ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 24º

Artes

O engenheiro que virou professor de Física e agora encanta com fotografias

Elverson Cardozo | 09/01/2013 09:10
A beleza da libélula flagrada por Valter Patrial.
A beleza da libélula flagrada por Valter Patrial.

De luz, velocidade, tempo e outros assuntos relacionados às leis da física ele entendia tão bem que até dava aula. Compreender os mecanismos de uma câmera fotográfica, a maneira correta de captar movimentos, as regras de enquadramento, exposições, a luz e a arte de desenhar com ela, no claro ou escuro, foi mais simples do que imaginava.

Engenheiro Civil, o paranaense Valter Patrial Junior, de 42 anos, radicado em Campo Grande, nunca exerceu a profissão que dá nome ao curso. Desde o tempo da faculdade, que cursou em São Paulo, ministrava aulas de física para complementar a renda.

O envolvimento foi tanto que o diploma ficou de lado e a física, por necessidade ou gosto, assumiu a primeira posição na lista de prioridades. Mas a paixão sempre foi a fotografia, um sonho antigo, inalcançável à época em que descobriu o fascínio que um belo registro pode proporcionar.

Mas o destino deu uma força. Há cerca de 9 anos, no meio das bagunças e mudanças do pai ele encontrou uma Zenit 122 - máquina fotográfica manual, analógica, semi-profissional, que viria a ser a primeira de sua coleção particular.

Foi com ela que Valter aprendeu os primeiros cliques. Tirou “leite de pedra”, como diz o ditado popular. Com o equipamento que mede a intensidade de luz estragado – fotômetro -, o jeito era apelar para o “olhômetro” e para os ensinamentos que a física proporcionou.

Valter Patrial se dedica à macrofotografia. (Foto: Luciano Muta)
Valter Patrial se dedica à macrofotografia. (Foto: Luciano Muta)

“Tirava foto e anotava os dados que via no ambiente: hora, tipo de luz, por exemplo. Quando revelava eu comparava”, contou.

A dificuldade e a vontade de aprender fizeram do professor de física, engenheiro formado, um fotógrafo de excelência, elogiado por profissionais experientes, que atuam no ramo há anos.

O reconhecimento veio com o tempo. Valter tem trabalhos publicados nas principais revistas do país, como a Fotografe, Digital Photographer e até na National Geographic, publicação americana com foco em assuntos que passeiam pela geografia, história e natureza.

Com vasto portfólio, uma time de admiradores e criatividade de sobra, Valter realizou seu primeiro workshop recentemente, a convite, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

O sucesso foi tanto que o fotógrafo, que continua a dar aulas de física, já tem outras três viagens agendadas. Apesar disso, ele não pretende abandonar as salas de aula, mas garante que agora, depois de muito trabalho, consegue perceber retorno financeiro com o hobby que acabou virando a segunda profissão.

Detalhes – O paranaense se especializou em macrografia, ramo da fotografia voltado a pequenos seres/objetos e que ressalta detalhes muitas vezes invisíveis a olho nu. O foco é a natureza, os pequenos seres.

Mato Grosso do Sul é um cenário que inspira. Uma terra onde a beleza, que está por toda parte, merece ser destacada, pontuou. “Eu não procuro inventar nada. A natureza já inventa. Eu só procuro registrar”.

Primeira foto de Valter Patrial publicada na National Geographic.
Primeira foto de Valter Patrial publicada na National Geographic.

E registra com primor. O controle do obturador, do diafragma, da velocidade com que a luz entra e é captada pela câmera, da sensibilidade à lente e os equipamentos escolhidos, passando pelo enquadramento e incidência de luz, fazem os detalhes, nas fotografias de Valter, saltarem aos olhos.

É junção de técnica e sensibilidade, indispensável a qualquer um que queira viver da fotografia e preze pelo ofício. Escolher a imagem mais bela é missão quase impossível diante de tanta beleza. Nem ele consegue eleger preferida.

O registro de uma pequena aranha, no Parque Itanhangá, região central de Campo Grande, rendeu a primeira publicação na National Geographic. Mas pudera. Os detalhes do inseto, que tem cerca de 5 milímetros, são impressionantes.

“Após o primeiro disparo do flash, na primeira tentativa de fotografar, ela se encolheu, talvez como forma de defesa”, relembrou.

O flagra de uma libélula em pleno vôo chega a ser intrigante, tamanha perfeição. O desenho das finas asas e o colorido da cabeça lembra desenho feito à mão, mas não é.

A beleza do marimbondo flagrado pelas lentes. (Foto: Valter Patrial)
A beleza do marimbondo flagrado pelas lentes. (Foto: Valter Patrial)

Outra, em cima de sua teia molhada de orvalho, parece nem ter notado o disparo e, sem querer, fez contraste com o fundo verde da vegetação.

Até a mosca, que costuma causar repulsa, conseguiu ficar bonita. O olhar, vermelho feito fogo, ganhou destaque, mas a atenção também se volta à beleza listrada do pequeno corpo. A barata, que geralmente é pisoteada, estava com as “antenas” em pé, atenta, e o olhar mesclado em verde e azul.

As leves e coloridas borboletas foram clicadas em plena liberdade, como as abelhas, “congeladas” no auge de suas formas.

É da natureza, do mato, da paixão pela fotografia e pelos pequenos seres vivos, que vem a inspiração, mas o olhar de Valter também já se voltou às questões sociais e à magnitude do espaço que dividimos.

A aranha na teia cheia de orvalho. (Foto: Valter Patrial)
A aranha na teia cheia de orvalho. (Foto: Valter Patrial)

Um vendedor de carvão, de aparência sofrida, cansada, marcada pelo tempo, foi parar em uma das revistas mais famosas do mundo, mas não chegou a ver o próprio rosto.

“O dia que eu pedi para tirar para tirar uma foto dele ele falou: ‘Nunca ninguém tirou um retrato meu’. Eu falei que se a fosse publicada eu iria levar para ele, mas quando eu fui descobri que ele morreu”, contou.

O vendedor de carvão que foi parar na National Geographic. (Foto: Valter Patrial)
O vendedor de carvão que foi parar na National Geographic. (Foto: Valter Patrial)
Flagra no meio da rua: O "jeitinho brasileiro". (Foto: Valter Patrial)
Flagra no meio da rua: O "jeitinho brasileiro". (Foto: Valter Patrial)

Na mesma página, o registro curioso de uma bicicleta sendo transportada em cima de uma moto é a prova de que o “jeito brasileiro” nunca vai cair de moda, mesmo quando o risco é maior. A oportunidade surgiu em uma manhã, no retorno de um passeio fotográfico. Valter, com o olhar atento, esperou o melhor momento e clicou.

“Tive paciência em esperar mantendo distância. Dessa forma eu não perco a espontaneidade das pessoas”, explicou.
Os registros do engenheiro que virou professor de física e se tornou fotógrafo não deixam dúvidas de que a beleza mora no detalhe. Neste caso, o clichê não pode ser dispensado: “Uma imagem pode valer mais que mil palavras”.

“Uma imagem tem que falar mais que mil palavras. Se falar só mil acabou”, ressaltou o fotógrafo.

Tire suas próprias conclusões. O Lado B preparou uma galeria com algumas fotos de Valter Patrial.

Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
Nos siga no Google Notícias