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Artes

Pela arte, batalha de poesia conecta jovens a uma realidade devastadora

Abuso da polícia, sofrimento indígena e discriminação contra mulher são denunciados em versos

Thailla Torres | 11/06/2017 07:15
Problemas sociais são os principais temas para os versos que surgem na batalha. (Foto: Alcides Neto)
Problemas sociais são os principais temas para os versos que surgem na batalha. (Foto: Alcides Neto)

Um novo jeito de fazer poesia, dessa vez, nas ruas. É assim que jovens de Campo Grande decidiram se unir, com a ideia de levar a poesia a pessoas que geralmente não tem contato com ela. No projeto Slam Campão, que aconteceu pela primeira vez, a batalha de poesias surge como chance de conhecer os problemas do mundo e provar que a arte literária não pertence só a elite.

Como o evento é aberto ao público, todo mundo pode participar. Na Orla Ferroviária, a maioria, jovens entre 16 e 25 anos, foi chegando com ideias e textos autorais que são apresentados no máximo em três minutos. De premiação, teve obra de arte, bolsa artesanal, camiseta e um chinelo de estampa "Fora Temer".

Luiz denunciou na poesia o preconceito e violência por parte da polícia. (Foto: Alcides Neto)
Luiz denunciou na poesia o preconceito e violência por parte da polícia. (Foto: Alcides Neto)

Um dos organizadores, Thales Henrique da Silva, de 21 anos, explica que a ideia é colocar a poesia na rua de um jeito diferente. "No começo gerou algumas dúvidas, porque muita gente reage de um jeito estranho quando se fala em poema. Mas a galera vai aceitando por que é aberto e para todo mundo. E eles chegam aqui com um conteúdo muito massa".

Com cara de movimento, o local recebeu cartazes grafitados e frases espalhadas pelos vagões, que transformaram o espaço em um palco para as poesias declamadas no microfone, e tudo, sem a permissão de adereços ou trilha sonora.

Longe dos romances, o que sai da cabeça da meninada tem muito mais a ver com a dura realidade brasileira. A maioria denuncia em versos o abuso de poder, a discriminação e a gritante desigualdade social do País.

O músico, Luiz Goes, de 24 anos, escreve poesia desde criança. Ele chegou ao evento com tudo decorado, entre elas, poesias que falam das tensões sociais vividas por ele e principalmente os amigos. "Quero falar de todo o enfrentamento que gente vive, como abuso de poder da polícia e racismo. Acho que muita gente é afetado por isso", afirma.

Daniele luta contra discriminação as mulheres negras. (Foto: Alcides Neto)
Daniele luta contra discriminação as mulheres negras. (Foto: Alcides Neto)

Como quem apanha nunca esquece, Luiz busca representar amigos e tantos outros jovens que são marginalizados pela polícia, em decorrência do estilo ou da cor da pele. "A polícia é muito racista e preconceituosa. Por que a cara do suspeito eles já sabem qual é, como sempre dizem. Então venho fazer poesia porque a gente não está nada confortável de ficar num espaço público sabendo das abordagens que são feitas por conta do nosso estilo, cabelo e principalmente cor da pele. Enquanto isso acontece, a gente vê as taxas diminuindo só para a elite, enquanto negros morrem cada vez mais", lamenta.

Na linha de frente de movimentos sociais, Daniele Almeida, de 22 anos, reservou três de suas poesias para a competição. Mais do que o prêmio, ela quer representar através da sua arte a mulher negra, da periferia e que precisa lutar todo dia por respeito. "Porque foi precisando dele que eu entrei para o movimento. Essa poética é bacana por conta disso, porque se a gente depender da burguesia, nunca vamos ter esse espaço", acredita.

Um dos poemas ela trouxe em sinal de manifesto, a favor da luta indígena no Estado. "Apesar da gente estar numa cena mais aberta, muita gente ainda não entende a importância dessa luta. Não compreende que tem latifundiário matando índio todo dia, que tem povo morrendo de fome e sem casa para morar", desabafa.

À direito, Tess acredita que é chance de levar literatura para às ruas. (Foto: Alcides Neto)
À direito, Tess acredita que é chance de levar literatura para às ruas. (Foto: Alcides Neto)

Tess Ornevo, de 24 anos, ficou curiosa e foi entender como funciona o projeto. "Acho que só o movimento em si já é importante para a ocupação do espaço público. Sou atriz e trabalho com teatro, então a Literatura é muito forte na minha vida e ver um movimento que busca dar valorização ao que se produz aqui é bem importante. Por isso a gente ficou curioso e veio assistir, afinal isso geralmente é muito elitizado", pontua.

Já a estudante Brenda Agnes, de 17 anos, viu o evento como uma chance de interpretar questões sociais que fazem parte do dia a dia. "Nos traz uma reflexão tanto quanto a música, porque rola uma interpretação por parte dos poetas, é como se a gente sentisse junto com eles tudo que acontece no mundo", finaliza.

A segunda edição ainda não tem data marcada, mas quem quiser acompanhar a programação, pode seguir a página do Slam no Facebook.

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Sem música e nem adereços, poesias são apenas declamadas no microfone. (Foto: Alcides Neto)
Sem música e nem adereços, poesias são apenas declamadas no microfone. (Foto: Alcides Neto)
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