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Artes

A saga de quem deixou Campo Grande para estudar e fazer carreira nos palcos

Paula Maciulevicius | 13/09/2013 06:59
Ator Bruno Dal Farra, 24 anos, na última peça em que atuou "O viajante - Da terra ao asfalto", sob  direção de Carolina Angrisani.
Ator Bruno Dal Farra, 24 anos, na última peça em que atuou "O viajante - Da terra ao asfalto", sob direção de Carolina Angrisani.

Quando criança já demonstrava afinidade com o público. No sangue já corria um pouco das artes e dos palcos. Em cena, ainda no amadorismo, descobriram que a vida tinha que ser ali, com as cortinas abertas e sob os olhos do público. Quem nasceu para o teatro enfrenta lá fora a saga de estudar, se formar e construir uma carreira sólida. Busca primeiro ‘sobreviver’, se é que para eles se poderia viver sem o aplauso dos espectadores.

Campo Grande pouco tem histórico de gente que ganhou a vida no teatro, TV e cinema. E como em qualquer outra capital, não há como fugir do eixo Rio – São Paulo. Sem grandes nomes e nem referências de cursos profissionalizantes, quem sonha precisa arrumar as malas e por o pé na estrada. Contando o que vai ser investido em aulas e também o custo de vida, correr atrás desse sonho sai caro.

Campo-grandense, o ator Bruno Dal Farra, de 24 anos, está há três em São Paulo, fazendo o curso da escola de atores Wolf Maya. A primeira saída de Mato Grosso do Sul foi aos 16 anos, para um curso no Rio de Janeiro que lhe rendeu uma figuração na Malhação. Depois, aos 21, fez oito meses de teatro em Lisboa, finalizando as aulas no palco do Teatro de Cascais.

Desde menino o rapaz já mostrava que atuar seria a sua vida. Das artes marciais ele passou pela dança, música, até se encontrar no teatro. Enquanto ainda morava em Campo Grande, a saída era tocar em um grupo de Pagode.

“Foi o que eu tive acesso, se tivesse sido acesso ao teatro, com certeza tinha ido. Mas por falta disso, caí na música, era uma maneira de eu me expressar, eu já estava vendendo minha arte”, conta.

Em São Paulo há 3 anos, foco do trabalho é teatro e vida nos palcos.
Em São Paulo há 3 anos, foco do trabalho é teatro e vida nos palcos.

Prestes a se formar, a última montagem de espetáculo será em março. Paralelo ao Wolf Maya, o ator investe em workshops e outros cursos na capital paulista. O retorno vem aos poucos e ainda bem menor do que o investido. Bruno já fez publicidades, mas o foco mesmo é o teatro. Para se manter em São Paulo, ele tem o apoio total da família.

“Precisei muito da ajuda dos meus pais. Não sei o que seria se meu pai não tivesse condições de me ajudar, talvez eu não conseguisse sair de Campo Grande. Com as possibilidades que a cidade me oferecia, meu pai viu que eu queria a carreira artística e pode me mandar para o melhor onde eu podia desenvolver melhor a arte e o que eu quero fazer”, afirma.

Depois que as aulas no Wolf Maya chegarem ao fim, para Bruno o registro de ator profissional será só o começo. Sem deixar o centro de tudo, São Paulo, ele vai continuar buscando espaço nos testes.

Fazendo as contas, o ator saiu ainda garoto, aos 16 anos e depois voltou. Foi de vez para o eixo das artes aos 21. Questionado se tem hora certa para sair de casa, ele responde que depende muito de cada protagonista da própria vida.

“Se eu tivesse fazendo há mais tempo, hoje estaria mais preparado, sem dúvida nenhuma. Porém, a gente tem que decidir isso, é uma coisa tem que vir do artista, da pessoa, não é mesma coisa de incentivar para o esporte, não é treinamento. Vem de dentro. Cada pessoa vai revelar isso de alguma maneira e o caminho da arte é muito difícil, só para quem gosta muito”.

Beatrice Sayd, dona de uma voz imponente, a atriz está há 16 anos no Rio e estreou na TV em Amor à Vida.
Beatrice Sayd, dona de uma voz imponente, a atriz está há 16 anos no Rio e estreou na TV em Amor à Vida.

Que o diga a atriz Beatrice Sayd, de 34 anos. Dona de uma voz imponente, a campo-grandense vive no Rio de Janeiro desde os 18 anos. Formada logo pela Casa de Artes Laranjeiras, ela já foi tentar a vida nos palcos logo depois de terminar o Ensino Médio.

Foi por uma peça de escola que a ficha caiu. “Eu na verdade fiz um teste para saber se dava certo para a coisa. Achei que deu e falei, vou”, conta. Pianista, ela exercia a arte pelas notas, enquanto aqui não tinha o que lhe enchesse a alma.

“Uma coisa que a Fernanda Montenegro fala que seguir a carreira artística, só se for questão de vida ou morte. Se for, então vá fazer, havendo vocação”, comenta.

Mais de uma década depois de ter feito as malas, ela diz que ainda não sobrevive da arte. “Hoje é impossível conseguir viver de teatro. Fiquei 10 anos parada como atriz, retomei a carreira ano passado. Hoje você precisa, é uma coisa ridícula, mas para levar o público para peça, só se você também fizer TV ou tiver muito dinheiro para divulgar”, admite. Beatrice tem ajuda da mãe para seguir investindo na carreira e também para viver dentro do alto padrão que o Rio impõe.

Depois de quase desistir de atuar, foi pela psicanálise que ela resgatou a atriz que por 10 anos ficou de figurante na novela da vida. “A coisa da atriz era para mim uma questão de vida ou morte”, fala.

Em março deste ano, ela veio a Campo Grande com a peça Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, colocou, pelo próprio bolso, 300 pessoas dentro do Glauce Rocha. Nesta semana, Beatrice voltou em cena pelo Sesc, com a mesma apresentação nesta quarta e quinta-feira.

Em Campo Grande, ela volta com a peça  Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, encenada pela segunda vez. (Foto: João Garrigó)
Em Campo Grande, ela volta com a peça Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, encenada pela segunda vez. (Foto: João Garrigó)

Mas na semana passada, a carreira no Rio deu uma guinada, depois de um convite ela resolveu encarar o desafio de fazer TV. Desde março na oficina de atores da Rede Globo, ela participou da novela Amor à Vida, em cinco cenas como a presidiária que dividia cela com a Paola Oliveira.

“Isso é muito legal, mas tem um milhão de pessoas querendo a mesma coisa, é um mercado muito restrito. Fiz a primeira participação e estou batalhando testes para próximas produções. Minha primeira experiência eu gostei bastante”, diz.

O sonho e a vida dela está nos palcos. Beatrice fala de teatro, de TV, de estar em cena com paixão, passando a quem ouve, que se não estiver em cena está privada de respirar. O fôlego vem das falas, da encenação.

A batalha dela não para tão cedo, tanto ao buscar espaço, quanto a luta por conseguir subir aos palcos de um teatro lotado. O que a impede de fazer isso não é habilidade, técnica ou talento. É a falta de investimento no meio artístico. “É muito caro, hoje a gente vive num país sem educação. Essa coisa da multimídia, da quantidade de conteúdo que se tem acesso hoje em dia, se não fizer investimento em educação, é muito complicado de você levar o público”.

Para trazer a peça de Nelson Rodrigues para Campo Grande, ela buscou patrocínio e ouviu a justificativa do produtor. “Ele falou Beatrice não adianta se não tem ator da Globo, o público não vai”. Explicação mais do que real.

“Eu entendo, produtor vive disso, mas eu como artista não posso ter esse pensamento, esse raciocínio. Foi um trabalho árduo, mas em março foram 300 pessoas ao Glauce Rocha, foi uma aventura, uma alegria para mim”.

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