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Arquitetura

Ruínas evidenciam desleixo com a história do cinema em Campo Grande

Ângela Kempfer | 01/09/2011 09:13
Fachada do Cine Acapulco, na 26 de Agosto. (Foto João Garrigó)
Fachada do Cine Acapulco, na 26 de Agosto. (Foto João Garrigó)

O cadeado novinho é o único sinal de algum cuidado com o prédio do antigo Cine Acapulco, na rua 26 de Agosto, em Campo Grande.

O prédio, danificado por incêndio há 11 anos, não tem destino informado. Não há placa de vende-se, não há obras e os donos não falam sobre o assunto. A prefeitura também desconhece qualquer projeto de tombamento ou recuperação histórica do imóvel.

De todos os cinemas antigos de Campo Grande, o Acapulco é o único que, apesar das ruínas, preserva a arquitetura original do prédio.

Na fachada a placa confirma que ali funcionava a “Empresa Mato Grossense de Cinema”. Pela porta é possível ver vestígios de cartazes de filmes, caixas com entulhos, muitas mesas e poltronas jogadas pelo saguão. No meio, está a escadaria que levava à sala de projeção e lá no fundo mais um ambiente cheio de tijolos e lixo.

A família Lahdo, dona do empreendimento, já tentou vender o imóvel, mas a placa foi retirada do local e agora prefere o silêncio sobre o assunto. Foram os irmãos Elias Lahdo e Abud Lahdo, apaixonados por cinema, que abriram as portas.

Por anos, as poltronas e até as latas com os rolos de filmes antigos ficaram guardadas no prédio já desativado, mas em 2000 houve incêndio e o prédio foi abandonado.

No comércio de roupas usadas, que fica ao lado do prédio em ruínas, uma coincidência traz mais elementos sobre o lugar.

Dona Ivanise Simões conheceu o cinema há quase 40 anos. “Tinha 17 quando vim para Campo Grande trabalhar em uma casa cuidando de idosos e minha única diversão era o Cine Acapulco porque ficava pertinho e o meu pai só deixava sair para ir ao cinema”, conta.

A novidade acabou transformando a rotina da família da vendedora, que morava na zona rural. “Meu pai passou a trazer caminhão lotado, todos os fins de semana, para o povo da fazenda ver filmes aqui na Capital”.

Escadarias davam acesso à sala de projeção.
Escadarias davam acesso à sala de projeção.
Ivanise fala sobre os tempos que frequentava o Cine Acapulco, para ver bang-bang.
Ivanise fala sobre os tempos que frequentava o Cine Acapulco, para ver bang-bang.

A preferência era pelo bang-bang, o último em cartaz antes do fechamento do cinema. "Era baratinho e sempre ia às 20 horas".

O fim das sessões acabou com o programa semanal. “Fechou e foi uma tristeza, nunca mais fui ao cinema. Só voltei a frequentar outras salas quando meus netos nasceram, mas não tem mais bang-bang. Eu gostava porque sempre terminava em romance”, lamenta a avó de 56 anos.

Ao ver o movimento, o estudante Rogério Biller se aproxima e resolve comentar: “Porque não recuperam e não transformam em um ponto só para falar de cinema?”, questiona.

Aluno do Ensino Médio, ele diz que nunca ouviu falar do Cine Acapulco, nem do Alhambra, também percussor do cinema em Campo Grande, que funcionava na avenida Afonso Pena.

O primeiro registro de projeções em Campo Grande é no ano de 1910, com o Cine Brasil, sessões ao ar livre, no pátio do Hotel Democrata,na Rua 14 de Julho.

Depois veio o Cine Trianon, também na mesma rua e na década de 30 os

cines Alhambra e o Santa Helena, o pioneiro apresentar simultaneamente som e imagem.

Em tempos de Cinemark e apenas o Cine Campo Grande como alternativa, o rapaz comenta que nem imagina como era frequentar uma sala de cinema aparentemente tão pequena, com apenas um ambiente de projeção. “Devia ser como um teatro e um evento social de Campo Grande”.

Dona Ivenise confirma, “era dia de festa”. Para ela, recuperar um prédio histórico seria até mesmo uma redenção para aquele trecho da rua 26 de Agosto. "Ela tem o nome do dia da criação de Campo Grande e é tão feinha, né".

Segundo a autora do Livro Sala de Sopnhos, jornalista Marinete Pinheiro, sobre a historia do cinema em Campo Grande, a cidade chegou a ter 7 salas de projeção na década de 70.

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