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Artes

Após exposições em EUA, França e na Bienal de Veneza, artista é batizado em MS

Ângela Kempfer | 25/08/2013 14:39
Nazareth ao lado de índia em Aral Moreira. Ela com camiseta "I Love NYC". (Foto: Isabela Brant/Folha Press)
Nazareth ao lado de índia em Aral Moreira. Ela com camiseta "I Love NYC". (Foto: Isabela Brant/Folha Press)

Depois de viajar a pé de Belo Horizonte a Miami (EUA), Paulo Nazareth se transformou em um dos artistas mais prestigiado do cenário contemporâneo brasileiro, premiado em São Paulo, em Nova York e com trabalhos expostos na França e na bienal de Veneza este ano.

Mas uma das casas que escolheu está em Mato Grosso do Sul, no “Tekoha Guaiviry”, território reivindicado pelos guarani em Aral Moreira. Depois de exposições nas principais mostras de artes do Brasil e do mundo, ele voltou ao Estado para ser batizado como um índio guarani.

Antes, aprendeu a falar a língua da comunidade e estudou os costumes da tribo kaiowá. Nazareth nasceu em uma favela, em Palmital, Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Filho de mãe índia e pai negro, conseguiu se formar na universidade de Belas Artes, graças à bolsa de estudos na Universidade Federal de Minas Gerais. Hoje é visto pela crítica como um artista que “vale ouro”.

Faz instalações, gravuras, registros fotográficos e pelo mundo vai falando sobre discriminação, capitalismo, corrupção, colonialismo e criticando a arte comercial, sempre a partir de cenas que o cotidiano produz e a sensibilidade vislumbra.

Em 2011, foi o artista da obra mais comentada da feira de arte Art Basel Miami pela imprensa americana. As atenções se voltaram para a foto do homem de cabelos afro ao lado de uma instalação irônica. Uma Kombi repleta de bananas e Nazareth ao lado, segurando a placa “Vendo minha imagem de homem exótico”. A obra ganhou destaque no jornal The New York Times e foi avaliada como a única peça realmente inovadora da última edição da feira e acabou vendida por 40 mil dólares.

Também venceu já no início da carreira o prêmio Masp Mercedez-Bens de Artes Visuais na categoria talento emergente e em seguida conseguiu no Museu de Arte de São Paulo uma mostra individual, isso depois de ter trabalhado como varredor de ruas, jardineiro, padeiro, balconista, vendedor ambulante e até criador de porcos.

Paulo, a Kombi e as bananas. (Foto: Divulgação)
Paulo, a Kombi e as bananas. (Foto: Divulgação)

Quando foi para Veneza este ano, levou as cores, os ritos e a arte guarani-kaiowá. Convidou para a viagem os índios Valdomiro Flores e Genito Gomes. Ele, filho do cacique Nísio Gomes, assassinado em ataques de fazendeiros contra o acampamento Guaiviry em novembro de 2011.

A morte foi na época um dos motivos que levou Nazareth a Aral Moreira, assim como série de notícias sobre conflitos e execuções de lideranças em Mato Grosso do Sul.

A narrativa de toda trajetória guarani-kaiowá é parte do trabalho do mineiro que o levou a lista dos 150 artistas da exposição "O Palácio Enciclopédico", a principal seção da 55ª Bienal de Veneza.

O batismo de Paulo Nazareth foi acompanhado por jornalista da Folha de São Paulo, cercado de dramatizações do artista, que valem ser reproduzidas.

“Ele marcou data e hora para o encontro na aldeia, mas não estava lá quando cheguei. No dia seguinte, depois de dormir na rede que ele mesmo deixara pendurada na oca, comecei a atravessar o milharal que separa a aldeia da estrada e dei de cara com o vulto do artista vindo ao meu encontro, um estranho Moisés abrindo caminho na plantação. Levava sobre a cabeça um saco de estopa e balançava um chocalho como uma espécie de cumprimento”, relatou o jornalista Silas Martí.

O repórter da Folha, dentre muitas constatações, define Nazareth como o homem que “tem os pés mais rachados, esfolados, arranhados e machucados da arte contemporânea”.

A próxima aventura será uma caminhada pela África, de Moçambique pretende sair a pé até à Argélia. Mas antes, ele pediu benção ao pajé durante a visita a Aral Moreira.

Após exposições em EUA, França e na Bienal de Veneza, artista é batizado em MS
Paulo com as crianças em Aral Moreira.
Paulo com as crianças em Aral Moreira.
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