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Artes

Com lápis de cor, tinta e até caneta bic, jovem desenha cores e rostos surreais

Paula Maciulevicius | 23/07/2014 07:19
Aos 19 anos, Alan Santos Silva decidiu homenagear os avós que o criaram assinando Alan Vilar. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Aos 19 anos, Alan Santos Silva decidiu homenagear os avós que o criaram assinando Alan Vilar. (Fotos: Arquivo Pessoal)

Nascido em Ivinhema, o menino que cresceu apaixonado por desenhos e que enchia o caderno da escola com as cores dos lápis de cor, hoje coleciona exposições em festivais. Aos 19 anos, Alan Santos Silva decidiu homenagear os avós que o criaram assinando Alan Vilar, sobrenome daqueles que exerceram a função de pais. Estudante de Engenharia Civil e considerado superdotado, ele põe no papel o colorido da vida, seja qual for o instrumento: lápis, giz, tinta e até caneta bic.

Os desenhos começaram num Alan ainda criança, que se destacava não pela qualidade, mas pela paixão de desenhar. Palavras do próprio artista. "Eu enchia meus cadernos de escola de desenho desde o primeiro ano de aula, desenhava tanto que nem prestava atenção nas aulas e reprovei no meu primeiro ano", confessa.

Depois disso, nunca mais deixou a lousa pelas telas e se dedicava por igual aos dois, mesmo que sem qualquer estímulo. Criado pelos avós depois que a mãe morreu quando ele só tinha nove dias, a família não acreditava que Alan pudesse ter futuro através da pintura, mas também nunca chegou a proibir. 

Aos 17 anos, o garoto entrou no NAAHS (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação), a porta que se abriu por indicação da escola estadual onde estudava, o levou a conhecer a arte do desenho na essência. Foi ali que ele se familiarizou com os materiais, a história da Arte e que tudo mudou. "Comecei aos poucos a ver o que eu queria e enxergar a arte com outros olhos. Vi que tinha sim futuro trabalhando com isso, e fui me destacando entre os demais", conta.

"Aculturação Indígena" - Tela trabalhada em lápis de cor tradicional e de neon.
"Aculturação Indígena" - Tela trabalhada em lápis de cor tradicional e de neon.

Entre as técnicas trabalhadas em papel A3, A4, A5 e telas, Alan já usou lápis de cor tradicional, de neon, giz pastel seco e oleoso, esmalte de unha, tinta acrílica, caneta bic e até tintas naturais feitas por ele mesmo a base de carvão, maracujá, beterraba e amora. A preferência sempre foi pelo colorido e por desenhar pessoas, especificamente rostos. Quando criança, sob influência do meio em que vivia - sítio - reproduzia cavalos, vacas e desenhava até no chão de terra.

Há quatro meses, ele deixou o trabalho na cantina da universidade onde estudava para se dedicar às Artes. Com o trabalho mais amadurecido, Alan passou a desenvolver obras ligadas à temas, como drogas, preconceito e a questão afro. "Sempre gostei de desenhar rostos femininos, acho que pela riqueza de detalhes do cabelo. Gosto muito de desenhar negra de cabelo enrolado, mas o que mais gosto de fazer é criar um desenho realista de pessoas", descreve.

A inspiração vem do próprio imaginário de Alan, por vezes chega através de traços vistos e recortados de fotos. Os retratos às vezes servem de base, mas o artista insiste em pontuar que nada é cópia. "Crio tudo em papel, hoje estou mais na questão do lápis de cor, técnica em que me considero com maior habilidade", analisa.

Alan e os avós maternos em uma das exposições.
Alan e os avós maternos em uma das exposições.

Ao trabalhar em temas, ele já preparou para exposição uma linha de pontos dentro do preconceito. "Coloquei três subtemas, negros, índios e gays", denomina. Um dos quadros chama "Aculturação Indígena", que representa a cultura deles sendo deixada de lado. "Em vez da gente transmitir, perdemos essa cultura. O índio deixa de ser o índio para se encaixar na cultura de hoje. É uma questão de perda cultural, de identidade e eu quis passar isso mesmo. De eles sere aprisionados a essa forma de viver, a essa nossa forma", explica Alan.

O interessante é que mesmo sendo um assunto tenso, ele não deixa de usar as cores vibrantes até como estratégia para chamar ainda mais atenção. No início do desenho, o artista até tentou trabalhar com tons mais sérios, mas não gostou. "Não era uma coisa que me chamava atenção, então decidi mudar as cores para mais reais, mais fortes". Aliás é esta a preferência genérica do jovem, de colorir a harmonia através da junção de muitas cores.

Considerado superdotado, como dito no início da reportagem, Alan Vilar é, acima de tudo, dotado de simplicidade. Ao ser questionado sobre qual é o seu estilo, ele não sabe, mas procura saber e chega até a ligar para a professora de Artes em busca de uma resposta que talvez só venha com o tempo.

"Nem eu sei exatamente qual é o estilo, nem ela sabe também. Não tenho um estilo só, passei por vários, mas os fortes são dois: figurativo e ela falou que posso chamar de surrealista, por fugir do real, misturar cores. Meu forte mesmo é essa questão da cor, mas eu não sei te dizer", conta tímido.

Não importa, por ora, o que se vê é um colorido que nos prende, desperta imaginação e nos faz querer levar um pouquinho do jovem artista para a sala de casa. Os contatos para encomendas de obras são 9203-6556 e alansantosengenharia@gmail.com.

Trabalho em tinta aquarela.
Trabalho em tinta aquarela.
Desenho feito com caneta bic.
Desenho feito com caneta bic.
Técnica de giz pastel seco.
Técnica de giz pastel seco.
Agora de giz pastel oleoso.
Agora de giz pastel oleoso.
E um dos estilos preferidos dele, de lápis de cor tradicional e de neon.
E um dos estilos preferidos dele, de lápis de cor tradicional e de neon.
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