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Artes

Do tempo que aqui não tinha rock, eles foram os primeiros a gravar fora

Paula Maciulevicius | 14/05/2014 07:00
Celito, Tetê, Geraldo e Alzira em foto da década de 70.
Celito, Tetê, Geraldo e Alzira em foto da década de 70.

De “LuzAzul” à “Tetê e o Lírio Selvagem”. A mudança de nome foi pedido da gravadora quando as cortinas dos palcos nos grandes centros se abriram para eles. Alzira, Celito, Geraldo e Tetê Espíndola têm na carreira o feito inédito, formavam a primeira banda com gravadora a mostrar, em 1979, que daqui também saía rock. E que hoje, 35 anos depois, voltam a apresentar o disco no Teatro Municipal de São Paulo para gravação de CD e DVD ao vivo.

Os irmãos já se apresentavam desde 1975 em Campo Grande e Cuiabá, com uma onda mais para o folk e releitura de vanguarda. Ao buscar espaço no eixo Rio-São Paulo, Celito e Tetê travaram uma batalha, primeiro em terras cariocas, onde passaram entre seis e oito meses, até chegar a São Paulo. Em cinco meses, a proposta veio e de uma das maiores gravadoras da época, a PolyGram, responsável por lançar os trabalhos de Chico Buarque Caetano e Gal Costa.

Celito explica que a gravadora queria ocupar o espaço nacional deixado pelo “Secos e Molhados”. “Com o rompimento do grupo, eles viram essa possibilidade, de colocar o Lírio nesse espaço que eles ocuparam tão bem e que nós ocupamos por um breve período”, destaca.

Com o sim da gravadora, Alzira e Geraldo subiram para São Paulo. A proposta da banda, segundo Celito, era fazer um pouco de ecologia e meio ambiente também numa questão visual. A troca do nome LuzAzul veio em consequência do reconhecimento da gravadora ao trabalho de Tetê. “Eles queriam que constasse o nome da Tetê puxando a banda, por conta de todos os diferenciais que ela apresentava. A gravadora já reconhecia ela como uma das maiores da música brasileira”, explica Celito.

A gravação, Celito recorda até hoje, foi feita nos estúdios da Gazeta, na avenida Paulista, em São Paulo, com a produção de Marcos Maynard e Roberto Menescal, que enxergaram o potencial dos irmãos. No repertório, boa parte das canções eram assinadas por Geraldo, o mais velho dos Espíndolas e quem tinha no momento, um trabalho autoral mais sólido.

Contrato assinado, Tetê e o Lírio Selvagem protagonizaram um dos primeiros clipes exibidos no Fantástico em 1978, da música “Bem-te-vi”, além de muitos programas de televisão e participações em rádios de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e por aí vai.

Hoje, 35 anos depois eles voltam a apresentar o disco na Virada Cultural de São Paulo, dentro do projeto de refazer grandes trabalhos da música popular brasileira, “Álbuns Clássicos no Municipal”. O show é sábado, dia 17, às 21h no Teatro Municipal. No repertório, todas as músicas que compunham o primeiro LP, entre elas “É necessário”, “Rio de Luar”, “Voos Claros”, “Bem-te-vi” e “Santa Branca”.

“Vai ser o mesmo, as mesmas músicas, todas aquelas do “Tetê e o Lírio”. Será um show lindo, com cenário e figurino e vamos usar todos os lugares do teatro. Será memorável”, diz Geraldo e, mais que isso, emocionante.

Do tempo que aqui não tinha rock, eles foram os primeiros a gravar fora

A capa que trazia os artistas com roupas de malha pintadas a mão, nas cores e com a exuberante paisagem pantaneira será detalhe da noite. “Vamos relembrar aquelas malhas, até porque, todo mundo está bem diferente hoje”, brinca Geraldo. Toda produção é assinada pela LuzAzul, produtora de Tetê Espíndola. A banda a acompanhar os Espíndolas no palco será dirigida por Dani Black, filho de Tetê.

Se hoje a relação entre arte e mercado não caminham juntas, 35 anos atrás, o abismo era bem maior. “Tetê e o Lírio Selvagem” gravaram apenas as 12 faixas do LP.

“O descompasso entre o que é arte e o que é mercado nos colocou de lados diferentes em relação aos projetos da gravadora, principalmente se você entender que éramos quatro meninos muito jovens, vindos de um estado desconhecido que não tinha retaguarda de mercado interno local para contrabalancear com desejos da gravadora no que se queria para a nossa obra, explica Celito sobre o que acabou minando os projetos de outros discos. “Nós viemos embora e as meninas ficaram para sempre”, completa.

O começo de tudo foi ali. De um Mato Grosso desconhecido para uma gravadora do leste. O espaço nacional aberto por eles não tinha sido ocupado por ninguém da região.

Depois de tantos anos, o feito da época ainda é inédito no estilo musical. Com o distanciamento dos anos, Celito avalia que a banda usou o disco para lançar a pedra fundamental. “Tudo o que está acontecendo hoje na música de Mato Grosso do Sul, nunca houve na história de Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, antes do Lírio, um trabalho de expressão e repercussão nacional que tivesse essa abordagem, esse viés que misturasse a coisa do sertanejo, a música contemporânea. Essa mistura que se vê hoje na nossa música. O Lírio foi o primeiro jogou a semente no chão e é isso”.

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