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Artes

Monólogo surpreende ao narrar o fim de um grande amor e reviver memórias

Paula Maciulevicius | 07/02/2015 07:36
O monólogo "Um gole e um trago" é apresentado neste sábado e domingo. (Foto: Helton Pérez)
O monólogo "Um gole e um trago" é apresentado neste sábado e domingo. (Foto: Helton Pérez)

"Nos encontramos numa livraria próxima a um café. O primeiro abraço foi a segunda vez que eu encontrei casa". Um homem juntando numa caixa de papelão suas coisas para se mudar. São os últimos 60 minutos no apartamento onde viveu um grande amor que também será encaixotado. O que o levou para ali, desde o nascimento no "Baxio dos doidos", até o fim do relacionamento são descritos por Begèt de Lucena. Músico, agora ator, é a própria vida que ele representa no palco.

O monólogo "Um gole e um trago" é apresentado neste sábado e domingo, às 20h, no Merd, Mínimo Espaço de Representação Dramática, sede do Grupo Casa, no bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande. Enquanto prepara um café, Begèt revive memórias e recolhe, junto aos pertences, pedaços de si mesmo. É um homem de mudança, que deixa para trás sonhos de uma vida para levar só o que lhe pertence.

Enquanto prepara um café, Begèt revive memórias. (Foto: Helton Pérez)
Enquanto prepara um café, Begèt revive memórias. (Foto: Helton Pérez)

Escrito por ele, o texto final tem a mão de Fernando Lopes Lima, um dos diretores da peça. A produção é dos grupos Casa e Fulano di Tal. Com elementos de Clarice Lispector, Samuel Beckett e padre Antônio Vieira, o ator tenta entender o porquê das coisas de hoje, espiando o passado.

Contemplado pelo Prêmio Rubens Corrêa de Teatro 2014, iluminação, texto e cenário adentram o público na história. O teatro de bolso, com capacidade máxima para 20 pessoas, também permite uma apresentação mais intimista. Não tem como se sentar e ser mero expectador. Enquanto Begèt revive em 60 minutos sua trajetória no caminho do amor, a gente vai junto e se enxerga em cena.

"Um homem só leva da vida histórias vividas. Este é um bom ponto para começarmos". Nas frases soltas do início, o ator já dá o tom da peça. Emoções desenroladas em palavras. Contextos diferentes, ora amor, ora abandono, mas sempre saudade que parecem estar falando de você ou para você. E é justamente o que o monólogo quer passar.

"O que a gente quer mesmo alcançar é esse inconsciente coletivo, universalizar uma história", explica Begèt. Foi de um musical protagonizado por ele anteriormente que surgiu o convite para a peça um ano atrás. Nos últimos meses, os ensaios se intensificaram e Begèt chegou a se mudar para o Grupo Casa a fim de se apropriar do espaço que seria sua casa em todos os dias de apresentação. 

"É bastante desafiador você ter que encenar, desvencilhar de si próprio, mostrar outro personagem", comenta Begèt. Embora seja ele mesmo no palco, há elementos que vem da visão dos três diretores.

A história resgata desde o nascimento do personagem em Timorante, conhecido por "Baixio dos Doidos", distrito de Exu, cidade de Luiz Gonzaga, no interior de Pernambuco. Sua relação com a mãe, a avó doce para todos, até Ferreirinha, o padrasto morto com 14 tiros e enterrado como indigente.

Tudo vem à tona talvez para explicar que amor é este que ele vive e agora deixa para trás. "Durante esse processo, reassisti ao filme de Luiz Gonzaga e no final tem uma citação dele que veio a calhar, ele diz o seguinte: 'quando um homem perde um grande amor, ele passa a espiar o passado, a olhar para trás' e é basicamente isso".

Peça tem direção dos grupos Coletivos, Fulano di Tal e Casa. (Foto: Helton Pérez)
Peça tem direção dos grupos Coletivos, Fulano di Tal e Casa. (Foto: Helton Pérez)

Ao servir o café para si, o personagem por costume, saudade ou esperança de que alguém bata à porta, serve também uma xícara que ninguém toma. Assim como na vida, ele adoça a bebida a mais. "Eu sempre encho, adoço demais os meus amores".

Em certas cenas, o personagem interrompe os pensamentos para pontuar as horas, ou então o significado de amor. A origem e o que a teoria tem a dizer, bem diferente da prática. "A peça fala de tempo o tempo todo. Fala do tempo de criança, do tempo recente, é mais uma brincadeira da dramaturgia".

As horas batem com os ponteiros que o relógio da parede do apartamento marcam, dando a quem assiste a impressão de que aquilo está acontecendo em tempo real. "Nesses pontos que a gente percebe o teatro, é uma história de vida, todo mundo já viveu aquilo ou chegou muito perto daquilo".

Às 9h05 da noite o interfone toca, uma entrega chega à porta. A carta de quem fica ou de quem já foi descreve um "eu sem você". São palavras de despedida de quem não esteve em cena, mas já foi protagonista de muitas histórias. "Cadê aquela vida que você viveu?"

Apresentação - "Um gole e um trago" será apresentado neste sábado e domingo, no Merd, na Rua Mar das Caraíbas, 8, bairro Chácara Cachoeira. Os ingressos já estão quase esgotados, mas podem ser reservados pelos telefones 8185-9774 e 3326-0222. As entradas custam R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 a meia. Uma segunda temporada já está prevista, nos dias 18 a 22 de fevereiro.

Enquanto Begèt revive em 60 minutos sua trajetória no caminho do amor, a gente vai junto e se enxerga em cena. (Foto: Helton Pérez)
Enquanto Begèt revive em 60 minutos sua trajetória no caminho do amor, a gente vai junto e se enxerga em cena. (Foto: Helton Pérez)
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