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Artes

No mesmo hotel onde expõe há 40 anos, Ilton Silva procura compradores para série

Paula Maciulevicius | 19/10/2016 06:25
No saguão do hotel, Ilton Silva abre suas obras procurando compradores. (Foto: Alcides Neto)
No saguão do hotel, Ilton Silva abre suas obras procurando compradores. (Foto: Alcides Neto)

Há uma semana em Campo Grande, Ilton Silva trouxe na bagagem sua série mais famosa, "Cores e Mitos". A casa mesmo ficou em Santa Catarina, na cidade de Itapoá, onde ele mantém o ateliê e a moradia junto de quatro filhos. Com um quarto cedido no Hotel União, Ilton que dispensa apresentações, procura mais que compradores para suas obras, quer amigos.

"Tenho estúdio e fico lá e aqui. Neste local, eu exponho há 40 anos", resume. Ilton está com 73 anos, mas prefere dizer que completa 74 em fevereiro, mesmo que ainda faltem quatro meses. A sala ao lado está lotada e é num quartinho lá em cima que ele está a dormir e a pintar. Por enquanto, são sete obras prontas, todas de "Cores e Mitos". 

"Meu interesse é vender, senão vendo, não como, não pinto, não faço mais nada", argumenta. Em Santa Catarina está a terceira geração de Conceição dos Bugres. Entre os filhos de Ilton, um deles também é pintor e cantor. 

Na calçada da Calógeras, por vezes ele fica batendo papo e olhando para os trilhos. (Foto: Alcides Neto)
Na calçada da Calógeras, por vezes ele fica batendo papo e olhando para os trilhos. (Foto: Alcides Neto)

"Eu viajo bastante, em São Paulo, Rio de Janeiro... Sou meio cigano assim, mas é porque é preciso", se justifica. Na Capital, as obras para as quais ele procura compradores, são vendidas bem abaixo do valor de mercado. "Essa aqui está num preço especial, de R$ 1,5 mil. Bem abaixo, porque como eu vendo mais para os meus amigos", explica.

As telas são deste ano, mas carregam consigo todo um saudosismo. "Sempre pintei neste hotel. Há 40 anos, quando eu morava e tinha casa em Campo Grande, eu vinha pintar aqui, sabe por que? Porque em 1953 eu desci nessa estação, vindo de Ponta Porã. Passei por esse trilho que está ali, aqui não tinha nada, era só barro e charrete", descreve o que lhe vem à memória. 

Entre idas e vindas de Campo Grande a Ponta Porã, foi no cultivo de ervas, tendo as mulheres em sua maioria paraguaias e benzedeiras, como inspiração, é que nasceu a série. "Minha mãe era uma das benzedeiras. Ela botava aquelas crianças no colo e benzia. As pessoas dizem que eu tenho anticorpos, mas na verdade é que naquela época a gente desenvolvia mais fé, porque não tinha doutor", volta ao passado.

"Era assim que a gente vivia. No terreiro, não se bate erva, se "cancha" ela para ensacar. Então eu varria aquele terreiro, aquela areia toda e aí que comecei a desenhar com uma vara e fazia aquelas mulheres e crianças", conta o artista. Na escola, a brincadeira era no quadro negro e giz. 

"Ali eu já comecei a desenhar. Aquelas trabalhadoras da erva mate pegavam as criancinhas no colo e parecia que o amor que elas tinham era tão grande, que saravam", completa. De "Cores e Mitos", Ilton passou para outras séries, como "Peão" e "Natureza Viva". "Com o tempo vão entrando novos personagens. A gente não fica parado e não acaba nunca", ressalta.

Da série "Cores e Mitos" (Foto: Alcides Neto)
Da série "Cores e Mitos" (Foto: Alcides Neto)
Todas as obras são de 2016 (Foto: Alcides Neto)
Todas as obras são de 2016 (Foto: Alcides Neto)
E custam a partir de R$ 1,5 mil. (Foto: Alcides Neto)
E custam a partir de R$ 1,5 mil. (Foto: Alcides Neto)

Das viagens que fez pelo mundo, Ilton brinca que nunca achou arte melhor a sua, genuinamente sul-mato-grossense. "Cheguei a essa conclusão, de que minha pintura é melhor que a deles. É difícil a gente se promover, mas senão for a gente, quem é que vai falar bem de você?" brinca. 

A ideia de vender abaixo do mercado é pela necessidade e também porque assim, os amigos para os quais ele não pode dar as obras, conseguem comprar. "No mínimo vende uma obra assim por R$ 3 mil, no mínimo. Mas eu não concorro com marchand", enfatiza.  

Sobre estar vivendo tempos difíceis, Ilton não nega. "Está um pouco difícil para mim, mas minha vida sempre foi essa. Eu não estranho a vida de artista, é normal, já está aclimatado nisso aí, a arte não é muito valorizada, primeiro é o arroz e feijão, depois o resto e a arte, mas eu concordo, é assim mesmo", desabafa. 

Se está lhe faltando algo, Ilton diz que não. "Graças a Deus não, o principal da gente é alimentação e isso a gente tem. Dá pra viver, mas não sobra nada; Mas não tem problema não...

Uma tela dessa eu posso vender por 50 réis ou 1 milhão de dólares, porque obra de arte não tem preço. Cada obra é uma, se você gostar dessa tela aí, só tem ela. Ninguém vai mais ter, igual? Não existe e é aí que está o valor da singularidade da obra, como nós", recita.

Ilton Silva está direto no Hotel União, na Avenida Calógeras, n° 2828. Os celulares dele são: (67) 9-8171-7026 e (47) 9640-1710.

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