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Artes

Herança do ferroviário chamado Severino: um papagaio e 3 jabutis

Lenilde Ramos | 17/05/2015 08:23
Severino e Maria Severina na casa de Aquidauana, em foto do primo Wesley (Pantanero Memo).
Severino e Maria Severina na casa de Aquidauana, em foto do primo Wesley (Pantanero Memo).

Severinos fazem parte da constelação pernambucana de minha família. Meu pai é o primeiro, depois vem o Severino de Aquidauana, sem falar no Severino "cabeça de onça" de Corumbá, todos ferroviários.

Este Severino da foto era da mesma cidade de meu pai, Vitória de Santo Antão, próxima a Olinda e seu sobrenome eram dois nomes: Manoel Francisco, não sei o porquê. Ele se casou com minha prima Maria Severina e, a convite de meu pai, veio com a mulher e a filha Zefinha tentar a sorte na Estrada de Ferro.

Chegou no ano em que nasci, 1952 e foi morar em Porto Esperança. Imagine a diferença que foi sair do Nordeste pra cair nas águas do Pantanal. Passávamos as férias com eles, na casa ao lado da grande ponte do Rio Paraguai, a caminho de Corumbá.

Depois de uns anos, Severino foi morar em Aquidauana, numa casa dentro da estação, a poucos metros dos trilhos. Era uma aventura acompanhar o movimento dos trens de passageiros e trens de carga que transitavam dia e noite fazendo manobras.

Com a partida prematura de minha mãe, Severino e Maria Severina tornaram-se pai e mãe para mim e, nas férias, a casa deles era a minha casa.

Que delícia de lugar, com pés de manga, laranja, banana, goiaba, limão e canela. Galinhas, cachorros, gatos, papagaio e jabutis nunca faltaram, como também nunca faltou carinho!

Depois de Zefinha veio também a prima Nilza Maria. Severino trabalhou a vida inteira no serviço pesado consertando trilhos, trocando dormentes, de turma em turma, em trens de carga e trolleys, aqueles carrinhos abertos que deslizavam como pranchas na linha férrea.

Com o pouco salário que ganhava, Severino construiu duas casas boas, sempre teve mesa farta e proporcionou qualidade de vida à sua família. Ele é de 14 de maio, junto com meu pai. Era uma delícia nos almoços de aniversário e de Natal, ver Severino rodeado da família e dos amigos e acompanhar as prosas dos velhos ferroviários.

Era uma delícia andar com ele, algumas vezes de Aquidauana a Anastácio, pra comprar o melhor charque e a melhor farinha com os conterrâneos pernambucanos.

Dele e de Maria Severina herdei lembranças, o costume de temperar a comida com coentro e cominho, um papagaio que já passou dos 30 anos e três jabutis que fazem parte de uma geração nascida no quintal da casa de Aquidauana, que sempre terá um lugar especial no meu coração. Viva Severino!

*Lenilde Ramos é autora do livro "História sem Nome", que reúne vários momentos que viveu e se confundem com a história de Mato Grosso do Sul.

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