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Artes

Com 1% do orçamento , Cultura deixa de ser penduricalho e vira pasta cobiçada

Elverson Cardozo | 19/03/2014 07:35
Vereadora Juliana Zorzo pode assumir pasta. (Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Campo Grande)
Vereadora Juliana Zorzo pode assumir pasta. (Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Campo Grande)

Em dezembro do ano passado, a Câmara Municipal de Campo Grande aprovou a destinação de 1% do orçamento municipal para a Cultura. A conquista, resultado de uma luta que durou 10 anos, fez com a que a pasta ganhasse notoriedade, o que faz o "olho crescer" em muitos partidos.

Se considerado o orçamento de R$ 2,9 bilhões para 2014, R$ 29 milhões teriam de ir para Cultura, todos os anos, sem a Prefeitura pestanejar. Mas o valor será menor, porque o Município usa como base para pastas como a Educação e a Saúde o percentual referente à receita corrente, de R$ 2,6 bilhões.

Mesmo assim, o que era considerado "perfumaria" até agora,  deixou de ser um “penduricalho”, na comparação do atual presidente do Fórum Municipal de Cultura, Vitor Samudio, e virou pasta disputada. Com mais de 20 milhões em jogo, a escolha do novo presidente da Fundac (Fundação Municipal de Cultura), cargo que está vago, tem mais peso este ano. E é aí que mora a preocupação.

Um dos nomes apresentados pela prefeitura é da vereadora Juliana Zorzo (PSC). Uma linda mulher, conhecida mais como musa do que como parlamentar, que tem um pé pesado na questão religiosa e pouco circula entre a arte produzida em Campo Grande.

Nas redes sociais, o nome dela desperta, dentre vários comentários negativos, o risco de Juliana fazer da Cultura uma pasta nada "laica" e sim bem disposta para celebrações do tipo "Marcha para Jesus", já que é evangélica. Há quem lembre também de episódios que parecem ir contra a necessidade libertária da Cultura, como posições da bela frente algumas questões polêmicas.

No ano passado, por exemplo, ela votou contra uma simples moção de congratulação em homenagem ao ganhador do concurso “Mister Brasil Diversidade 2013”, Carlos Gabriel de Freitas, eleito o gay mais bonito do País. Na justificativa, disse ser "contra essa prática".

Juliana ainda não aceitou o convite e, ao que tudo indica, caso assuma a pasta, vai enfrentar muita resistência. Os envolvidos com as artes, dança, teatro, música e tantos outros tipos de expressão na cidade, querem, no mínimo, alguém que entenda do assunto, que saiba o que vai fazer e que, acima de tudo, tenha o diálogo como base para uma gestão democrática.

“Mas, por mais que a gente trave um debate, levante algumas coisas, a escolha é do Executivo, que tem essa prerrogativa”, comenta Samudio, ao dizer que a classe espera alguém que tenha um entendimento aprofundado. “Se não tem, é mais raso. Mas o importante é disponibilidade para debater, caminhar e construir uma gerência junto com a sociedade civil”, completa.

Na visão de Vitor, a luta e o respeito conquistado, inclusive, junto à Câmara, “enche os olhos”. “A pasta passa a ser mais disputada por uma questão de status porque a cultura, de certa forma, dá isso ao gestor público”, avalia.

A cidade só não pode cair na mão de um mau gestor, salienta o vice-presidente do Fórum, o arquiteto e urbanista Ângelo Marcos Arruda. "O melhor presidente para ocupar o cargo é aquela pessoa, homem ou mulher, que encontre respaldo. Precisa ter um bom trâmite no movimento da cultura e ser conhecedor daquilo que faz", declara.

Não aos espertalhões - Músico, Raimundo Galvão, acredita que a categoria está mais organizada, com conselho e sindicato dos músicos, por exemplo. Essa força, na avaliação dele, dificulta a vida dos espertalhões.

“Penso que uma pessoa muito estranha ao seio artístico não terá boa aceitação em um primeiro momento”, comenta.

A escolha, em todo caso, como diz Vitor Samúdio, depende do Executivo, mas isso não impende uma movimentação.

Galvão está utilizando o Facebook para promover um debate. Nesta segunda-feira (17), o músico divulgou uma carta aberta ao futuro presidente da Fundac. No texto, ele deixa claro que artista não quer esmola, mas trabalho digno.

"É pra isso que existem os órgãos públicos de gerenciamento de cultura, como a Fundac, para trabalhar, fomentar as atividades culturais democraticamente e não ser assistencialista como muitos pensam ou querem. A Fundac têm que orquestrar projetos de cultura que gerem renda para os artistas e para toda sociedade, ininterruptamente. Queremos as praças cheias de artistas, as ruas, os bairros, todos os dias todas as horas", escreve.

O orçamento, que deu visibilidade à pasta, foi aprovado, mas, apesar disso, os recursos estão parados, informa o presidente do Fórum. “Com essa questão da cassação do prefeito, acabou meio que travando. As execuções de 2014 ainda não aconteceram. Quem vai entrar terá de assumir esse desafio”.

Na manhã desta quarta-feira, às 9 horas, o Fórum de Cultura realiza uma reunião extraordinária paea discutir o assunto.

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