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Artes

Acordeon, violão, churrasco e baile resumem os irmãos Nantes, Zezinho e Paulinho

Paula Maciulevicius | 17/02/2017 09:03
Zezinho e Paulinho Nantes, a matriarca Ionir e o padrasto Odilon. (Foto: Alcides Neto)
Zezinho e Paulinho Nantes, a matriarca Ionir e o padrasto Odilon. (Foto: Alcides Neto)

Trilha sonora de muitas festas de família e bailes que lembram fazenda. Os irmãos Zezinho e Paulinho tem na raiz do sobrenome muito da história de Campo Grande. Filhos de uma Pereira que se casou com um Nantes, como era tradição nas décadas passadas, são enteados de um dos melhores churrasqueiros da cidade. 

A matriarca, Ionir, tem 71 anos. Nascida em fazenda, criada assim, ela é Pereira que por anos assinou Nantes, esteve e continua inserida na família e, principalmente, frequentando as festas.

"Vim de fazenda, de festas e de bailes. Criei meus filhos assim, a gente tinha medo de más companhias. Agora, na música, eles aprenderam sozinhos. Nunca tiveram aula de violão, de gaitinha, de nada. Foi tudo sozinho, porque a gente ia muito em casamento, aniversário. Era acordeon, violão, churrasco e baile, bolo caipira, doce e fartura", descreve Ionir Pereira Lopes.

Ela Pereira se casou com um Nantes e foi quem levava os meninos para os bailes. (Foto: Alcides Neto)
Ela Pereira se casou com um Nantes e foi quem levava os meninos para os bailes. (Foto: Alcides Neto)

E foi este o caminho que os "meninos" seguiram. "Nas festas, quando eram pequenos, eles queriam ficar era olhando os músicos. Nem brincavam. Zezinho quando chegava em casa e ia tirar a roupa dele, estava limpinha, porque ele ficava sentadinho olhando a música, foi tudo assim", completa.

Nas lembranças do passado e na genética estão os maiores talentos do Estado. O Nantes pai era músico e o avô do lado dos Pereira também.

A diferença de idade deles é de três anos. Desde muito cedo tiveram contato, influência e amizade direta de gente de peso. Delinha é uma das melhores amigas de Ionir e no quintal de casa deles cantou, ao lado de Délio, quase que a vida toda.

"Trio Serenata, que hoje é Castelo e Mansão, Amambai e Amambaí, Aurélio Miranda, Zé Correia, Dino Rocha, Zacarias Mourão, esses músicos antigos todos, a gente se criou com essa formação e teve uma vida muito intensa dentro da música, desde criança", enumera Paulo Sérgio Pereira Nantes, o Paulinho, hoje com 47 anos.

Quando criança, o caçula morou dois anos com uma tia em Corumbá e cantava na praça. "Cantava para ganhar notinha verde, que era 1 cruzeiro na época. Isso por volta de 1975", conta Paulinho. Na volta, ele encontrou o irmão já no violão, tocando de ouvido e os dois amadureceram juntos na música.

Zezinho, instrumentista de 'ouvido', um dom natural. (Foto: Alcides Neto)
Zezinho, instrumentista de 'ouvido', um dom natural. (Foto: Alcides Neto)

"Eu aprendi sozinho, vendo as pessoas tocarem. Eu ia nas festas e ficava olhando, dava o intervalo e pegava o violão deles para ficar mexendo", recorda José Adão Pereira Nantes, de 50 anos, o Zezinho. Os músicos eram todos amigos da família.

Nos anos 80, ele entrou para a primeira formação do Uirapuru, onde começou a tocar gaitinha de botão. "Mas aprendendo, aprendendo, a gente está até hoje", diz.

Por anos os irmãos tocavam juntos. Zezinho sempre mais para o lado instrumental e Paulinho no vocal. A dupla ganhou palco e espaço nas rádios e TV's até que um desencontro na voz dos dois - à época da adolescência - os separou. E o próximo passo de Paulinho foi seguir carreira em São Paulo.

"A gente era versátil, fazia música para baile e romântica e é um dom natural. Nunca tínhamos estudado música, era o que a gente via e ouvia desde pequeno", explica Paulinho.

O tocar de ouvido era o que definia os músicos que começaram os primeiros acordes nas festas de fazenda. "Vinha das influências da música paraguaia, argentina e gaúcha. Depois que veio a sofisticação de estudar música", pontua Paulinho.

A história da música sertaneja que abraçou os irmãos é aquela que não atingia, até então, o mercado e para eles, nunca foi muito rentável, mas deu visibilidade e notoriedade aos dois. Zezinho já tocou nos festivais do Chamamé da Argentina e fez participações em programas nacionais, além de tocar e bater um papo com Inezita Barroso em um de seus últimos programas.

A carreira dos meninos era e ainda é muito mais pautada na família e nos bailes. "Família Nantes tem muito da origem do campo, de fazenda, de pessoas que moravam em chácara e a gente difundiu essa cultura indo para rádio, TV, ficando famoso", conta Paulinho.

O chapéu e a gaita de botão. (Foto: Alcides Neto)
O chapéu e a gaita de botão. (Foto: Alcides Neto)
Paulinho, violão, voz e composição. (Foto: Alcides Neto)
Paulinho, violão, voz e composição. (Foto: Alcides Neto)

"Toda vida de artista começa no seio da família e a nossa foi assim, em aniversários, festas, na região do Capão Seco, do bolicho, do Quebra Coco", concorda Zezinho. 

Hoje, com caminhos distintos, Paulinho segue na composição e o irmão tem há uma década o grupo Zezinho Nantes, que anima bailes e casamentos. 

Desde os anos 70, os meninos encontraram no padrasto uma companhia perfeita para somar aos bailes. Odilon, dos Carrilho de Arantes, praticamente os criou e de quebra, trouxe para dentro da família o melhor sabor de churrasco. 

Segurança aposentado da Assembleia, ele sempre é escalado para tomar frente na churrasqueira e é bem requisitado pelos buffets. "Eu aprendi com Argemiro, meu primo. Mas não aprendi direito até hoje", brinca. E olha que dos 77 anos de idade, ele tem três décadas de assador. 

Nas festas onde a matriarca chega, não tem que não pergunte se os "meninos" não vão. "Pergunta mesmo, 'cadê o Zezinho? Cadê o Paulinho'? Porque eu sempre levei e eles chegavam e já iam tocar", brinca a mãe.

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Os irmãos Zezinho e Paulinho tem na raiz do sobrenome muito da história de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
Os irmãos Zezinho e Paulinho tem na raiz do sobrenome muito da história de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
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