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Artes

Com negativos da história se perdendo, Higa tenta salvar arquivo único de fotos

Paula Maciulevicius | 30/06/2016 07:55
No último edital negado, Higa apresentou a proposta de ter orientação profissional para restaurar e digitalizar negativos de 1968 até o final da década de 70. (Foto: Fernando Antunes)
No último edital negado, Higa apresentou a proposta de ter orientação profissional para restaurar e digitalizar negativos de 1968 até o final da década de 70. (Foto: Fernando Antunes)

A história de um Estado que começa antes mesmo dele virar dois. Cada fotografia que surge nas redes sociais ou reportagens sobre hoje Mato Grosso do Sul, tem uma só assinatura: Roberto Higa. Dono de um arquivo único, dividido entre redações, historiadores e apaixonados pela narrativa dessa região, os negativos que revelam em detalhes o que foi a nossa trajetória estão se perdendo. Parte deles, já foi. 

Fotógrafo, mestre, fotojornalista e mesmo com todos os títulos que Roberto Higa merece e exerce, ele teve a negativa do terceiro edital submetido ao FIC (Fundo de Investimentos Culturais), uma possível saída para digitalizar pelo menos o início de 48 anos de carreira.

"Aqui sempre saiu tudo dos meus custos. Nunca recebi patrocínio do Estado ou Prefeitura. Alguém deveria dar importância a esse tipo de coisa", questiona Higa, hoje com 64 anos. Na sala onde estão os negativos que já se foram, os armários mantém a sete chaves, 48 anos de fotografia. "De 1968 a 2016. Isso é a história de um Estado, da cidade", reforça. 

Com o tempo, o acetato do negativo perde a flexibilidade e o material "enrola". (Foto: Fernando Antunes)
Com o tempo, o acetato do negativo perde a flexibilidade e o material "enrola". (Foto: Fernando Antunes)

No balcão onde foi improvisado, na gambiarra uma forma de escanear as fotos, estão os negativos todos enrolados. Neles, o que restou foram lembranças dos registros do Projeto Pixinguinha, que circulou pelo País e veio a Campo Grande no final dos anos 70 e início de 80 trazendo os maiores nomes da nossa música.

"Trouxe Sivuca, Amelinha, Gonzaguinha, Gonzagão, Elba Ramalho... Não é de hoje que eu venho pedindo ajuda, olha como fica o negativo com o passar do tempo?", mostra. O fotógrafo explica que o acetato do material perde a flexibilidade e ele acaba ficando todo enrolado. O conhecimento de Higa está na fotografia e nem tanto no armazenamento dela.

"Eu não tenho conhecimento técnico disso. O que eu aprendi foi fotografar e aqui no Estado é tudo assim, Davi Cardoso tem uma sala, mas o que tem lá? Quais as condições? E o que ficou da Conceição dos Bugres?" Perguntas para as quais não se tem resposta.

No edital feito pela terceira vez, Higa apresentou a proposta de ter uma orientação profissional para salvar e digitalizar os arquivos dos negativos de 1968 até o final da década de 70. Aleatoriamente, abrindo gavetas, o que se encontra vão desde inauguração de posto de saúde, às mulheres mais belas do passado e até a primeira turma de Medicina do Estado levando trote.

Aleatoriamente, abrindo gavetas, se encontra de inauguração de posto até o trote da primeira turma de Medicina. (Foto: Fernando Antunes)
Aleatoriamente, abrindo gavetas, se encontra de inauguração de posto até o trote da primeira turma de Medicina. (Foto: Fernando Antunes)

O projeto submetido no edital do fundo previa R$ 60 mil para contratação de mão de obra que restaurasse e fizesse a digitalização. "Quando todo mundo precisa, bate aqui", puxa a orelha. Por mais que ele tente armanezar adequadamente, em plásticos e envelopes, os materiais vão se decompondo com os anos.

Outro receio de Higa é que depois de uma pancreative, aneurisma, dois AVC's e agora o Alzheimer, ele não deixe escrito quem são os personagens fotografados, momentos e locais.

"Eu não quero o dinheiro, pode pagar direto a pessoa que for fazer o trabalho. Isso aqui é a minha vida, são relíquias", ressalta.

Higa faz fotografia até hoje. Trabalha como fotojornalismo em dois empregos e quando pode, está sempre por aí a fotografar situações e cobrar do poder público uma solução.

"Eu conheço a história da cidade e das pessoas que vivem aqui não pelo tempo, mas como a gente vive, dentro. E eu vivi essa vida intensamente, não sei fazer outra coisa a não ser retrato". E a gente vai deixar perder as relíquias de Roberto Higa?

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E quando as fotografias que já fez lhe vem à memória, Higa solta gargalhadas lembrando de histórias. (Foto: Fernando Antunes)
E quando as fotografias que já fez lhe vem à memória, Higa solta gargalhadas lembrando de histórias. (Foto: Fernando Antunes)
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