senhor Sebastião Paes de Almeida, o rei do Vidro na década de 50 e 60, que ajudou a construir Brasília e doou esse projeto de sede de fazenda para o amigo”, descreve José Moacir.

Ele conta que o dono, Sebastião Paes de Almeida, então resolveu construir a casa nessa fazenda no Pantanal do Mato Grosso do Sul, numa área de mais de 40 mil hectares. Só a sede tem 1,4 mil metros quadrados. “O interessante é que ele trazia de avião muitos materiais de construções direto de Brasília e deixava os peões da fazenda estarrecidos”.

Do projeto de arquitetura, José Moacir destaca o pé direito alto e o piso elevado a 1 metro do chão. “A varanda é de laje maciça, em balanços e grandes vãos, tem uma piscina no interior da sede para se proteger de bicho e é claro muito vidro”, pontua o arquiteto.

Piscina projetada dentro da casa era para que moradores fugissem dos bichos.
Piscina projetada dentro da casa era para que moradores fugissem dos bichos.

As imagens que ilustram a matéria já têm alguns anos e foram enviadas ao Lado B pelo médico José Luiz Mikimba, que conheceu o local durante o projeto “Médicos do Pantanal”, uma expedição que atende a população ribeirinha levando saúde para a região. Na última passagem lá, Mikimba descreve que já era à noite e não pode ver a casa.

Entre os homens pantaneiros, o projeto que leva a assinatura de Niemeyer sempre foi contado e visto. Há informações de que cada banheiro da casa era de uma cor, um especificamente tinha do piso ao teto, passando pela louça, todo no preto. Os móveis, segundo apurado pelo Lado B, também eram de autoria do grande arquiteto.

Cientificamente, o projeto de Niemeyer no Paiaguás não era catalogado. Segundo o arquiteto e professor de Arquitetura da UFMS, Ângelo Arruda, em Mato Grosso do Sul, há apenas uma obra projetada por ele catalogada, a Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado, inaugurada na década de 50.

O acesso à fazenda hoje, por Coxim, leva até 8h com veículos 4x4. Já de Corumbá, a chegada só é possível de avião. "Niemeyer expressou com a costumeira eloquência seu estilo na sede da São Sebastião. Longas linhas simétricas no gigantesco vão da marquise da varanda, de onde se avistam os campos pantaneiros", como descreve Luiz Alfredo Marques Magalhães no livro.

Cientificamente, o projeto de Niemeyer no Paiaguás não era catalogado.
Cientificamente, o projeto de Niemeyer no Paiaguás não era catalogado.
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